21 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Fátima Almeida

Especialista diz como evitar “o mal estar” nos relacionamentos

Comunicação Não-Violenta, segundo Pelizzoli, pode prevenir aqueles julgamentos e interpretações equivocados

Durante a capacitação, momentos de relaxamento e autoconhecimento.

(*)Por Graça Carvalho

Em busca de aprimorar sua comunicação nas relações consigo mesmo, com o outro e, sobretudo, nos diferentes espaços sociais, profissionais de diferentes áreas participaram de uma capacitação em Comunicação Não Violenta (CNV) e Sistêmica das Relações, durante este final de semana, em Maceió. O evento foi promovido pelo Instituto Onukisan, numa parceria com o Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec), do Tribunal de Justiça de Alagoas.

O Eassim acompanhou parte da capacitação, facilitada pelo professor gaúcho Marcelo Pelizzoli, que é Ph. D. em Filosofia e pós-doutor em Bioética e coordenador do Espaço de Diálogo e Reparação da Universidade Federal de Pernambuco.

Muitos profissionais ligados à Justiça alagoana marcaram presença no evento, até porque Pelizzoli tem larga experiência na aplicação da metodologia da CNV na resolução de conflitos. É inclusive da Coordenação do Projeto de Implantação da Justiça Restaurativa na Vara da Infância e Juventude de Pernambuco.

“Estou encantada com a capacitação, que vai servir muito para minhas atividades de conciliação e mediação judicial, como também a minha vida como um todo, um aprendizado integral”, afirmou a serventuária Ana Lúcia Ferreira.

Não só pessoas ligadas à Justiça, mas também, ao áudio visual, à tecnologia da informação, educação e até  engenharia civil foram conferir de que forma a CNV pode contribuir num nível sistêmico, para tornar mais assertivo o diálogo em todos os espaços.

Foi o caso de Anderson Nascimento, que atua na área de tecnologia da informação. Ele pretende expandir sua atuação operacional para gestão e, por isso, quando soube do curso, decidiu participar. “Eu devo trabalhar com gestão de pessoas, então, é importante começar a compreender melhor as pessoas.

Proprietários de uma produtora audiovisual, Melina Vasconcelos e Álvaro Cabral, também estavam entre os participantes. Ambos falaram que a motivação principal era pessoal. “Consertar coisas” resumiu Melina. “No meu caso, especificamente, a CNV vai me ajudar a melhor o relacionamento com minha família”, admitiu Cabral.

O professor Pelizzoli, durante entrevista ao Eassim, deu as dicas básicas para aplicação da CNV.

O que é a Comunicação Não-Violenta

“Antes de ser uma técnica, um método para aplicação em determinado contexto violento, a CVN é um processo de aprendizado da percepção do outro. As pessoas têm que se motivar para isso. Não basta querer aplicar uma técnica sobre alguém para diminuir, por exemplo, a criminalidade. É preciso estar aberto a entender e, só depois, buscar a aplicação de uma técnica”, explica o professor Pelizzoli, que teve sua formação orientada pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, criador do método CNV.

Pelizzoli avalia que, no Brasil, aos poucos, as pessoas estão buscando esse tipo de aprendizado, bem como outras formas de tornar mais produtivos seus relacionamentos, essa e outras técnicas restaurativas e sistêmicas. “Há uma sede pela cultura da paz nos relacionamentos, porque o mal estar é muito grande. As pessoas estão vendo que esse modelo agressivo, frio calculista que predomina hoje, nos relacionamentos, só trás prejuízos às relações humanas”, destacou.

Embora ainda não tenha se popularizado tanto, no Brasil, a CNV não é uma novidade. Surgiu nos anos sessenta, quando Rosenberg, buscava entender aos conflitos do movimento pelos direitos civis americanos. Atualmente, 65 países utilizam a técnica.

Não há nada de mirabolante na CNV, mas os passos indicados pela metodologia auxiliam a quem se interessa em colocar em prática a técnica uma comunicação menos reativa e mais acolhedora.

Segundo o criador da metodologia da comunicação não violenta, há quatro passos básicos para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais: observar sem julgar, e isso inclui uma escuta atenta; nomear os sentimentos; identificar; e expressar necessidades e formular pedidos, de forma clara.

Nas palavras do professor Marcelo Pelizzoli, a dica primordial é a pessoa perceber como se sente, quando é atingida por uma determinada fala agressiva. É preciso tomar consciência do que está acontecendo com ela e com a outra pessoa.  Tentar perceber qual a motivação do outro para agir assim. Dessa forma, o ato de reagir a uma agressão será mediada por uma reflexão imediatamente anterior, que permitirá a construção de um caminho para o diálogo.

“Com esses cuidados, e colocando, de forma transparente, o que está sentindo e precisando, a fala seguinte de quem foi agredido será diferente, não reativa. A base do método é essa e tende a evitar julgamentos e interpretações equivocadas”, conclui Pelizzoli.