28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Bolsonaro tenta mitar com mortos na pandemia, mas leva um xeque da Globo

Presidente abertamente admitiu que mudou horário do boletim do Ministério da Saúde (de 17h para 22h) para fugir do Jornal Nacional, mas não esperava pelo “Plantão” assim que números foram divulgados.

Enquanto o Brasil segue batendo infelizes recordes nessa pandemia (que não é uma histeria), o presidente Jair Bolsonaro resolveu politizar mais ainda o número de mortos na pandemia.

Ele, que já havia chamado a Globo de TV Funerária por divulgar o número de mortos, admitiu que ao mudar o horário do boletim diário do novo coronavírus iria esvazia as pautas do Jornal Nacional.

A decisão é permanente e, a partir de agora, a divulgação será apenas às 22 horas. A estratégia é evitar que os dados estejam disponíveis no horário dos telejornais noturnos, período em que as televisões têm maior audiência, pois muitos dos brasileiros estão em casa.

Mas ao tentar mitar (e ganhar risadas questionáveis de um apoiador), não espera pelo “Plantão da Globo”, que foi levado ao ar às 21h45, durante a novela “Fina Estampa”, assim que os números foram divulgados.

Lá estava William Bonner, ainda no estúdio do JN, mas com uma média de 31 pontos na pesquisa em tempo real do ibope em São Paulo. Se o Ministério da Saúde tivesse respeitado o cronograma antigo, a repercussão dos dados em seu bloco inicial, por volta das 20h30, o ibope ficaria entre 25 e 26 pontos.

De forma preocupante, o presidente tentou passar por debaixo dos panos o número de mortos na pandemia. E conseguiu atiçar mais ainda uma guerra franca que ele mesmo abriu contra a Globo. Na edição daquela noite, por exemplo, foi lida a seguinte nota:

Isso tudo depois de ignorar a matemática pura, já que se todo dia é levado em conta óbitos anteriores, não é preciso muito raciocínio para observar que se a média for feita, os números batem ou são até mesmo maiores.

Ao menos ele e seus apoiadores poderão ficar falando de “Globolixo” e tentar desviar de outra pauta complicada: Trump citou o Brasil e Suécia como péssimos exemplos na pandemia, e disse que se o distanciamento vertical (ou diagonal) defendido por Bolsonaro fosse usado nos EUA, mais de 2 milhões de americanos já estariam mortos.

E até mesmo esse número seria difícil de deixar embaixo do tapete. Por mais que ele tentasse.