26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Denúncia da SBCP sobre tráfico de órgãos preocupa o Itamaraty

“Turismo da Beleza”, que atrai mulheres para cirurgias estéticas com preços baixos, pode ser isca para tráfico de órgãos

O que se esconde por trás das mortes das brasileiras Dioneide Leite (36) e Adelaide a Silva (55), após se submeterem a cirurgias plásticas na Venezuela? Segundo denúncia da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), elas teriam sido vítimas de tráfico de órgãos. Atraídas pela possibilidade de um procedimento com custo mais baixo, elas teriam caído numa armadilha de profissionais não habilitados, que as levou à morte. Pior que isso, tiveram órgãos retirados.

A denúncia, fundamentada em autopsias realizadas em território brasileiro, rendeu reportagem no Fantástico, no último domingo, e foi levada pela entidade ao Ministério das Relações Exteriores, ao Procurador Geral da República, ao Ministério da Justiça e à Superintendência da Polícia Federal. O Itamaraty informou que está “avaliando o assunto”.

As vítimas eram moradoras dos estados do Amazonas e Roraima.

De acordo com o Ministério Público do Amazonas, já havia outra denúncia semelhante sendo investigada, com as mesmas características. As mulheres são atraídas pelo chamado “turismo da beleza”, principalmente através das redes sociais, onde lhes são oferecidos procedimentos estéticos com preços reduzidos. Muitas das que partiram para a Venezuela voltaram com graves sequelas das cirurgias e sérias complicações de saúde por conta da falta de estrutura e preparo profissional. Existem até mesmo relatos de pacientes que realizaram exames após o retorno e foram informadas de que havia algum órgão faltando.

As duas brasileiras que faleceram no mês passado faziam parte de uma mesma “excursão” e viajaram juntas à cidade venezuelana de Puerto Ordaz. Complicações no pós-operatório fizeram que retornassem ao centro cirúrgico da clínica, onde acabaram vindo a óbito.

Em 13 de setembro, o corpo da paraense Dioneide Leite, de 36 anos, que morreu após uma perfuração no pulmão em decorrência de erro médico durante uma cirurgia de redução mamária, chegou ao Brasil sem os rins.

Adelaide da Silva, 55 anos, foi para Puerto Ordaz no dia 16 de setembro colocar implante de silicone nos seios, fazer uma abdominoplastia e uma lipoaspiração. As cirurgias foram realizadas, mas ela passou mal no dia seguinte e não foi transferida para uma Unidade de Tratamento Intensivo, ficou internada na própria clínica estética e morreu. A sobrinha da vítima afirmou que a clínica era pequena e que não havia estrutura suficiente para a cirurgia.

Segundo foi denunciado, o médico responsável, Oscar Hurtado, comunicou à família que o embalsamamento não seria permitido no país e que, para a transferir o corpo, a família deveria pagar um valor em torno de 60 mil reais. As opções sem custo para a família, dadas pelo médico, foram a cremação ou o enterro na própria Venezuela.

Durante a autópsia no IML de Boa Vista (Roraima), foi detectada a falta do coração, pulmões, rins e intestinos. Além disso, o IML identificou a colocação indevida de formol no corpo, artifício geralmente utilizado para dificultar a autópsia.

Segundo a presidente da Sociedade Venezuelana de Cirurgia Plástica, Linda Lorena Rincón e Oscar Hurtado não possui formação em cirurgia plástica e sim em oncologia.

Ainda não há comprovação, mas existem indícios de tráfico internacional de órgãos. O cirurgião plástico Marcos Arcoverde  é delegado da SBCP em Roraima, e acompanha as investigações. Segundo Arcoverde as denúncias sobre cirurgias plásticas feitas de maneira irregular na Venezuela acontecem desde 2013.