16 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Collor, Nonô e Rui Palmeira podem perder concessão de suas emissoras de rádio e TV

O inquérito foi aberto no Ministério Público Federal nesta segunda-feira e tem o apoio do procurador Rodrigo Janot.

torre tvO senador Fernando Collor, prioprietário da rádio e TV Gazeta, o ex  vice-governador e atual secretário municipal de saúde, Thomás Nonô, e o prefeito de Maceió, Rui Palmeira, ambos proprietários do Pajuçara Sistema de Comunicação (PSCOM), organização que tem como carro chefe a TV Pajuçara,  podem perder as concessões de suas emissoras.

Para isso uma representação protocolada nesta segunda-feira, 23, no Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo, subscrita por 13 organizações da sociedade civil, pretende cancelar licenças de rádio e televisão que tenham parlamentares entre seus sócios.

Ao todo, denunciam as entidades, 40 políticos de 19 estados brasileiros têm participação societária em algum tipo de emissora de comunicação, segundo registros do Sistema de Acompanhamento de Controle Societário (Siacco) da Anatel, a agência reguladora do setor. Em São Paulo, três ações civis públicas já foram instauradas contra deputados federais.

Na representação, as entidades pedem que o MPF atue para que sejam canceladas as licenças concedidas a tais empresas, tarefa que cabe ao Congresso. Além disso, pedem que os parlamentares em questão não recebam autorização para explorar a atividade, bem como a realização de licitações para empresas sem sócios com mandato eletivo.

Na justificação, as entidades lembram que a Constituição proíbe a parlamentares a participação societária em concessionárias de serviços de radiodifusão. A ação conta com o apoio do procurador-geral República, Rodrigo Janot.

A representação será repassada às unidades do MPF em cada um dos estados mencionados, para providências em cada uma das localidades – Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins. Foram listados 32 deputados federais e oito senadores.

O documento protocolado no MPF é assinado pelo Intervozes (Coletivo Brasil de Comunicação Social); Andi Comunicação e Direitos; Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos); Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé; Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social; Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação; Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor; Associação Juízes para Democracia; Artigo 19; Levante Popular da Juventude; MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra; MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; e Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor.

Sociedade multipartidária –Em São Paulo, por exemplo, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, órgão do MPF-SP, apresentou três ações civis públicas pedindo o cancelamento dos serviços de radiodifusão sonora concedido a seis emissoras de rádio com deputados federais entre seus sócios: a Rádio Metropolitana Santista LTDA, cujo quadro societário inclui Antônio Bulhões (PRB); a Rádio Show de Igarapava LTDA e a Rádio AM Show LTDA, que tem Baleia Rossi (PMDB) entre seus sócios; e a Rádio Cultura FM Santos LTDA., a Sociedade Rádio Cultura São Vicente LTDA e a Empresa de Comunicação PRM LTDA, de Beto Mansur (PRB).

“A divulgação de opiniões e dados pode ser limitada pelos interesses destes associados, impedindo que os meios de comunicação cumpram seu dever de divulgar todas as informações e pontos de vista socialmente relevantes e de fiscalizar o exercício do poder público e as atividades da iniciativa privada”, registram as ações civis públicas, em menção aos preceitos constitucionais da liberdade de expressão e do direito à informação. Para a procuradoria, a restrição de informações em razão do favorecimento de notícias a determinado parlamentar, no transcurso de seu mandato e durante processos eleitorais, fere o pluralismo político, à soberania popular e, em um contexto mais amplo, a própria democracia. Nas ações, foi levado em conta o poder de influência das emissoras junto à opinião pública.

O próprio Supremo Tribunal Federal (STF) já se posicionou contra o controle das concessionárias. Além das questões constitucionais, o MPF aponta o conflito de interesses na concessão de licenças, uma vez que cabe aos próprios parlamentares deliberar sobre tais autorizações e suas renovações temporárias – há diversos registros em que parlamentares aprovaram permissões de exploração de serviços de radiodifusão para as próprias empresas.

Outros parlamentares alagoanos como JHC e Renan Calheiros são apontados como proprietários de veículos de comunicação e, se comprovados, poderão ser alvos da mesma representação no MPF.