28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Censurando jornal escancaradamente, Bolsonaro incentiva o mesmo com anunciantes da Folha

Ex-ministro, Bebianno diz que as ameaças feitas aos anunciantes são o suficiente para iniciar um processo de impeachment

A censura praticada pelo governo Bolsonaro vem ficando cada vez mais clara e evidente. E no mais recente ataque à censura de imprensa, a Presidência da República excluiu a Folha da relação de veículos nacionais e internacionais exigidos em um processo de licitação para fornecimento de acesso digital ao noticiário da imprensa.

Esta foi uma promessa (ou ameaça) cumprida no dia 31 de outubro, quando o presidente Jair Bolsonaro anunciou que havia determinado o cancelamento de todas as assinaturas da Folha no governo federal.

“Determinei que todo o governo federal rescinda e cancele a assinatura da Folha de S.Paulo. A ordem que eu dei é que nenhum órgão do meu governo vai receber o jornal Folha de S.Paulo aqui em Brasília. Está determinado. É o que eu posso fazer, mas nada além disso”. Jair Bolsonaro, presidente em entrevista à TV Bandeirantes.

Agora, o edital do pregão eletrônico publicado quinta-feira (28) no Diário Oficial da União prevê a contratação por um ano, prorrogável por mais cinco, de uma empresa especializada em oferecer a assinatura dos veículos à Presidência.

A lista cita 24 jornais e 10 revistas. A Folha não é mencionada. O pregão eletrônico, marcado para 10 de dezembro, tem um valor total estimado de R$ 194 mil: R$ 131 mil para jornais e R$ 63 mil para revistas.

O edital prevê, por exemplo, 438 assinaturas de jornais, sendo 74 de O Globo e 73 de O Estado de S. Paulo. Em relação às revistas, a exigência é de 44 acessos digitais à Veja, 44 à IstoÉ, além de 14 à Carta Capital. Também estão no edital veículos internacionais, como o The New York Times e o El País.

Bolsonaro encara meios de comunicação como inimigos

Reações

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, disse que “mais uma vez o presidente demonstra seu pouco apreço ao livre debate, essencial à democracia, e sua intolerância com o contraditório”.

Já Marcelo Rech, presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais), lamentou o fato de o presidente ter optado por um caminho que significará menos pluralidade e informação profissional para o serviço federal.

O PSB aprovou neste sábado (30) uma moção de repúdio ao “ato arbitrário” do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) em retirar a Folha de S.Paulo de um edital de renovação de jornais e revistas da administração federal.

O partido também criticou o presidente por “incitar boicote aos anunciantes do jornal”.

Ataque aos anunciantes

“A decisão do presidente de retirar o jornal Folha de S. Paulo da licitação do governo federal e a incitação a boicotes aos seus anunciantes são uma grave tentativa de sufocar financeiramente uma voz quase secular da imprensa de nosso país”. Nota do PSB.

De acordo com o PSB, o ato de Bolsonaro é um “ataque à liberdade de imprensa e de expressão”, “além de caracterizar abuso de poder político e desvio de finalidade”.

Para o presidente da sigla, Carlos Siqueira, a declaração do presidente corresponde a “espécie de restrição grave à liberdade de imprensa quando ele investe pesadamente contra um veículo de comunicação”.

Líder do partido na Câmara, deputado Tadeu Alencar (PSB-PE), afirmou que o presidente “flerta, namora e quer se casar com o autoritarismo”.

Bebianno fala em Impeachment

Ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro e hoje desafeto do presidente, Gustavo Bebianno se filiou no domingo (1) ao PSDB e assumiu a presidência do diretório municipal do Rio de Janeiro. A cerimônia de filiação contou com a presença do governador tucano João Doria. Bebianno aproveitou a oportunidade para repetir um alerta que vem fazendo há tempos:

“O momento político que nós atravessamos hoje é grave, gravíssimo, nossa democracia está em risco. Tudo que o presidente quer é um pretexto para a adoção de medidas autoritárias”. Gustavo Bebianno, ex-ministro do governo Bolsonaro.

Bebianno, o fato de o presidente não ter incluído o jornal Folha de S. Paulo na licitação dos veículos de comunicação que serão comprados pelo governo e as ameaças feitas a seus anunciantes são o suficiente para iniciar um processo de impedimento de Bolsonaro.