25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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Além do racismo, fascimo e das fake news, é preciso se preocupar com o obtuso que acha estar correto

Ao final de tudo, acaba não importando muito quem é emissor ou apenas um receptor que aceita o discurso de ódio

https://www.youtube.com/watch?v=1zSL8yER_Wk

Nesta semana, o chefe do sindicato dos policiais de Nova York fez um discurso passional. Sob as asas de vários colegas, ele gritava aos microfones culpando a mídia por jogar a população contra eles. Disse que seu distintivo ainda brilha e não será manchado. Se absteve de qualquer culpa.

No momento, os Estados Unidos passam por uma espécie de revolução nas ruas, semelhante aos protestos pelos Direitos Civis de décadas atrás. O estopim foi mais uma morte de um negro, George Floyd, por causa de um policial branco.

E como você pode ver no vídeo, editado com justaposição de flagrantes de violência policial, as imagens mais do que contradizem as palavras gritadas por este policial.

Mas mesmo assim, não tenham dúvidas: ele está revoltando não por ter sido pego em flagrante ou por medo de perder o emprego, mas sim por achar que os policias não fizeram nada de errado. E que o trabalho deve ser realmente assim.

Claro, com ele, há muitos ainda que compartilham a ideia: siga as leis e nada vai acontecer com você. “Todas as vidas importam” e pregar que “vidas negras importam” é um caso de racismo reverso (recomendo ler mais aqui).

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, faz parte desta onda: ele disse que o homem de 75 anos, filmado sendo empurrado por um policial e que acabou tendo um traumatismo craniano, era um antifa. E que se jogou ao chão com mais força do que fora empurrado para mentir sobre o traumatismo. O homem tinha 75 anos. Mais velho que Trump, de 73.

E isso acaba sendo o mais frustrante de tudo: chega um momento em que nos deparamos com estes fatos horríveis e precisamos nos perguntar se estamos lidando apenas com pessoas de índole vil e diabólica, que fazem de tudo para enganar a opinião pública, ou se são “apenas” inerentemente racistas, fascistas e desconectados da realidade.

No final das contas, acaba não sendo importante: seja a pessoa que começa a mentira e a propaga, ou mesmo seus simpatizantes, que de forma bovina acreditam cegamente em conspirações e teorias infundadas, acabam sendo partes iguais do problema.

Estamos lidando com pessoas que pregam que a Terra não é plana, que vacinas fazem mal, que educação sexual é reprogramação de gênero, que uma pandemia que afeta todo o planeta (que é redondo!) é uma farsa chinesa apenas para derrubar um presidente em particular.

E em um mundo de frustrações, em que protestos silenciosos são contra-atacados com força desproporcional (jogadores que pacificamente se ajoelhavam durante a execução do hino nacional foram duramente criticados por Trump e aliados), infelizmente atingiu-se um ponto de ebulição inevitável, onde o oprimido não consegue mais ficar calado.

Claro, aquele que é racista, fascista, propagador de fake news ou simplesmente um obtuso que distorce a realidade, e piamente acredita estar certo, faz o que sabe melhor: antagoniza e solta factóides.

Hoje temos líderes afirmando que são marginais ou terroristas todos aqueles que têm uma ideia diferente das deles. Mesmo estes líderes defendendo atitudes criminosas e belicosas. Mesmo se dizendo religiosos e falando em nome dos cristãos, mas que agem de uma maneira totalmente torta. Ou pior: quando mostram como realmente são vis, acabam passando por honestos. O que não é nada Cristão.

“Raça de víboras! Como podeis falar coisas boas, sendo maus? Pois a boca fala do que está cheio o coração”. Citação de Jesus Cristo em Mateus 12:34.

Independente de tudo, temos hoje em instituições, nos mais altos escalões, figuras que personificam o ódio. Não só numa maneira figurada, mas literal mesmo. Já temos inclusive à disposição uma catálogo enorme de imagens, áudios e vídeos do quão ruins eles podem ser.

Mas quão ruins? Como categorizar o cerne do racismo, fascismo ou “mentirismo” de uma pessoa? Eles fazem isso de forma hedionda para conquista de espaço, poder e dinheiro, moldando a opinião pública a favor deles? Ou fazem apenas “sem querer”, pois este comportamento hediondo já estaria enraizado neles?

É pior o mentiroso ou o ingênuo que prefere acreditar no discurso de ódio? Grosso modo, se passamos por uma pandemia em que precisamos ficar em quarentena, mas a todo momento um líder completamente sabota esse plano, quem seria o culpado pela falha do distanciamento social? Quem disse ser “histeria” e “plano conspiratório de governadores”, ou quem acreditou na sandice?

Se alguém a todo momento antagoniza rivais políticos, protestantes e jornalistas, chegando ao ponto de encaixar apelidos de 5ª série para um canal de televisão, de quem é a culpa se/quando algo mais grave acontecer? Dos líderes que berram contra os inimigos ou de seus seguidores bovinos, que com uma bíblia na mão e uma faca na outra invadem uma emissora, gritando “Globo Lixo”, para encontrar a apresentadora do telejornal inimigo?

Chega um momento em que não importa mesmo. Nas mensagens de ódio, emissor ou receptor estão juntos nessa. Não importa se eles criaram o fato em cometeram o ato de ódio: se este é compartilhado e tomado como establishment, as duas partes precisam ser combatidas. Seja com correção, ou punição. E o mais rápido possível, ou não haverá tempo para isso: os demais já serão sufocados.