29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro pedirá perícia independente do miliciano ligado ao filho Flávio

Presidente levantou suspeita sobre a perícia oficial e a possibilidade de mensagens serem plantadas para incriminá-lo

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta terça (18) que vai pedir uma perícia independente sobre a morte do ex-policial militar Adriano Nóbrega, morto durante operação policial no interior da Bahia.

De acordo com Bolsonaro, o Ministério Público Federal na Bahia também deve cobrar uma perícia independente “para começar a desvendar as circunstâncias em que ele morreu, e porque poderia interessar para alguém a queima de arquivo”.

O ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi morto no dia 9 deste mês, no município de Esplanada, na Bahia.

Nóbrega era investigado por diversos crimes, e procurado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. Ele também era procurado pelo envolvimento nas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Franco, em março de 2018.

“Já tomei as providências legais para que seja feita uma perícia independente. Sem isso vocês não têm como buscar até, quem sabe, quem matou a Marielle. A quem interessa não desvendar a morte da Marielle?. Uma perícia independente vai dizer se ele foi torturado, se não foi, a que distância foram os tiros, e tinham dezenas de pessoas cercando a casa. A conduta não é essa, a conduta é cercar e buscar negociação para se render”. Jair Bolsonaro, presidente.

Bolsonaro citou matéria da revista Veja, divulgada esta semana, que traz fotos da autópsia que indicam que os tiros que mataram Adriano Nóbrega foram disparados a curta distância.

O presidente também levantou suspeita sobre a perícia que será feita nos telefones apreendidos com Adriano Nóbrega e a possibilidade de mensagens serem plantadas para incriminá-lo.

“Será que essa perícia poderá ser insuspeita? Eu quero uma perícia insuspeita. Não queremos que sejam inseridos áudios no telefone dele ou conversações de Whatsapp. Depois que se faz uma perícia que porventura a pessoa atingida pode ser eu, apesar de ser presidente da República, quanto tempo levaria uma nova perícia?”. Jair Bolsonaro.

Flávio Bolsonaro

De acordo com o Ministério Público, contas bancárias controladas pelo ex-policial foram usadas para abastecer Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio suspeito de operar o esquema no gabinete do então deputado estadual no Rio. Queiroz é amigo do presidente da República.

Adriano teve duas parentes nomeadas no antigo gabinete de Flávio. Mensagens interceptadas com autorização judicial mostram ele discutindo a exoneração da esposa, Danielle da Nóbrega, do cargo.

Ele também foi defendido por Jair Bolsonaro, então deputado federal, em discurso na Câmara em 2005, quando foi condenado por um homicídio. O ex-PM seria absolvido depois em novo julgamento. Enquanto estava preso preventivamente pelo crime, foi condecorado por Flávio com a Medalha Tiradentes.

Parlamentares de diversos partidos consideraram a morte de Adriano um episódio grave, mas dizem acreditar que não haverá consequências no Congresso pois Flávio, que já assumiu o mandato como alvo das suspeitas, costuma ter atuação mais discreta no Senado.

Suspeita de execução

O governo da Bahia diz não ter imagens da operação que matou o ex-PM Adriano da Nóbrega. De acordo com a secretaria de segurança baiana, não é praxe realizar filmagens.

Ele foi morto em uma fazenda que abriga um parque de vaquejada na Bahia com dezenas de bois e vacas cercados por coqueiros e, a 8 km de um sítio rodeado por casas e pequenos estabelecimentos comerciais. Estes foram os dois últimos esconderijos do miliciano antes de ser morto no domingo (10) durante operação policial.

O cenário em Esplanada (a 170 km de Salvador) que serviu de abrigo ao ex-capitão do Bope do Rio foi descoberto pela ação conjunta das polícias baiana e fluminense.

Os esconderijos e a rota de fuga indicam que Adriano recebeu ajuda, mas os donos dos imóveis, um pecuarista e um vereador do PSL, negam vínculo com ele e conhecimento de que se tratava de um miliciano do Rio foragido da polícia.

Segundo a versão oficial, Adriano tinha em sua mão uma pistola austríaca 9 mm e foi baleado após reagir a tiros contra a polícia. O miliciano estava sozinho em um terreno cercado.

O empresário e pecuarista Leandro Abreu Guimarães, dono da fazenda e parque de vaquejada Gilton Guimarães, também foi preso durante a operação das polícias da Bahia e do Rio sob acusação de porte ilegal de armas —ele tinha duas espingardas e um revólver não registrados. Leandro e Adriano já se conheciam do circuito de vaquejadas, conforme a versão do pecuarista