24 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Maceió

Famílias negam a doação de órgãos e pacientes morrem

Pacientes esperavam na fila por transplantes

Dos 50 candidatos à doação de órgão notificados em 2015 à Central de Transplantes de Alagoas (CTA), apenas 20% teve o diagnóstico fechado de morte encefálica.

Conforme o protocolo clínico para transplante, após esse diagnóstico a equipe da Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) assume a missão de contactar a família do paciente visando à doação de órgãos.

“Desse total de 20%, mais da metade das famílias (57%) dizem não à doação”, lamenta Kely Brandão, coordenadora da CTA.

Entre as principais alegações estão questões como o desejo de manter a integridade do corpo do falecido; a negativa do ente querido, em vida, em relação a doação ou mesmo o desconhecimento da familia se esse era a sua vontade.

Kelly Brandão: coordenadora de Transplantes.
Kelly Brandão: coordenadora de Transplantes.

Outro ponto é a não compreensão sobre os critérios para diagnóstico da morte encefálica, o que deixa na família a sensação de que o paciente pode voltar a qualquer momento.
As 50 mortes notificadas ao CTA são uma gota no oceano diante dos cerca de 2% a 5% de mortes encefálicas registradas em hospitais com Unidade de Terapia Intensiva no Brasil.

Os números mostram que tais doações poderiam salvar centenas de vidas em todo o país mas, infelizmente, estão sendo desperdiçadas. Além da negativa das famílias, outros fatores ajudam a complicar a situação, como a subnotificação de casos e questões técnicas relacionadas à remuneração, logística, captação, transporte e transplante de órgãos.

A Central de Transplantes de Alagoas informa ainda que 231 pacientes estão na fila de espera para receber um rim, número expressivo se comparado aos exíguos 10 procedimentos realizados este ano e às 107 intervenções registradas desde o primeiro transplante, em 1988.

Quando se fala em transplante de coração, Alagoas se destaca por ser um dos nove estados brasileiros a realizar o procedimento. Este ano foram dois transplantes. Já a fila de espera conta com três pacientes. O número é pequeno porque a maioria morre antes.