25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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Juiz não é Deus! Quanta injustiça!!!

O gosto amargo da decisão da 14ª Câmara Cível do TJ do Rio em manter condenação da agente de trânsito que parou juiz na Lei Seca.

justiça federalQuem sou eu para julgar? Essa é uma das competências com a qual nunca lidei muito bem, embora tenha, em minha alma, uma enorme inquietação com injustiças. E ela incomodou com força, diante da decisão – unânime – da 14ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio, que manteve a punição da agente de trânsito Luciana Silva Tamburini, condenada a pagar indenização de R$ 5 mil, por danos morais, ao juiz João Carlos de Souza Correa.

Vale lembrar o que gerou esse ‘dano moral’: Em serviço, durante uma operação da Lei Seca, em fevereiro de 2011, Luciana teve a ‘infelicidade’ de parar o juiz, que dirigia um carro sem placa e sem documentos de porte obrigatórios, como a habilitação de motorista. Ao invés de tentar resolver a situação dentro dos princípios legais, o juiz, cuja função é garantir o cumprimento das regras de convívio social, dentro do princípio de que todos são iguais perante a  lei, limitou-se a dizer: ‘sou juiz’.

Consciente de seu papel de tratar a todos com igualdade no exercício da função pública que desempenha, a agente de trânsito retrucou: ‘o senhor é juiz, mas não é Deus’.

Que ofensa! Como assim, não é Deus?! A ousadia da agente de trânsito lhe rendeu mais que a ordem de prisão decretada na hora, pela autoridade ‘ofendida’ – por desacato.

Ela clamou por justiça. Afinal, não fez mais que sua obrigação em tratar o juiz como um condutor  que não portava, no momento, a documentação necessária para dirigir. Mas a Justiça, julgando a atitude do juiz, transformou a agente de trânsito em ré condenada. Na análise dos autos foi considerado que Luciana ‘zombou do cargo’, ao apregoar que juiz não é Deus; que se apresentar como juiz não configura carteirada; e que, em defesa da função pública que desempenha, nada restou ao magistrado senão determinar a prisão da agente.

E o que restou à sociedade, senão a sensação amarga de que a balança da Justiça às vezes parece injusta?

E o que restou à agente de trânsito Luciana Tamburini e aos seus colegas de profissão? A lição de que existem, por trás do volante, deuses e semi-deuses imunes aos princípios legais? Que a estes se deve tratamento diferenciado do que o destinado aos pobres mortais? O aprendizado de quem nem todos são iguais perante a lei?

 

Tristes lições!

Vale o consolo de saber que Luciana não vai desistir. Ela já conseguiu, por meio de uma ‘vaquinha’ mobilizada pelas redes sociais, muito mais do que o dinheiro para pagar os  R$ 5 mil de indenização do juiz. E o troco – até agora mais de R$ 20 mil – ela já disse que vai doar a instituições de caridade.

Mas não é no bolso que dói a decisão da Justiça. É a sensação de injustiça que lhe inquieta a alma. E em nome dela, Luciana já anunciou que não vai desistir; que vai seguir adiante com novos recursos e, se preciso, vai até o tribunal de Deus.

Quem sabe, lá, ela consiga a confirmação de que juiz não é Deus!

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