Realizado neste final de semana, em todo o Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) surpreendeu de forma positiva pela relevância social de temas abordados, tanto em questões das provas objetivas quanto na discursiva (redação).
Chamou a atenção, logo na primeira questão da prova de Ciências Humanas, a citação de Simone de Beauvoir em um texto que reflete as manifestações feministas da década de 60 em favor da liberdade sexual e da igualdade de gênero, temas tão recorrentes na realidade atual. “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade…”.
O feminismo entrou em pauta a partir da célebre proposição da autora e ativista francesa. E jovens de todas as crenças e ideologias; homens, mulheres, feministas, machistas ou NDA tiveram que refletir sobre o assunto.
Mas o diálogo social não parou por aí. Ainda no primeiro dia de prova, os mais de 7 milhões de brasileiros que fizeram o Enem, a maioria jovens entre 15 e 20 anos de idade, tiveram que refletir, também, sobre a luta contra a discriminação racial, a partir do poema de resistência do líder angolano Agostinho Neto: “Voz do Sangue”. Bom ver a juventude do país inteiro concatenada nessa reflexão, ainda que por alguns instantes.
E quando ainda se comemorava essas duas citações que colocaram na pauta do Enem a luta pela igualdade de gênero e de raça, vem a prova de redação abordando “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, num diálogo mais que conectado com a realidade atual.
Com o histórico de violência de gênero e de raça existente no Brasil, fico a imaginar quantos candidatos do Enem conseguiram se enxergar em alguns desses temas. Jovens mulheres, que embora nem saibam quem foi Simone de Beauvoir, mas que conhecem, como vítimas, a discriminação de gênero; que em algum momento da vida viveram, como vítimas ou testemunhas, situações de violência contra a mulher, dentro da própria casa; que ao logo da vida se depararam e conviveram com situações de discriminação contra negros, na família, na escola, na comunidade.
Fico a imaginar cada cabeça refletindo sobre o problema, para escrever sobre a violência e a discriminação contra mulheres e de maneira propositiva, com argumentos e censo de cidadania, como exige o Enem.
A repercussão que a questão ganhou nas redes sociais – com manifestações contra e a favor – promoveu um debate salutar; jogou luz sobre uma questão que muitos teimam em não enxergar.
O Enem fechou!