19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Policia

PMs revoltados com soltura de mulher presa com ‘armas de aluguel’

POLÊMICA: Guarnição volta ao local da prisão e faz vídeo “se desculpando” com a acusada. Juiz reage e chama militares de palhaços.

Cresce entre policiais militares a insatisfação com decisões da Justiça, que soltam suspeitos de crimes horas depois das prisões. Depois do vídeo em que se auto-intitulam ‘taxistas de bandidos” – mostrando imagens de um preso, com tornozeleira eletrônica, que é liberado pelo juiz na audiência de custódia, PMs voltaram a polemizar e a ‘bombar’ nas redes sociais, questionando a soltura de uma mulher, presa com oito revólveres dentro de casa.

A polícia recebeu denúncia de que Maria Cícera Oliveira Lima Santos, alugava essas armas para a prática de crimes (assaltos e homicídios). Presa em flagrante, já que as armas estavam em sua casa, no sábado à noite, ela foi solta horas depois da prisão por ordem do juiz Ricardo Jorge Cavalcante Lima, plantonista da área criminal (processo 0700738-16.2017.8.02.0067).

Revoltados, no domingo, 13, policiais do 1° Batalhão da Polícia Militar voltaram à casa da mulher, no conjunto Cleto Marques Luz, e fizeram um vídeo onde conversam sobre a soltura dela. Maria Cícera conta que conseguiu um alvará e afirma que “não deve nada a ninguém”. “Estou com meu alvará de soltura e não devo nada a ninguém”, repete.

Ao que os policiais reagem com ironia: “Me desculpe por ter vindo na casa da senhora, quebrado a porta da senhora, ter apreendido oito armas e ter levado a senhora constrangida até uma delegacia para um dia depois a senhora estar solta” – diz um deles. “Pelo amor de Deus”, completa outro, em claro tom de revolta.

O vídeo circula nas redes sociais e, até o início da tarde desta segunda-feira, 14, já tinha mais de 2 mil visualisações. (LINK

A repercussão do caso alcançou ainda mais gravidade com a reação do juiz Sandro Augusto, da Associação dos Magistrados, que se posicionou lembrando que “não cabe à polícia militar “rediscutir” as decisões judiciais e muito menos emitir juízo de valor a respeito das providências tomadas posteriormente ao exaurimento da sua atuação.

O magistrado chegou a ofender os policiais. “Parece que virou moda a produção de vídeos dessa espécie, os quais são incompatíveis com a nobre e essencial função de um policial. Caso algum desses profissionais seja tentado a se prestar a um papel lamentável desses, deverá considerar seriamente a possibilidade de atuar na animação de festas infantis, na área humorística, mediante stand-up, ou até mesmo se candidatar a algum cargo político, ou ainda, enveredar no jornalismo policial sensacionalista, afinal não devemos desperdiçar os nossos reais talentos” – ironizou o juiz Sandro Augusto.

Em nota, o Tribunal de Justiça esclareceu que “o alvará de soltura foi concedido m conformidade com a legislação brasileira, tendo em vista que a cidadã é primária, não tem registro de passagem pela polícia ou antecedentes criminais, possui residência e trabalho fixos, e possui uma filha menor de idade. As armas foram encontradas em sua casa, mas a mulher alegou que as armas seriam de seu namorado, que possuiria as chaves da residência. O juiz ressalta ainda que o próprio Ministério Público de Alagoas opinou pela soltura”.

Já o comando geral da Polícia Militar publicou nota sem se posicionar sobre a atitude dos policiais militares que gravaram o vídeo. “Ao tomar ciência da divulgação de um vídeo nas redes sociais, à respeito da soltura de uma senhora que foi presa na última sexta-feira (11) por posse de oito armas de fogo e liberada após a Audiência de Custódia, o Comando da Polícia Militar vem a público informar que não orienta sua tropa a questionar procedimentos do Poder Judiciário, e que sempre cumpriu toda e qualquer decisão deste poder” – simplificou o comando geral.