28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Bleine Oliveira

A barbárie cinematográfica e a doença da sede por sangue*

DVD com cenas chocantes esgotou nos camelôs de Manaus

Foi-se o tempo em que as pessoas se assustavam e tinham pesadelos com filmes de terror. Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, Colheita Maldita, entre outras obras do gênero deixavam crianças e adolescentes sem sono e alertas a qualquer barulho ouvido pela casa.

Esses clássicos, hoje, parecem blockbusters infantis comparáveis à Galinha Pintadinha, Xuxa só para Baixinhos ou Peppa Pig diante de um fenômeno bizarro, que reflete a sede por sangue de uma sociedade doente.

Em Manaus-AM, o filme mais vendido em bancas de camelô é o “FDN x PCC” – O Massacre”, com cenas de corpos sendo mutilados, cabeças ‘enterradas’ em cavidades abdominais alheias e vísceras sendo arrancadas de corpos agonizantes.

Detalhe mórbido: as cenas são reais e captadas dentro do Complexo Prisional Antônio Jobim, na capital amazonense, durante a rebelião do último dia 1º, que deixou 59 mortos. Resultado: no centro comercial da cidade, em todas as bancas, o DVD não é encontrado, pois esgotou.

A quem satisfaz esse tipo de “entretenimento”? Em que se diferencia uma pessoa que comemora esse tipo de evento e se regozija com tamanhas atrocidades e um detento que as comete? Não se trata de defender bandido, como as mentes mais rasas propagam, mas de ter consciência de que o Brasil faliu e o crime demonstra força e organização. Isso não é bom para ninguém.

É ilusão achar que os bandidos estão se matando entre eles e que isso deixa as “pessoas de bem” seguras aqui fora. Uma hora, a bomba estoura e todos nós pagaremos. Defender os direitos humanos não é se posicionar ao lado da criminalidade, mas uma sociedade justa, onde não haja espaço para a barbárie.

A sede por sangue e fome de corpos somente foi contida com a distribuição de imagens do acidente do avião da Chapecoense. Porém, no caso dos DVDs do massacre no presídio, o preocupante é que ninguém é mocinho. Nem quem se considera “de bem” e comemora a vitória da barbárie.

*Por Wagner Melo