19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Cotidiano

Artigo: A hipocrisia presente nos grandes lares da capital alagoana

“Acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz”.

Por Arthur Lira*

A sociedade alagoana, historicamente colonial, patriarcal e exploradora, vivenciou nos últimos anos pequenas rupturas que aos poucos vem destruindo alguns aspectos característicos da nossa herança coronelista.  Os avanços promovidos pelas políticas públicas iniciadas no inicio do governo petista, através dos programas sociais e valorização do salário mínimo, geraram conflitos na classe dominante que comanda nossa sociedade desde seu surgimento.ideologia de genero

Mesmo após garantir publicamente o seu não “radicalismo” à esquerda, na carta lulinha paz e amor, o então candidato Luís Inácio Lula da Silva sofreu vários ataques pela oposição por seu critério ideológico. Contudo, sua gestão demonstrou fidelidade aos interesses populares e garantiu diversos direitos aos trabalhadores e a condução democrática do país.

Através dessa ascensão das políticas públicas no inicio do século XXI, algumas temáticas ganharam destaque nos debates nacionais. Entre elas, a necessidade de execução dos planos de educação previstos na constituição em que torna a educação um projeto de nação, legitimando metas e estratégias a serem cumpridas independentes da gestão administrativa.

Em Alagoas, cabe a discussão democrática para a elaboração do PEE (Plano Estadual de Educação) e do PME (Plano Municipal de Educação) de cada munícipio. Contudo, foi através de uma FALSA cartilha pornográfica divulgada nacionalmente que a polêmica começou. Cartilha essa que a polícia federal abriu inquérito para apurar os fatos acerca da falsidade ideológica com a logomarca do MEC.

Os planos de educação que trabalham entre suas inúmeras metas e diretrizes, as questões de gênero e sexualidade com intuito de promover debates e esclarecimentos que promovam a IGUALDADE de gênero na sociedade. Não é admissível em pleno século XXI, homossexuais, gays, lésbicas, transexuais e outras minorias de sejam tratados de forma exclusiva no ambiente escolar. Não é possível aceitar a violação dessas pessoas em nossa sociedade, muito menos em nossas escolas. A evasão escolar por causa do gênero cresce a cada dia em quanto uma grande parcela da população civil está preocupada em censurar o termo gênero dos planos de educação.

Em Maceió, capital alagoana, a disputa entre os movimentos sociais em defesa do plano e os conservadores guiados pelo movimento “Brasil Livre”, Igreja Católica e Evangélica segue um fortíssimo debate com tom de rivalidade superior ao clássico CRB x CSA.  A desinformação e a má-fé atuam de mãos dadas, como nos moldes fascistas, com intuito de travar a implantação do plano e brecar a discussão de gênero nas escolas.

A capital com os piores índices educacionais do país, com mais de 75 mil jovens fora da sala de aula, com o pior IDI entre as capitais, ou seja, intrinsecamente dependente do PME. Contudo, é lamentável que um debate tão amplo acabe sendo restrito apenas a uma temática.

Na câmara dos vereadores de Maceió, aconteceram duas audiências públicas que deveriam tratar do plano, o que não aconteceu, o debate foi restrito apenas a questão de gênero. Desinformação, desconhecimento científico sobre o tema, opiniões grotescas e visões de mundo do período da inquisição marcaram os debates. Destaco a presença do deputado Carimbão, que em sua fala, disse não representar a sociedade alagoana, apenas os grupos ligados à igreja católica.

É preciso investigar quem está por trás disso tudo. Ressalto uma análise do blog diversidade, da gazeta web, “No estado de Alagoas, há uma movimentação institucionalizada que se diz guardiã “da moral e dos bons costumes das famílias de bem, que na verdade, buscam confundir a sociedade divulgando cartilhas falsas como materiais didáticos impostos pelo governo federal, entre outros materiais que deturpam a realidade”.

Em defesa da família patriarcal, contra a igualdade de gênero e a compreensão da diversidade, os conservadores alagoanos parecem-me isentos de familiares ligados ás minorias.  Ou pior, como em alguns casos concretos e do conhecimento da sociedade civil, pessoas envolvidas em escândalos de PEDOFILIA, ESTUPRO, RELAÇÕES HOMOAFETIVAS, entre outros atos que não condizem com o que pregam.

É inadmissível defensor da família e dos bons costumes serem acusados de abusos contra menores. Tampouco pessoas (algumas) ligadas à igreja que detém sua sexualidade incubada defendendo conceitos que não vão de encontro as suas opções sexuais.  Além disso, lideranças católicas que nos bastidores adere nomes de artistas famosos, agora, atuando em  “defesa da família”.

São essas mesmas figuras que ocultam o tráfico de drogas a domicilio no bairro da Ponta Verde. São essas mesmas pessoas que possuem o nome na lista de funcionários da ALE, são essas mesmas pessoas que tem filhos que se drogam, dirigem alcoolizados, brigam, abusam e usufruem dos falsos prestígios patriarcais. Nesse mesmo segmento, tem parceiras que sustentam o relacionamento apenas pela dependência financeira e na hora que encontra uma profissional do sexo, esbanje seu repúdio e humilhação. E pergunto-me, qual a diferença entre elas? A mulher casada, aparentemente bem sucedida, contudo, objeto do marido, ela é mais digna que a profissional? Não vejo dessa forma.

Ressalto que isso não é unanimidade entre os defensores dos bons costumes. Muito menos da classe média. Tem pessoas ímpares em todos os lados e deixo claro que as características acima parte através de alguns grupos. Generalizar é o principal equívoco na compreensão desse texto. Até porque, como disse Bertold Brecht, “a cadela do fascismo está sempre no cio” e, portanto, muitas pessoas acabam sendo conduzidas e alienadas pelo complexo de desinformação promovido pelos setores que comandam o movimento.

 

A realidade é que alguns lares alagoanos e os conservadores de plantão precisam adquirir a humildade e reconhecer que os problemas relacionados a gênero independem de classe social e está presente em toda sociedade civil alagoana. Espantar a hipocrisia dos seus lares, bares, trabalho e convívio social são as principais etapas que deve ser seguidas por essas pessoas.

Por isso reitero o compromisso do PME em defesa de uma educação pública, gratuita, INCLUSIVA e de qualidade. Para finalizar, concluo com a precisa frase do ator Fernando Anitelli que diz, “acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz”.

 

  • Arthur Lira é estudante de Jornalismo da UFAL e membro da comissão de comunicação da Articulação em defesa da Igualdade de Gênero e Diversidade na Educação.