19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Joanna Maranhão diz que Brasil “é machista, racista e homofóbico”

Atleta olímpica brasileira foi vítima da cultura do ódio que assola o País

A nadadora Joanna Maranhão concedeu, no início da tarde desta terça-feira (9), uma entrevista que acabou se transformando em um depoimento representativo de uma atleta brasileira mulher contra a cultura do ódio e do machismo no Brasil. Após ser eliminada da fase classificatória dos 200 metros borboleta dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Maranhão revelou os ataques preconceituosos e machistas que vem recebendo através das redes sociais.

Joanna Maranhão: nadadora
Joanna Maranhão: nadadora

“Ontem à noite foi o dia mais difícil para mim. Tentei ficar fora de rede social, mas fui no Facebook e vi uma enxurrada de críticas, ataques. Alguns dizem que eu merecia ser enxutada, que minha história é uma grande mentira. Eu tentei segurar a onda, mas agora eu desabafei. E muito duro receber”, desabafou.

Conhecida pelo seu desempeno nas piscinas, Joanna já foi alvo de inúmeras críticas por se posicionar politicamente contra o conservadorismo, a redução da maioridade penal e figuras como Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro. Na entrevista que deu há pouco, a nadadora revelou que voltou a ser xingada pelas suas posições políticas e chegou a sair em defesa do governo da presidenta afastada Dilma Rousseff quando comentou a medalha de ouro da judoca Rafaela Silva.

“Esses perfis que nos atacam não sabem o sufoco que passa o atleta brasileiro. A Rafaela Silva, há quatro anos, não tinha nada, mas com a ajuda dos programas assistenciais, conseguiu essa medalha”, comentou.

Outro ponto alto de sua entrevista coletiva foi quando tratou da questão do estupro, já que a atleta já havia revelado anteriormente ter sofrido abusos sexuais quando criança. De acordo com Joanna, após a eliminação ela chegou a se deparar com mensagens desejando sua morte ou ainda que fosse estuprada.

“Desejar que eu seja estuprada é passar dos limites”, disse.

Confira, abaixo, os principais trechos da fala da nadadora.

“O Brasil é um país muito racista, preconceituoso, racista, homofóbico, voltado ao futebol, e os ataques que são feitos lá as pessoas pensam que não afeta. Eu sempre me posicionei politicamente, porque sinto que todo ser humano tem um papel a fazer, mas eu quero um país para todo mundo. Não quero que a Tais Araújo seja chamada de ‘macaca’, que a Rafaela Silva seja chamada de ‘decepção’, amarelona’”.

 

“Felipe Kitadai, Charels Chibana, Sarah Menezes não entraram para perder. É muito difícil as pessoas entenderam isso. Mas passar para a linha do desrespeito é difícil. Treinei muito para ser a melhor nadadora do Brasil e não sucumbir à minha depressão, e de repente as pessoas me questionando, questionando minha história”.

 

“Nem todo mundo entende a dificuldade que é [estar aqui nas Olimpíadas]. Mas desejar que minha mãe morra, que eu me afogue, que eu seja estuprada, que a história da minha infância seja algo que eu inventei para estar na mídia já ultrapassa. Eu falo sobre coisas que a maioria dos atletas não fala, eu aguento porrada, mas tudo tem limite. Quando tem desrespeito por eu ser mulher ou ser do Nordeste, aí eu vou tomar as medidas jurídicas”.