19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro discursará na ONU para corrigir erros feitos por ele e mudar imagem do Brasil

É tradição e não regra, mas presidentes brasileiros tem como praxe fazerem o discurso de abertura; Amazônia e corrupção estarão em pauta

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) faz amanhã (24) sua estreia na abertura da Assembleia-Geral da ONU com um discurso que tenta reduzir os danos na imagem do Brasil após os embates diplomáticos iniciados em torno dos focos de incêndio na Amazônia.

A fala do presidente na Organização das Nações Unidas deverá mostrar que o país se preocupa com o desenvolvimento sustentável e consegue ser uma potência no agronegócio aliada à preservação do meio ambiente. O objetivo do governo é rebater críticas de que Bolsonaro apoia a destruição da natureza e tentar passar uma imagem positiva do país.

A imagem do Brasil no exterior foi desgastada nas últimas semanas com o avanço de queimadas e desmatamento na Amazônia e por declarações consideradas polêmicas, como a de que reservas indígenas querem inviabilizar o país com a ajuda de ONGs (Organizações Não Governamentais) e o endosso a comentário ofensivo à primeira-dama francesa, Brigitte Macron.

Discurso

O presidente deve citar algumas ações que o governo federal tem promovido para combater as queimadas e dizer que está aberto à ajuda internacional. Bolsonaro deve voltar a defender soberania dos países da região amazônica.

Em transmissão ao vivo na quinta (19) pelo Facebook, Bolsonaro classificou o discurso como “objetivo” e disse que “ninguém vai brigar com ninguém lá”.

“Sabemos que pode ter algum problema lá. É natural. Mas, vocês vão ter um presidente que vai falar com o coração, com patriotismo e falando em soberania nacional”. Jair Bolsonaro, presidente.

O presidente disse “estar na cara que vai ser cobrado” por parte dos países participantes, que o julgam responsável pelos incêndios na Amazônia, mas se defendeu dizendo não incentivar queimadas. E voltou a falar que alguns países europeus têm interesse em aumentar a demarcação de reservas indígenas e quilombos para explorar a “riqueza debaixo da terra”.

O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afirmou que Bolsonaro “vai esclarecer de uma vez por todas essa questão Brasil versus meio ambiente”.

Outros temas que devem entrar no discurso são o combate à corrupção e a abertura do mercado brasileiro a investimentos estrangeiros, sem favorecimento causado por alinhamento ideológico.

O presidente já disse também ter analisado os discursos de ex-presidentes brasileiros na ONU e sua participação vai ser diferente, porque antes “se falava, mas não se dizia nada”.

Brasil na ONU

Na Assembleia-geral da ONU, é praxe o Brasil fazer o discurso de abertura. É tradição e não regra, mas presidentes brasileiros só passaram a abrir a reunião a partir de 1982, com o presidente do regime militar João Baptista de Oliveira Figueiredo. O ex-presidente José Sarney, que assumiu o cargo com a doença e subsequente morte de Tancredo Neves, discursou em duas ocasiões.

O ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello (PROS-AL) também discursou em duas ocasiões antes do impeachment. Itamar Franco, seu sucessor, não discursou nenhuma vez —mandou seus chanceleres, Celso Lafer e Celso Amorim.

Eleito em 1994, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) discursou somente uma vez, em 2001. Em outras seis ocasiões, mandou seus chanceleres, Luiz Felipe Lampreia e Lafer, para representar o Brasil.

Quando assumiu a Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu quase todas as Assembleias-Gerais da ONU. Em 2005, em meio ao escândalo do mensalão, seu chanceler, Celso Amorim, discursou na plenária.

Lula participou da Assembleia dias antes, na reunião do Conselho de Segurança da ONU e em reuniões sobre desenvolvimento e financiamento de ações de combate à pobreza. Em 2010, Amorim discursou tanto na Assembleia quanto no Conselho de Segurança.

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) discursou em todas as ocasiões enquanto ocupou a Presidência. Foi também a primeira mulher a abrir a Assembleia da ONU. Após o impeachment, Michel Temer (MDB) assumiu o cargo e discursou nas três ocasiões em que o evento foi realizado.