Três pessoas, entre elas um médico especialista em oftalmologia, foram presas na manhã desta terça-feira (13), pela Operação Hoder, deflagrada pela Polícia Federal (PF), Receita Federal e Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus) para cumprimento de mandados de prisão, busca e apreensão nos estados de Alagoas, Sergipe, Bahia e Goiás.
Os presos estão entre os 10 suspeitos de integrar um esquema criminoso de desvio de recursos do SUS destinados ao Programa Nacional de Combate ao Glaucoma e à Política Nacional de Procedimentos Cirúrgicos Eletivos de Médica Complexidade, por meio de diagnósticos falsos e prescrição excessiva de medicamentos de alto custo.
Os mandados de busca foram cumpridos em cinco empresas que prestam serviços especializados em oftalmologia, três delas (pertencentes a um mesmo grupo) com sedes em Maceió, Penedo e Arapiraca. Os mandados de prisão foram cumpridos em Maceió, num condomínio de luxo em Marechal Deodoro e Goiânia.
Ao todo foram expedidos quatro mandados de prisão temporária, um de condução coercitiva e oito mandados de busca e apreensão.
Em entrevista coletiva, no final da manhã, o superintendente da Polícia Federal em Alagoas, delegado Bernardo Gonçalves, explicou que os suspeitos diagnosticavam a doença em pessoas sadias, com objetivo de repassar colírio pago com dinheiro do SUS. Algumas dessas pessoas passaram por perícia posterior e foi constatado que elas não tinham a doença.
Uma das coisas que chamaram a atenção para o esquema era a grande quantidade de pessoas diagnosticadas com glaucoma, principalmente em ações coletivas – os chamados mutirões. Os delegados da PF citaram como exemplo um mutirão realizado na Barra de Santo Antônio, em 2015. Dos 190 pacientes consultados, 75 foram diagnosticados com a doença – cerca de 40% do total – um percentual bem acima do normal. As taxas da Organização Mundial de Saúde indicam que entre 2% a 3% da população com mais de 40 anos pode ter a doença.
Segundo as investigações entre 2014 e 2016 somente uma das empresas, em Maceió, teria recebido R$ 16 milhões do SUS para custear consultas e fornecimento de colírios para tratamento de glaucoma. Há indícios, também, de que eram prescritos medicamentos mais caros, com preços superiores a R$ 200, quando o problema – quando existia – poderia ser resolvido com um colírio que custava R$ 18.
De acordo com a PF, os pacientes não sabiam do esquema, e muitos usaram a medicação acreditando estarem realmente doentes, sem que estivessem, de fato, o que constitui um risco à saúde. Os envolvidos podem ser denunciados por organização criminosa, estelionato qualificado e lavagem de dinheiro.
O nome da Operação – Hoder – foi inspirado em um personagem da mitologia nórdica, um deus cego, numa analogia ao desvio de recursos destinados ao tratamento de doença que pode levar à cegueira.