28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro já não confia 100% em Moro, mas bancada evangélica blindará ex-juiz

Por outro lado, Bolsonaro já prepara terreno e diz não confiar 100% no atual ministro da Justiça

Feliciano coloca Moro “amarrado, em nome de Jesus”

O ministro Sergio Moro, da Justiça, receberá apoio de forma incondicional da bancada evangélica da Câmara dos Deputados, a mais próxima de Jair Bolsonaro. Na semana passada, cerca de trinta parlamentares evangélicos se encontraram com Moro e garantiram a ele a blindagem:

“Fizemos uma oração e abençoamos a vida dele. Pedimos que Deus dê tranquilidade ao ministro. Ele está blindado por nós”. Marco Feliciano, pastor e deputado (Pode-SP).

Isso aconteceu quando Feliciano viajou com Bolsonaro e Moro para Belém na quinta (13), onde participaram da celebração dos 108 anos da Assembleia de Deus no Brasil. Na ocasião, Moro foi ovacionado.

Pra constar, já neste final de semana, Bolsonaro já disse não confiar 100% com o juiz, hoje ministro da Justiça. Após o escândalo da Vaza Jato, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) defendeu o legado de seu ministro, mas que não existe confiança 100%.

“Eu não sei das particularidades da vida do Moro. Eu não frequento a casa dele. Ele não frequenta a minha casa por questão até de local onde moram nossas famílias. Mas, mesmo assim, meu pai dizia para mim: Confie 100% só em mim e minha mãe”. Jair Bolsonaro, presidente.

Bolsonaro e evangélicos em congresso em Belem

Contradições

O ministro da Justiça, Sergio Moro, e procuradores da Operação Lava Jato prestaram explicações sobre o vazamento de mensagens de Telegram. Algumas delas, entretanto, contraditórias. Veja como foi o roteiro, principalmente de Moro, a medida que as acusações iam ficando mais sérias:

  1. Não enfatizar o conteúdo das mensagens;
  2. Enfatizar a forma como as mensagens foram obtidas (uma invasão hacker) ou dizer que os próprios jornalistas se aliaram a criminosos
  3. Afirmar que as mensagens não indicam irregularidade criminal, moral ou ética praticada
  4. Levantar a hipótese de que os diálogos tenham sido adulterados

Apesar disso, em oito dias, nenhuma mensagem, ou sequer um trecho delas, foi apontada como falsa ou adulterada. Os diálogos entre o ex-juiz e o coordenador da força-tarefa Deltan Dallagnol indicam que o magistrado orientou como o Ministério Público deveria agira em sua estratégia investigativa e de comunicação com a sociedade.

Em uma deles, Moro disse que só 30% dos crimes da delação da Odebrecht deveriam ser apurados.

Conversas de Moro e Dallagnol surgem como uma bomba no cenário jurídico e político

Lava Jato antes da Vaza Jato

Quando era juiz, Moro defendia ouvir criminosos para se descobrir verdades ocultas. Ele enfatizava isso quando anotou em vários despachos e sentenças para justificar a tomada de depoimentos de delatores, réus confessos que aceitavam denunciar a si mesmos e a outros em troca de redução de suas penas.

“Em outras palavras, crimes não são cometidos no céu e, em muitos casos, as únicas pessoas que podem servir como testemunhas são igualmente criminosos” Sergio Moro, em sentenças de 17 de setembro de 2014 e de 13 de maio de 2018.

Isso, claro, é totalmente contraditório ao que ele disse na última sexta-feira (14) pela manhã, quando criticou os jornalistas do Intercept por obter documentos com uma fonte que ele considera um “fora da lei”. E disse que o site é “aliado a hackers criminosos”.

Eoeo