29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Amigo Temer disse que presidente sabia do pacote de R$ 10 milhões de Padilha

Advogado José Yunes prestou depoimento à Procuradoria Geral da República

O advogado José Yunes, amigo pessoal do presidente Michel Temer há mais de 40 anos, afirmou em entrevista à coluna do jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, que o peemedebista sabia desde 2014 sobre o pedido do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, para que recebesse um “pacote” em seu escritório, entregue pelo doleiro Lúcio Funaro, operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Contei tudo ao presidente em 2014. O meu amigo (Temer) sabe que é verdade isso”, afirmou o ex-assessor especial de Temer à coluna.

De acordo com Yunes, o presidente não falou com Padilha sobre o assunto e teria reagido com serenidade ao tomar conhecimento do fato. “Eu decidi contar tudo a ele [Temer] porque, em 2014, quando aconteceu o episódio, eu entrei no Google e vi quem era o Funaro, fiquei espantado com o currículo dele”, justificou o advogado.

Em delação premiada ao Ministério Público, Claudio Melo disse que enviou dinheiro vivo ao escritório de Yunes, a pedido de Padilha, e afirmou ter acertado repasse de R$ 10 milhões ao PMDB. Desse total, R$ 4 milhões ficariam sob responsabilidade de Padilha. O ex-diretor da empreiteira contou que um dos pagamentos foi feito na sede do escritório de advocacia de Yunes, no Jardim Europa, em São Paulo.

“Lamaçal”- Em entrevista aos jornalistas Ricardo Boechat e Mônica Bergamo, na BandNews, Yunes disse que está disposto a fazer acareação com Cláudio Melo e com o próprio Padilha. “Eu deixei bem claro à Procuradoria que eu quero apuração rigorosa dos fatos”. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, tirou licença do governo, nessa quinta-feira (23), alegando problemas de saúde. Ele deve fazer uma cirurgia em Porto Alegre, onde tem residência, neste fim de semana para retirar a próstata. Ele reiterou que não sabe o que havia dentro do pacote.

Yunes, que era assessor especial do presidente pediu demissão no dia 12 de dezembro de 2016, após ser citado em delação do ex-executivo da Odebrecht.  Por meio de uma carta, ele disse que seu nome foi jogado no “lamaçal de abjeta delação”, que “foi enxovalhado por irresponsáveis denúncias” e criticou a “fantasiosa alegação, pela qual teria eu recebido parcela de recursos financeiros em espécie”.

O advogado disse que se encontrou ontem com Temer para relatar o que havia dito, de maneira espontânea, à Procuradoria-Geral da República. “Com o presidente Temer eu dei os detalhes não só do que aconteceu, do ocorrido, mas também do meu depoimento junto à Procuradoria”, afirmou à BandNews. Segundo ele, Temer lhe pediu que “falasse a verdade” sobre os fatos à Justiça. O presidente ainda não se manifestou publicamente sobre o assunto.