Em novo pronunciamento direcionado à população, para falar sobre as novas ações contra a pandemia do Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro baixou o tom.
Diferente do teor irônico e belicoso da mensagem da semana passada, desta vez Bolsonaro não partiu para o ataque e finalmente reconheceu a gravidade da pandemia. Ele agradeceu até mesmo governadores e prefeitos.
Mas toda a tese do texto partiu de uma premissa distorcida: seu discurso pegou a parte que o interessava do diretor-geral da OMS, em que ele mencionava a tragédia econômica imposta aos mais pobres, e com longas citações de Tedros Adhanom Ghebreyesus, falou que até ele seria contra o isolamento social total.
Pois bem: ou Bolsonaro apenas viu o que queria ver ou simplesmente mentiu. No meio dessa tarde, inclusive, Ghebreyesus teve que reforçar sua mensagem, quando ouviu o presidente do Brasil distorcendo sua mensagem, na manhã desta terça.
Em seu pronunciamento detalhou ações do governo, como o auxílio de 600 reais aos trabalhadores informais aprovado no Congresso (ele queria 200) ou o acréscimo de 1 milhão e 200 mil famílias no programa Bolsa Família (após Governadores do Nordeste lutarem para que não houvessem exclusões).
E mais importante: disse que a ameaça do vírus é real e em nenhum momento chamo de gripezinha o vírus que já matou mais de 200 pessoas em todo Brasil, incluindo uma em Alagoas.
Acreditando nas próprias palavras ou não, o próprio Bolsonaro precisava disso: enciumado com o ministro da Saúde, Mandetta, proibido pelo STF de fazer suas acões genocidas, silenciado pelo Twitter, Facebook e Instagram e com o afastamento até mesmo dos ministros Moro (Justiça) e Guedes (Economia), o presidente sabia que após 15 dias de panelaços, precisava mudar a chave.
Talvez até tarde demais. O discurso foi seguido de panelaços em todo o país e não ajudou o fato dele ter construído todo o seu racioncínio a partir de uma distorção do diretor-geral da OMS.
Seira mais ou menos como se alguém dissesse que Bolsonaro confirmou que o Covid-19 ainda não tem “vacina contra ele ou remédio com eficiência cientificamente comprovada“. O que foi literalmente o que ele falou na TV.
Mas quem ocultasse o trecho imediatamente seguinte, em que de forma irresponsável o presidente diz “apesar da hidroxicloroquina parecer bastante eficaz”, estaria distorcendo a mensagem. Mentindo. E nada do que falasse depois, importaria. Emblemático, já que Bolsonaro alardeia em todo lugar que só a liberdade nos libertará. Pois bem, continuamos presos nesta situação.