17 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Acuado, Bolsonaro faz pronunciamento moderado, mas não consegue evitar as mentiras

Toda a tese do texto partiu de uma premissa distorcida, com o presidente pegando apenas o que queria de mensagem oficial da OMS

Em novo pronunciamento direcionado à população, para falar sobre as novas ações contra a pandemia do Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro baixou o tom.

Diferente do teor irônico e belicoso da mensagem da semana passada, desta vez Bolsonaro não partiu para o ataque e finalmente reconheceu a gravidade da pandemia. Ele agradeceu até mesmo governadores e prefeitos.

Mas toda a tese do texto partiu de uma premissa distorcida: seu discurso pegou a parte que o interessava do diretor-geral da OMS, em que ele mencionava a tragédia econômica imposta aos mais pobres, e com longas citações de Tedros Adhanom Ghebreyesus, falou que até ele seria contra o isolamento social total.

Pois bem: ou Bolsonaro apenas viu o que queria ver ou simplesmente mentiu. No meio dessa tarde, inclusive, Ghebreyesus teve que reforçar sua mensagem, quando ouviu o presidente do Brasil distorcendo sua mensagem, na manhã desta terça.

Tedros Adhanom Ghebreyesus foi ao Twitter para ratificar sua mensagem: a OMS defende além do isolamento social, que os países desenvolvam políticas sociais para ajudar os mais pobres, que não poderão trabalhar nesse período

Em seu pronunciamento detalhou ações do governo, como o auxílio de 600 reais aos trabalhadores informais aprovado no Congresso (ele queria 200) ou o acréscimo de 1 milhão e 200 mil famílias no programa Bolsa Família (após Governadores do Nordeste lutarem para que não houvessem exclusões).

E mais importante: disse que a ameaça do vírus é real e em nenhum momento chamo de gripezinha o vírus que já matou mais de 200 pessoas em todo Brasil, incluindo uma em Alagoas.

Acreditando nas próprias palavras ou não, o próprio Bolsonaro precisava disso: enciumado com o ministro da Saúde, Mandetta, proibido pelo STF de fazer suas acões genocidas, silenciado pelo Twitter, Facebook e Instagram e com o afastamento até mesmo dos ministros Moro (Justiça) e Guedes (Economia), o presidente sabia que após 15 dias de panelaços, precisava mudar a chave.

Talvez até tarde demais. O discurso foi seguido de panelaços em todo o país e não ajudou o fato dele ter construído todo o seu racioncínio a partir de uma distorção do diretor-geral da OMS.

Seira mais ou menos como se alguém dissesse que Bolsonaro confirmou que o Covid-19 ainda não tem “vacina contra ele ou remédio com eficiência cientificamente comprovada“. O que foi literalmente o que ele falou na TV.

Mas quem ocultasse o trecho imediatamente seguinte, em que de forma irresponsável o presidente diz “apesar da hidroxicloroquina parecer bastante eficaz”, estaria distorcendo a mensagem. Mentindo. E nada do que falasse depois, importaria. Emblemático, já que Bolsonaro alardeia em todo lugar que só a liberdade nos libertará. Pois bem, continuamos presos nesta situação.