24 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Delator diz na Lava Jato que Aécio Neves negociou propina com a Odebrecht

Negociação se deu em obra do governo tucano no valor de R$ 2,1 bilhões

O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Júnior, afirmou em sua delação premiada à operação Lava Jato que teria se reunido com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) para negociar um esquema fraudulento em licitação na obra da Cidade Administrativa para favorecer grandes empreiteiras. A reunião de acordo com Benedicto, ocorreu quando Aécio era governador de Minas Gerais.

De acordo com informações apuradas pela Folha de S. Paulo, Benedicto Júnior, conhecido como BJ, disse aos procuradores que, após o acerto, Aécio orientou as construtoras a procurarem Oswaldo Borges da Costa Filho, o Oswaldinho. Com ele, o percentual de propina que seria repassado pelas empresas no esquema teria sido definido. De acordo com o delator, esses valores ficaram entre 2,5% e 3% sobre o total dos contratos.

Aécio Neves: denunciado por corrupção

Oswaldinho é um colaborador das campanhas do hoje senador mineiro. Segundo a reportagem o ex-executivo da Odebrecht afirmou que o próprio Aécio teria decidido quais empresas participariam da licitação para a obra.

As informações fornecidas por BJ em sua delação premiada foram confirmadas e complementadas, segundo pessoas com acesso às investigações, pelos depoimentos do ex-diretor da Odebrecht em Minas Sergio Neves. O ex-diretor aparece nas investigações como responsável por operacionalizar os repasses a Oswaldinho e é ele quem detalha, na delação, os pagamentos a Aécio.

Líder do consórcio, que contou com Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão, a Odebrecht era responsável por 60% da obra e construiu um dos três prédios que integram a Cidade Administrativa, o Edifício Gerais.

Benedicto Júnior e Sergio Neves estão entre os 77 funcionários da Odebrecht que assinaram acordo de colaboração com a Lava Jato. As delações foram homologadas pela presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Carmén Lúcia, e enviadas à Procuradoria-Geral da República, sob sigilo.

Em nota, Aécio repudiou o teor do relato de Benedicto Júnior e defendeu o fim do sigilo sobre as delações “para que todo conteúdo seja de conhecimento público”.

Projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), a Cidade Administrativa, sede do governo mineiro, custou R$ 2,1 bilhões em valores da época. Inaugurada em 2010, último ano de Aécio como governador, foi a obra mais cara do tucano no governo de Minas.