16 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Defensoria Pública abre procedimento para apurar morte no hospital Hapvida

Hospital do plano teria sido negligente com bebê Anthony, causando sua morte

bebe obitoO Núcleo do Consumidor da Defensoria Pública do Estado de Alagoas abriu procedimento para apurar irregularidades no serviço médico hospitalar oferecido pelo hospital Rede Hapvida no estado. A medida se deu após o recebimento do inquérito sobre a morte do bebê Anthony Jarbas, ocorrida em setembro de 2014, que, segundo laudo cadavérico, foi motivada por erro médico durante procedimento realizado no hospital do plano.

De acordo com a coordenadora do Núcleo, a defensora pública Norma Suely Negrão, diversas reclamações feitas por clientes do Hapvida à Defensoria apontam falta de condições médico-hospitalar, falta de medicamentos e materiais, além de deficiências estruturais.

A fim de apurar as irregularidades denunciadas, a Defensoria encaminhou ofícios aos Conselhos Regional e Federal de Medicina, Sindicatos dos Hospitais e dos Serviços de Saúde, Conselhos Regional e Federal de Enfermagem, Secretarias Estadual e Municipal de Saúde, Vigilância Sanitária, Agência Nacional de Saúde Suplementar e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O município de Maceió foi oficiado, também, para apresentar as autorizações de funcionamento do hospital, bem como a Junta Comercial e a Receita Federal.

O caso Anthony

O bebê Anthony Jarbas, de 8 meses, foi morto durante procedimento no hospital da Rede Hapvida, em 2014. Esta semana, a Polícia Civil indiciou o médico responsável por homicídio com dolo eventual, além da diretora e a gerente administrativa do hospital, por omissão de socorro e desobediência à ordem judicial. “Temos laudo, fotos e um inquérito apontando o erro médico”, afirma a defensora Suely Negrão.

Para a mãe do bebê, Paula Bonfim Ramos, a denúncia é o primeiro passo para que a justiça seja feita. “Hoje quem fala não é o desespero de uma mãe, mas os laudos técnicos que apontam para o erro médico. Espero que o caso seja conduzido da melhor maneira possível e os responsáveis sejam penalizados de acordo com a lei”, disse.

Conforme o exame pericial, a criança morreu em decorrência de choque hipovolêmico ocasionado por acidente de punção. Nele, foram encontradas três lesões puntiformes na artéria subclávia esquerda e detectado hemotórax, aparecimento de sangue na pleura (membrana que envolve os pulmões), com 300 ml de sangue formando hemotórax à esquerda. O inquérito foi recebido pelo Ministério Público do Estado, que tem o prazo legal para apresentar denúncia.

Omissão de Socorro e desobediência à ordem judicial

Segundo a mãe da criança, Anthony começou a apresentar sintomas de febre intermitente em setembro de 2014 e foi levado ao hospital do plano Hapvida. No local, o menino foi medicado e liberado em seguida, fato que se repetiu por duas semanas. Como o garoto não melhorou, os pais decidiram pagar uma consulta particular.

Os exames constataram que a infecção havia atingido o coração e era necessária a internação. O Hapvida se negou a receber o bebê, alegando carência, e ele foi internado no Hospital Geral do Estado (HGE), local onde foi adequadamente tratado, apresentando melhoras.

Afastado o perigo, os médicos do HGE recomendaram a transferência da criança para o hospital do plano de saúde, visto que no Hospital Geral havia o risco de a criança contrair uma nova infecção. Novamente, o plano se recusou a aceitá-la e a Defensoria Pública entrou com ação em caráter de urgência para garantir a internação.

O pedido foi deferido e o juiz ordenou a imediata internação e tratamento médico completo da criança, mas o hospital se recusou a cumpri-la e alegou que seria mais viável pagar a multa diária de R$ 500, estipulada pelo juiz, do que arcar com as despesas médicas, segundo consta no inquérito.

Diante da recusa, e certificação pelo oficial de Justiça, o magistrado aumentou a multa para R$ 50 mil diários e determinou a prisão de quem se negasse atender a criança. Mesmo assim, no dia 25 de setembro de 2014, quando a família chegou ao hospital, acompanhada da Polícia Militar, enfrentou dificuldades para dar cumprimento à decisão judicial.

Após a internação, de acordo com familiares, conhecidos da vítima, além de pessoas que tinham parentes internados no hospital, a unidade hospitalar continuou agindo de forma negligente, pois não administrava os medicamentos nos horários corretos e não alimentou o menino por dois dias. Os relatos apontam ainda que o bebê era conhecido no local como “o bebê da ordem judicial”.

O quadro da criança regrediu e o menino morreu durante procedimento, em 30 de setembro de 2014, cinco dias após a internação na UTI do Hapvida. A Declaração de Óbito, elaborada por uma médica plantonista, atesta “causa de morte clínica não determinada”.

À época, o corpo do menino foi liberado para os pais e foi necessária, novamente, a intervenção da Defensoria Pública de Alagoas para garantir o exame no Instituto Médico Legal (IML).

*Ascom/Defensoria Pública