27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Policia

Antes do assassinato: Briga de Carlos Bolsonaro com assessor de Marielle foi relatada na polícia

Fernanda Chaves, a assessora que sobreviveu ao atentado, testemunhou uma briga do filho do presidente com a vereadora

O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) relatou, em depoimento à Polícia Civil, que teve uma discussão com um assessor da vereadora da Marielle Franco (PSOL), no corredor do nono andar da Câmara Municipal do Rio. Ele foi ouvido na condição de testemunha. A confusão foi apaziguada pela própria Marielle.

Carlos é um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O nome deles veio à tona depois que a TV Globo divulgou uma menção nominal ao presidente no inquérito do duplo homicídio da vereadora e do motorista dela, Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março de 2018. O presidente negou qualquer envolvimento no Caso Marielle.

Em seu depoimento, Carlos Bolsonaro também foi questionado sobre a possível atuação de Marielle contra temas de interesse de milícias, e respondeu que não tinha conhecimento disso, e afirmou que o assunto fugia à alçada da Câmara Municipal.

O vereador também foi perguntado sobre o trabalho de Marielle junto ao então deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), hoje deputado federal, na CPI das Milícias da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), em 2008. Carlos disse só ter ficado sabendo deste trabalho depois que ela foi eleita.

Carlos Bolsonaro ainda declarou que Marielle não participou da discussão a respeito de projeto de verticalização da favela de Rio das Pedras, zona oeste do Rio, reduto das milícias cariocas e do Escritório do Crime — quadrilha cujos membros são suspeitos de envolvimento na morte da vereadora. Segundo Carlos, o projeto não foi adiante.

Sobrevivente testemunhou briga

Fernanda Chaves, a assessora que acompanhava Marielle Franco na noite do assassinato e sobreviveu, contou à polícia, em março do ano passado, que a vereadora tivera uma briga pública com Carlos Bolsonaro no começo de seu mandato, em 2017.

O depoimento de Fernanda foi logo após o assassinato. Segundo Fernanda, ainda em 2017, Carlos, passando pelo corredor, ouviu uma conversa de um assessor de Marielle com uma pesquisadora mexicana. Ao apontar para o gabinete de Carlos, o assessor referiu-se a ele como “fascista”. Carlos estava no telefone, mas ouviu e começou a discutir com o funcionário.

Relato na Policia

No dia 26 de abril do ano passado, pouco mais de um mês após o crime, Carlos Bolsonaro prestou depoimento ao delegado Giniton Lages, então titular da DH da Capital (Delegacia de Homicídios do Rio).

Os gabinetes de Carlos e Marielle eram vizinhos no nono andar da Câmara. Em seu depoimento, o vereador afirmou que um assessor de Marielle dava entrevista a uma emissora espanhola e o chamou “fascista” quando ele passava pelo corredor.

Carlos declarou que questionou o funcionário sobre o motivo da agressão verbal. Ainda segundo o vereador, a própria Marielle “intercedeu para acalmar os ânimos, encerrando a discussão”. Ele não informou a data em que o bate-boca aconteceu.

O vereador disse ainda que mantinha um relacionamento “respeitoso e cordial” com Marielle, apesar das divergências políticas. Ele afirmou ter ficado sabendo do assassinato da vereadora pela imprensa.