26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Economia

Bolsonaro foi pego de surpresa com novo imposto de Trump

Tarifa no aço e alumínio é visto como represália por relações com a China

Nesta manhã desta segunda (2), Donald Trump anunciou que vai impor tarifas sobre as importações de aço e alumínio procedentes de Brasil e Argentina, afirmando que os países “desvalorizaram fortemente suas moedas, o que não é bom para nossos agricultores”.

O anúncio pegou de surpresa o governo brasileiro e analistas e integrantes da Casa Branca avaliam que o flerte entre Jair Bolsonaro e a China foi um agravante para a medida divulgada por Donald Trump.

Segundo membros do Itamaraty, não houve nenhum sinal nos últimos dias de preocupação por parte dos EUA sobre a situação do aço e alumínio importados do Brasil, nem mesmo durante passagem do ministro Paulo Guedes (Economia) por Washington, na semana passada.

Bolsonaro já afirmou que telefonaria para Trump, para encontrar uma solução contra a ameaça de retomada das tarifas de importação. “Se for o caso, ligo para o Trump. Eu tenho um canal aberto com ele”, disse Bolsonaro.

Assim, desde a manhã desta segunda-feira (2), integrantes do governo brasileiro foram escalados para contatar a Casa Branca e o Congresso americano e tentar entender as razões que estimularam a decisão de Trump.

Além disso, pretendem explicar o funcionamento da política de câmbio e da indústria de aço no Brasil, na tentativa de fazer os EUA reverem a medida.

O presidente americano distorceu fatos, como costuma fazer, ao dizer que Brasil e Argentina desvalorizam propositalmente suas moedas para tirar vantagem da alta cotação do dólar.

O Banco Central brasileiro, porém, interveio na semana passada para tentar reduzir a desvalorização do Real.

A avaliação entre diplomatas brasileiros é que o anúncio de Trump é um forte ingrediente que prejudica a imagem de boa relação que o Brasil tenta estabelecer com os EUA desde a eleição de Bolsonaro.

O presidente da República Popular da China, Xi Jinping e o presidente Jair Bolsonaro, durante declaração à imprensa no Palácio do Itamaraty, em Brasília

China

Em meio à guerra comercial que estabelece com a China e às vésperas da eleição em que tenta ser reconduzido ao comando da Casa Branca, Trump decidiu reforçar mais uma vez sua política econômica protecionista.

Setores exportadores do Brasil e da Argentina têm sido beneficiados com a alta do dólar e substituído americanos na venda de produtos para os chineses. Os argentinos, por exemplo, anunciaram recentemente que passarão a exportar farelo de soja para Pequim após duas décadas de negociação.

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta manhã que a decisão é reflexo da tensão geopolítica com a China. E disse que a desvalorização artificial da moeda, motivo sinalizado por Trump para o aumento tarifário “não está acontecendo”, mas não criticou o líder americano.

Bolsonaro esteve no mês passado com o líder chinês, Xi Jinping, em Brasília, para a reunião da cúpula do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Na ocasião, o presidente brasileiro afirmou que a potência asiática “cada vez mais faz parte do futuro do Brasil” e que pretendia diversificar as relações comerciais com o país.

Os EUA também têm pressionado o Brasil contra a entrada da empresa chinesa Huawei no mercado de 5G.

Ainda em novembro, Bolsonaro se reuniu com o presidente-executivo da Huawei no Brasil, Wei Yao, e disse que a gigante havia mostrado interesse no país –o leilão de 5G deve ser realizado no segundo semestre de 2020.

O ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), por sua vez, disse em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo que o Brasil não imporia restrições a nenhuma tecnologia, nem à chinesa.

Tarifas

Em março de 2018, Trump estabeleceu tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados aos EUA, um dos maiores compradores mundiais desses insumos.

À época, o governo brasileiro disse que as tarifas estabelecidas eram injustificadas, mas que permanecia aberto para encontrar uma solução.

Um dos principais argumentos do Planalto era que mais da metade do aço importado pelos americanos  serve de insumo para a indústria dos EUA, e que os brasileiros também compram carvão de West Virgínia, uma região pobre que depende bastante desse tipo de comércio.

Dessa forma, o Brasil conseguiu entrar em uma lista de países que ficaram isentos com o aço, dentro de uma cota quantitativa, que não tem sido ultrapassada.

Esses argumentos voltarão a ser utilizados pelo governo brasileiro na conversa com os americanos no novo capítulo inaugurado esta semana.