28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
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Hoje é dia de Moraes, num país onde moral é princípio cada vez mais singular

Indicado pelo Presidente Temer para a vaga do ministro Teori Zavascki no STF, Alexandre Moraes será sabatinado e votado por senadores envolvidos na Lava Jato

Moraes, pronto para a sabatina na CCJ (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

A sabatina deve ser longa, nesta terça-feira, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Certamente bem mais intensa e cansativa do que a preliminar executada durante o ‘passeio-treino’ a que foi submetido dias atrás – a bordo de um ‘barquinho’ capitaneado pelo senador Wilder Morais (PP-GO) – o ministro da Justiça licenciado, Alexandre Moraes, indicado pelo governo Temer para assumir a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal, aberta desde a morte de Teori Zavascki, em acidente aéreo, no começo do ano.

E dizem que o treinamento no ‘barco-escola’ foi duro. Um ensaio bem orquestrado pelos senadores Morais (o sobrenome é uma quase mera coincidência), Benedito de Lira (PP-AL), Cidinho Santos (PR-MT), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Ivo Cassol (PP-RO), José Medeiros (PSD-MT), Sérgio Petecão (PSD-AC) e Zezé Perrella (PMDB-MG). Dois deles – Wilder e Benedito – são membros titulares da CCJ, e dois são suplentes: Petecão e Cassol.

Os comentários dos navegantes são de que “o clima foi tenso” na embarcação, e as perguntas foram mais duras do que as que ele terá que responder hoje, no Senado. Logicamente não houve respostas sobre a Lava Jato (será que houve perguntas?). Mas falou-se da acusação de envolvimento com o PCC (alguém deve ter pedido outra dose de wisque).

Mas, diferente do ‘aulão’, onde os inquisidores eram aliados travestidos de algozes, mas preocupados em passar o ‘bizu’ para a grande prova, hoje Alexandre Moraes terá à sua frente alguns opositores de verdade, prontos para arguir, testar, contestar e tentar barrar a indicação do ministro de governo para o cargo vitalício de ministro do STF.

Se a oposição vai conseguir, é pouco provável. Moares é indicação do Presidente Michel Temer (PMDB), que reúne, no entorno do seu governo, a maioria absoluta do Congresso. E não só por isso. A sua ida para o Supremo interessa a algumas centenas de pessoas atoladas na lama que escorre da Lava Jato, direto para as bancas de julgamento do STF. E nisso, o Congresso também tem maioria – pessoas de grande influência política, capazes de definir articuladamente essa parada de hoje, a favor do sabatinado. Só na Comissão de Constituição e Justiça, dez senadores, entre eles o presidente, senador Edison Lobão,  são alvo da Operação Lava Jato.

Melhor ter aliados na Corte suprema.

Além disso, Moraes vem cumprindo uma maratona diária de peregrinação nos gabinetes do Senado, em busca de apoio. E tem logrado êxito.

Mas vem chumbo grosso. Senadores da oposição prepararam artilharia para a sessão-sabatina, marcada para as 10h desta terça-feira. E além da própria munição, mais de 500 pessoas já enviaram, pelo site do Senado, perguntas que podem ser feitas pelos senadores ao sabatinado.

Tem também a nota de repúdio à nomeação de Alexandre Moraes para o STF, apresentada pelo Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da USP, assinada virtualmente por mais de 280 mil pessoas, segundo foi divulgado. A nota chama a atenção para o fato de que, aos 49 anos de idade, Alexandre de Moraes tem a  possibilidade de exercer durante 26 anos o posto de ministro do STF. “É impensável que, diante do que se pretende ser um regime democrático, alguém goze de tamanho poder por tanto tempo, ainda mais sem contar com a legitimidade do voto popular como ocorre no Judiciário”, diz um trecho da nota.

Mas, assim é o Brasil e suas contradições; um país pobre em moral e repleto de Moraes.

 

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