19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Economia

Bolsonaro culpa coronavírus pela alta do dólar, que pode se manter nesse patamar

Mercado ainda se preocupa com choques entre presidente e o Congresso, que multiplicam as dúvidas de investidores

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) culpou nesta quinta-feira (27) o surto do novo coronavírus nela nova escalada do dólar e afirmou que tem falado com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas negou que interfira na atuação do Banco Central, responsável pela política monetária e comandado pelo Roberto Campos Neto.

“Estamos tendo problema nesse vírus aí, o coronavírus. O mundo todo está sofrendo. As Bolsas estão caindo no mundo todo, com raríssimas exceções. O dólar também está se valorizando no mundo todo, e no Brasil o dólar está R$ 4,40. A gente lamenta, porque isso aí, mais cedo ou mais tarde, vai influenciar naquilo que nós importamos, até no pão, o trigo. Vai influenciar”. Jair Bolsonaro, presidente.

Na verdade, a cotação da moeda americana nesta quinta-feira (27) fechou em alta de 0,6%, a R$ 4,477, novo recorde nominal. Na máxima da sessão, o dólar superou os R$ 4,50 pela primeira vez na história. Dentre as principais moedas globais, o real teve o terceiro pior desempenho do pregão. No ano, a divisa brasileira tem a pior performance, com queda de 11,5% ante o dólar.

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O surto da doença, que já tem pelo menos um caso confirmado no Brasil, também levou à queda do Ibovespa. A Bolsa brasileira fechou em baixa de 2,6% —a quarta seguida— a 102.983 pontos, menor patamar desde 10 de outubro de 2019.

Dólar

Segundo especialistas do mercado, a moeda americana pode voltar a testar o limite dos R$ 4,50 e até se estabilizar nesse patamar. E isso vai depender de três fatores: o ritmo de contágio do coronavírus, uma atuação discreta do Banco Central no mercado e se o governo de Jair Bolsonaro vai continuar agredindo o Congresso e atrapalhar o andamento das reformas.

Economistas e gestores de recursos enxergam que a alta do dólar não depende apenas do contágio: esse problema é amplificado pelos novos choques entre Jair Bolsonaro e o Congresso, que multiplicam as dúvidas de investidores locais e estrangeiros sobre a capacidade que esse governo tem para entregar as reformas administrativa e tributária Paulo Guede considera fundamentais.

Além disso, o mercado ainda não achou um ponto de equilíbrio para o dólar na nova realidade brasileira de juros baixos, com a Selic em patamares mínimos históricos. O mercado já interpretou que o dólar acima de R$ 4,30 não incomoda nem o Banco Central nem o ministro da Economia.

Risco Global

Ainda nesta quinta, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou que o coronavírus pode afetar também o crescimento global neste ano e o preço das commodities. Ele afirmou que é preciso esperar para saber quais serão os efeitos no Brasil, mas reconheceu que o país pode ser afetado

“O risco é tanto no preço de commodities como no crescimento menor do mundo. A gente tem que observar e estar preparado”, afirmou. O Ministério da Economia está monitorando o avanço do contágio e seus possíveis impactos na economia. Nas próximas semanas, o time de Paulo Guedes (Economia) deve divulgar um relatório com a nova projeção para o PIB de 2020 (hoje em 2,4%).