26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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Se não pode ajudar, não atrapalhe: A cobrança de taxas contra a vontade de fazer

Figura animada, com cara de gente que faz, o popular morador Diva Tenório garante, há 26 anos, os festejos juninos na comunidade, para satisfação de Santo Antônio, São Pedro e São João.

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Festa reuniu a comunidade / Foto: Cortesia

Agradável surpresa nas andanças pelos festejos juninos foi deparar-me com o Palhoção da Jatiúca, uma festa com gosto de tradição e jeito de interior, instalada bem no canteiro central da Avenida Luiz Ramalho de Castro (rua da antiga Telasa Celular), entre os bairros de Jatiúca e Stella Maris, organizada por iniciativa privada.

Figura animada, com cara de gente que faz, o morador Diva Tenório garante, há 26 anos, os festejos juninos na comunidade, para satisfação de Santo Antônio, São Pedro e São João. Para isso estabelece parcerias, conta com apoio de moradores e do comércio local. “Dá trabalho, mas nunca deixo de fazer. E compensa ver a alegria da nossa comunidade”, confessa ele, sem demagogia”.

Fogueiras acesas, famílias sentadas na calçada, cheiro de canjica, pipoca, milho assado e churrasquinho; crianças correndo, estalos de traque, sons de alegria. Famílias inteiras de mãos dadas – pai, mãe, filhos, avós – passeando entre o palhoção e os brinquedos do parque de diversão.

No palco, a estrutura modesta enfeitada de bandeirolas e balões de papel colorido era mais que suficiente para receber o melhor da festa: o trio de forró comandado por Joelson dos 8 Baixos, que fez os pares encherem o salão improvisado com um tablado montado sobre o terreno arenoso. Antes do forró começar, a quadrilha tradicional formada por adolescentes do bairro, havia se apresentado, com roupas simples, jeito caipira, e com os tradicionais passos do ‘anavatú, anarriê, passeio na roça e balançê’, expressões que já julgava esquecidas nas apresentações de quadrilhas juninas.

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Quadrilha estilizada também teve espaço

Também tem espaço para quadrilhas estilizadas, que levam brilho e glamour à festa da comunidade.

Tudo tão simples e ao mesmo tempo tão completo. Não faltou quase nada, na estrutura montada: barracas para venda de bebidas e comidas típicas, tendas para se proteger da chuva, mesas, cadeiras, banheiros químicos, tudo conferido. Organização, animação e participação popular também teve de sobra. Tudo gratuitamente.

Na verdade, só faltou mesmo a maçã do amor.

E quem banca tudo isso? Quem garante a tradição é a própria comunidade. Os barraqueiros que vendem comidas e bebidas no local, pagam o safoneiro; o dono do parque de diversões, garante os ingressos pra meninada da quadrilha; os moradores, empresários da área fornecem o lanche, ajudam, colaboram, e a festa se faz com tradição e coragem.

Fora disso, nada é cobrado dos vendedores que montam suas barracas ao redor do palhoção, informa Diva. “Nossa festa não tem fins lucrativos. Nosso lucro é a diversão em comunidade. Ninguém ganha nada com isso, a não ser alegria. Aqui não se cobra nada, exceto as taxas da Prefeitura e de outros setores do poder público”, diz ele, citando taxa de ocupação do solo, cobrada pela SMCCU, taxa de Bombeiros,de iluminação, dentre outras que lhe são cobradas.

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Quadrilha tradicional mostrou sua graça

Como assim? Então a Prefeitura não organizar o São João, não ajuda nos eventos de iniciativa da comunidade, e ainda manda cobrar taxas pela sua realização?

Entendo mais nada…

E eu, que estava prestes a propor que o poder público copiasse e colasse na agenda dos próximos anos o estímulo à iniciativa de moradores nos bairros para promoção de eventos como esse: com jeito de festa do interior, sem mega estrutura, sem finalidade política, nem fins lucrativos,

E não precisa grandes investimentos, até para não interferir no formato que tem feito sucesso. Mas pelo menos poderiam isentar quem se empenha em fazer, do pagamento das inúmeras taxas cobradas nesses eventos que não têm fins lucrativos.

Isso configura renúncia de receita? Pode até ser.

Mas o que se economiza na organização de uma festa popular como essa, quando a comunidade assume as rédeas e faz, é lucro para os cofres públicos, com toda certeza.

 

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