19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Policia

Profissionais e clínicas de saúde são alvos de operação da Polícia Federal

Eles são suspeitos de integrar esquema de desvio de recursos do SUS destinados ao tratamento de pacientes com glaucoma

Três pessoas, entre elas um médico especialista em oftalmologia, foram presas na manhã desta terça-feira (13), pela Operação Hoder, deflagrada pela Polícia Federal (PF), Receita Federal e Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus) para cumprimento de mandados de prisão, busca e apreensão nos estados de Alagoas, Sergipe, Bahia e Goiás.

Os presos estão entre os 10 suspeitos de integrar um esquema criminoso de desvio de recursos do SUS destinados ao Programa Nacional de Combate ao Glaucoma e à Política Nacional de Procedimentos Cirúrgicos Eletivos de Médica Complexidade, por meio de diagnósticos falsos e prescrição excessiva de medicamentos de alto custo.

Os mandados de busca foram cumpridos em cinco empresas que prestam serviços especializados em oftalmologia, três delas (pertencentes a um mesmo grupo) com sedes em Maceió, Penedo e Arapiraca. Os mandados de prisão foram cumpridos em Maceió, num condomínio de luxo em Marechal Deodoro e Goiânia.

Ao todo foram expedidos quatro mandados de prisão temporária, um de condução coercitiva e oito mandados de busca e apreensão.

Em entrevista coletiva, no final da manhã, o superintendente da Polícia Federal em Alagoas, delegado Bernardo Gonçalves, explicou que os suspeitos diagnosticavam a doença em pessoas sadias, com objetivo de repassar colírio pago com dinheiro do SUS. Algumas dessas pessoas passaram por perícia posterior e foi constatado que elas não tinham a doença.

Uma das coisas que chamaram a atenção para o esquema era a grande quantidade de pessoas diagnosticadas com glaucoma, principalmente em ações coletivas – os chamados mutirões. Os delegados da PF citaram como exemplo um mutirão realizado na Barra de Santo Antônio, em 2015. Dos 190 pacientes consultados, 75 foram diagnosticados com a doença – cerca de 40% do total – um percentual bem acima do normal. As taxas da Organização Mundial de Saúde indicam que entre 2% a 3% da população com mais de 40 anos pode ter a doença.

Segundo as investigações entre 2014 e 2016 somente uma das empresas, em Maceió, teria recebido R$ 16 milhões do SUS para custear consultas e fornecimento de colírios para tratamento de glaucoma. Há indícios, também, de que eram prescritos medicamentos mais caros, com preços superiores a R$ 200, quando o problema – quando existia – poderia ser resolvido com um colírio que custava R$ 18.

De acordo com a PF, os pacientes não sabiam do esquema, e muitos usaram a medicação acreditando estarem realmente doentes, sem que estivessem, de fato, o que constitui um risco à saúde. Os envolvidos podem ser denunciados por organização criminosa, estelionato qualificado e lavagem de dinheiro.

O nome da Operação – Hoder – foi inspirado em um personagem da mitologia nórdica, um deus cego, numa analogia ao desvio de recursos destinados ao tratamento de doença que pode levar à cegueira.