Dona Nildinha, avó do Considerado, não é muito bem relacionada com os vizinhos. Dizem nas calçadas que na juventude, a velha era mais conhecida como “Maria Batalhão”, exatamente por que costumava se derreter pelos homens de farda.
Ela chegou a ser amante de um famoso coronel da Polícia Militar Alagoana e terminou o romance após sentir na face o peso da ira da mulher do militar.
Os vizinhos ficaram sabendo da história e não gostam muito dela. Principalmente a vizinha da direita, que é mulher de um sargento. A jovem ainda acha que a vó tem mania de se insinuar para o marido.
Mas isso é só um detalhe. O certo é que Nildinha não perde um desfile militar de 7 de Setembro. Sempre arrastava o neto consigo, desde que o menino começou a andar. Talvez, por isso o Considerado ainda hoje assista aos desfiles.
No último dia 07, ele já tinha decidido a não mais acompanhar “aquele monte de macho fardado” marchando na avenida. Pensou em ir a churrasco com os cunhados.
Mas, de repente, recebeu um telefonema de um velho amigo, o aprendiz de rábula, mas já quase bacharel em Direito, popularmente conhecido como “Batoré”. Só para os íntimos. Ou Babá, para os companheiros de copo e de cruz. Normalmente, ele não aceita que lhe chamem pelo apelido. Costuma reagir de mal humor.
E o nosso quase bacharel convidou-o a ir ao desfile com honras e glórias. Considerado tentou resistir mas foi convencido, por que o Babá lhe diss que ambos desfilariam em carro aberto, diante das autoridades.
– Como é isso Babá
-Babá uma… Deixa pra lá. Eu tenho um volkswagen da segunda guerra e vou apresentá-lo no desfile
-E pode?
-Todo mundo vai gostar.
Considerado foi a casa do amigo e viu um volkswagen meia boca de 1945. No fundo, um carro histórico, mas maltratado, barulhento e soltando fumaça de Diesel pelo escape furado. Ainda assim seguiram para aventura, pensando em fazer bonito na avenida.
Quando chegarem à altura da Americana, na praia da avenida, o carro começou a assustar as pessoas nas ruas pelos tiros que dava e a fumaça preta que soltava. Ao entrarem na praia foram barrados no baile por um guarda municipal.
– Ei que história é essa aqui engraçadinhos?
-Como assim, seu guarda? – Pergunta o Batoré.
-Vocês vieram aqui para anarquisar o desfile é isso?
Preocupado, Considerado resolveu intervir para que ambos se livrassem da situação vexatória.
-Olha, seu guarda, o carro do meu amigo serviu na segunda guerra e tem tudo a ver com o desfile.
-Esse carro é coisa de terrorista e uma fonte de poluição.
-Qual é seu guarda, você nao conhece a história?
-A história aqui é só uma. Independência do Brasil. Desçam do carro e me apresentem os documentos. Dos três.
-Mas só sou eu e o Babá.
-Babá é a puta que lhe pariu! – Reação natural do parceiro.
-Calma amigo eu estou querendo ajudar.
–Desse jeito, me chamando de Babá?
O guarda impaciente: – Eu quero os documentos dos três: vocês e do carro, com IPVA pago.
-O quê? Como vou pagar IPVA de um carro de 1945.
-Olhe seu Babá ou sei lá quem o senhor é…
-Babá é a PQP e o corno que lhe amassou seu guardinha infeliz!