26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Pequeno Polegar

Considerado, avó, ‘coxinhas e pão com mortadela’ com o Dr. Coleguinha

Dona Nildinha, avó do nosso amigo Considerado, coloca a saída de praia, calça a sandálias de salto, maiô nas cores  verde e laranja, laço azul no cabelo, se olha bem no espelho, pega a bolsa e segue para a praia. Dia de sábado, sol a pino e ela toda feliz para pegar um bronze, como sempre fez na juventude, quando se estirava na areia quase que ensopada com um bronzeador à base de óleo de amendoa e babosa. Se sentia a rainha do mar.

Da foz do Salgadinho até a Pajuçara, segue caminhando e cantoralando “Maceió minha Sereia”…

No meio do caminho encontra um grupo de jovens, todos brancos, exibindo músculos construídos à base do famoso Potenay, vestidos em camisetas nas cores da bandeira brasileira, que gritavam a plenos pulmões: “Pão com  mortadela”! “Pão com Mortadela”!

Do outro lado da rua ela vê outro grupo miscigenado, alguns barbudos, mas todos de vermelho, bandeiras tremulando, igualmente ao berros: “Coxinhas”! “Coxinhas”!

No meio da zuada dona Nildinha ficou atônita. Julgou-se insultada, pois tinha a certeza que os dois grupos estavam tirando onda com ela. Olhou-se bem, de cima abaixo, viu as penas, percebeu que já não tinha mais uma coxinha como antigamente, mas não encontrou nada de anormal, a não ser as varizes.

Abriu a bolsa para olhar se tinha colocado algum pão com mortadela dentro, mas logo lembrou que prefere sanduíche natural de cenoura. Assim, contrariada com a algazarra, devolveu o xingamento: “Coxinha é a mãe de vocês”! Olha para o outro grupo e dispara: “Pão com mortadela é a vovózinha”!

Estava disposta à briga. Tirou do pé uma das sandálias de salto grosso e se preparava para atacar o primeiro que se aproximasse, quando, enfim, o neto aparece para livrá-la da encrenca que arranjou sem necessidade.

-A senhora está ficando doida vó?

-Doida o quê, Considerado, você não está vendo esse povo me esculhambando?

-Não é nada com a senhora eles estão brigando por outra coisa…

-Coisa nenhuma, estavam me chamando de coxinha e eu nunca dei essa liberdade!

-Esse pessoal é da política vó…

-Eu não sei de política não. Eu nunca dei liberdade a ninguém…

-Menos vó, menos… Eu vi como a senhora ficou quando eu fui fazer aquele exame do novembro azul.

-Quem fez o exame foi você não fuiu eu não.

-Sim, mas a senhora quase come o médico com os olhos.

-Me respeite seu filho de uma égua!

-Eu só estou dizendo que a senhora não é nenhuma santa. Lá ficou dizendo que o médico era isso, era aquilo,,,

-Achei o médico bonitão, perguntei o nome dele só isso.

-Não parou de olhar pra ele e fez até um comentário sobre o tamanho do dedo dele, vó. Tá lembrada?

-Olhe, chega. Vamos embora daqui que não aguento isso não…

Considerado cumpriu à risca a determinação da velha e a tirou do meio fuzuê, onde estavam quase se engalfiando os prós e os contras a presidente Dilma Rousseff. Levou-a à Pajuçara e lá também ficou tomando sol. Mas, enfim, ela quis saber por que aquela confusão quando passava na praça da Liberdade.

-Olha vó, os de vermelho chamavam os branquelos, de verde e amarelo, de Coxinhas. E esses chamavam os outros de Pão com Mortadela.

-Que coisa mais sem graça.

-Também acho, mas eles gostam…

-Quer saber mesmo o que acho meu filho?

-O que vó?

-Que aquele povo todo ali deveria fazer fila no consultório pra passar o que você passou…

-Aí é brincadeira né?

-Brincadeira não, mas eu gostaria de vê-los aguentar sorrindo o novembro azul do Dr Coleguinha…

-Já vi que a senhora não esquece mais esse médico.

-Um homem com um dedo daquele quem vai esquecer. Nem tu Considerado!

novembro azul