23 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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Mutum das Alagoas, muito além de um símbolo: um feito histórico

O sonho e a luta de abnegados em defesa de uma espécime genuinamente alagoana

A ação  de reintrodução do “Mutum das Alagoas” ao meio ambiente, nesta sexta-feira, 22 de setembro,  transcende a um ato simbólico. Trata-se de uma iniciativa histórica e que deve ser comemorada com todo orgulho.

A ave que foi praticamente dizimada no Estado, em função da derrubada das reservas de Mata Atlântica para que cedessem espaço ao plantio da cana, é tão rara que seu habitat se dava apenas em um trecho exclusivo de mata: Exatamente nas reservas entre as cidade de São Miguel dos Campos e Rio Largo.

O mutum está de volta.

Trata-se, portanto, de uma espécime genuinamente alagoana, cuja preservação se deu por ter sobrevivido em cativeiro, longe dos disparos de chumbos de caçadores alheios à necessidade da preservação e do cuidado ao meio ambiente.

A luta para a preservação da espécime em cativeiro levou 30 anos e tem alguns ícones que merecem o reconhecimento das autoridades e da sociedade em geral.

No caso de Alagoas, um batalhador incansável pela reintrodução do Mutum de Alagoas à natureza foi o ambientalista Fernando Pinto, presidente do Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), que há décadas empreendeu uma batalha pessoal para trazer o mutum de volta à sua morada de origem.

Ganhou aliados poderosos nessa luta, inclusive usineiros que ocuparam os tabuleiros alagoanos, onde imperava a mata atlântica, para a expansão da monocultura da cana. Aliás, em se tratando da mata, em todo o Nordeste há apenas 3% de reserva preservada.

 

Pinto foi obstinado na causa. Sonhador, para uns, determinado, para outros, mas agora vencedor aos olhos vistos. O Mutum das Alagoas voltou!

Mas, graças sobretudo ao trabalho fascinante do mineiro  Pedro Nardelli que conseguiu capturar seis exemplares da espécime, na mata alagoana, na década de 80 e, com o apoio do Ibama, deu início ao programa de reprodução em cativeiro, em terras mineiras. Hoje 230 aves lá estão belas e bem cuidadas.

Aqui um casal de Mutum poderá iniciar um novo ciclo em seu habitat natural. Para isso um grupo de trabalho somou esforços nessa empreitada, capitaneada por Fernando Pinto e pelo  promotor público Alberto Fonseca, da Promotoria de Justiça Coletiva Especializada de Defesa do Meio Ambiente, com o apoio de órgãos do governo estadual e entidades da iniciativa privada.

O fato é que o momento é especial para todos, principalmente para a terra alagoana que recebe de volta sua cria ilustre, ao ressurgir das manhãs dos 200 anos de Alagoas. O nosso Mutum é considerada uma das aves mais raras do planeta. Mas, igualmente raro foi o trabalho de todos os envolvidos que enche de orgulho à terra alagoana.

Evoé para o voo livre do Mutum das Alagoas!