En depoimentos anexados à denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-presidente Lula, o ex-senador Delcídio do Amaral (MS) e o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE) afirmaram que o petista fatiou as diretorias da Petrobras entre os partidos em troca de apoio político.
Cassado em maio pelo Senado, Delcídio disse que Lula acomodou o PMDB na estatal para escapar do impeachment do mensalão e proteger seu filho Fábio Luís de um pedido de indiciamento na CPI dos Correios.
Foi a partir desse episódio, segundo o ex-líder do PT e do governo Dilma, que o uso da companhia para arrecadar propina ficou “mais escrachada”. “Aí as coisas escancararam mesmo, porque aí era uma máquina operando para atender partidos importantes da base, para garantir a dita governabilidade”, declarou.
Delcídio disse que o então presidente concluiu, em 2005, que se não ampliasse o espaço do PMDB na Petrobras não concluiria o seu primeiro mandato. “Quando veio o mensalão, ele (Lula) percebeu, ou ele se arruma ou poderia ser impichado”, afirmou o ex-petista. Para isso, prosseguiu o ex-senador, contou com o apoio do hoje presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Nessa época, o PMDB também passou a dominar o setor elétrico, até então sob comando do PFL, explicou.
O ex-petista contou, ainda, que, para aprovar a CPMF, o PMDB da Câmara exigiu o cargo do então diretor da área internacional da estatal, Nestor Cerveró. A negociação, segundo ele, foi intermediada pelo então deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), já falecido, com as “bênçãos” do hoje presidente Michel Temer, do atual ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, e do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
“Quando vem a votação da CPMF, o PMDB da Câmara diz assim: ‘Ou vamos ter espaço na diretoria da Petrobras, na diretoria internacional, ou então não passa a CPMF aqui’. Aí, foi negociada a substituição do Nestor. Foi negociada com o deputado Fernando Diniz, já falecido, com as bênçãos de Eduardo Cunha, Temer e Geddel”, contou Delcídio.
Em nota, a defesa de Lula disse que os depoimentos de Delcídio e Pedro Côrrea “não têm qualquer valor jurídico” e não representam “qualquer prova” contra o ex-presidente. Também citado por Delcídio, Michel Temer não quis se manifestar.