29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Centrão ganhará cargos no alto escalão e Bolsonaro já ameaça ministros que não aceitarem

Paulo Guedes é um dos que oferece resistência à entrega de cargos e já sofre fritura de Arthur Lira, aliado do presidente

Promessa de campanha, a velha política estava com os dias contados segundo Jair Bolsonaro. Todos seus ministros e cargos de confiança seriam ocupados apenas com nomeações técnicas.

Não durou muito para que o “tome lá, da cá” volte de vez. Se é que algum dia já deixou de acontecer, vide a troca de bilhões em emendas na troca de votos no Congresso.

A bola da vez, agora, é sobrevivência política. Com a imagem cada vez mais arranhada (e podendo piorar com o depoimento de Moro na PF), o presidente já se arma para ter votos suficiente e vencer um possível processo de impeachment contra ele.

Para evitar esse risco, Bolsonaro precisa ter ao seu lado pelo menos 172 dos 513 deputados federais. E nada melhor para se ter um bom número do que se aliar ao Centrão. E se até Moro ou Mandetta caíram, os demais aliados já viram que não são intocáveis.

Líderes de partidos do chamado centrão afirmam que o presidente enquadrou nos últimos dias ministros que resistiam em ceder cargos de suas pastas ao grupo, deixando claro que quem se opuser pode ser demitido do governo.

Já é dado como certa a distribuição de postos de segundo e terceiro escalão ao centrão e que não aceitará recusas. Bolsonaro realmente precisa do centrão, que reúne cerca de 200 dos 513 deputados.

Ao mesmo tempo em que promoveu uma ruptura pública com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Bolsonaro passou a procurar um a um líderes e presidentes de partidos do grupo, formado principalmente por PP, PL, Republicanos, PTB e PSD, que integra oficialmente o bloco do centrão na Câmara, liderado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL).

“Por que não vou conversar com nomes do Partido Progressista que foram meus colegas por uns 15 anos? Qual o problema? Eles que votam. Se eles têm algum pecado, o eleitor do seu estado é que deve tomar providência, não vota mais. Eu não estou aqui para julgar, condenar, acusar, pedir cassação de qualquer parlamentar. Vou fazer meu trabalho e conversar.”​ Jair Bolsonaro, presidente.

O grupo aceitou de pronto as ofertas  e saiu em defesa do presidente no Congresso, rechaçando a possibilidade de abertura de processo de impeachment contra ele, situação que passou a ser aventada com mais força após a participação de Bolsonaro em atos de rua favoráveis ao fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.

Resistência

O presidente já foi cobrado pela relativa demora nas nomeações e, como resposta, disse a ministros que eles têm que abrigar os indicados pelo centrão, sob pena de perder apoios. Integrantes do Planalto informaram que os trâmites para que os nomes sejam publicados no Diário Oficial são demorados e que os indicados devem ser formalizados a partir da próxima semana.

Segundo integrantes do centrão, os principais nomes que resistiram a entregar postos chaves de suas respectivas pastas seriam Paulo Guedes (Economia), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Abraham Weintraub (Educação) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).

  • Rogério Marinho deve ter que ceder a Secretaria de Mobilidade ao Republicanos, ex-PRB, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Outras secretarias da pasta são cobiçadas pelas demais siglas do centrão.
  • Weintraub terá de ceder a presidência do FNDE (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação) para o PP, além de diretorias do órgão para Republicanos e PL. E só o que teria pedido foi criar filtros que garantissem controle de gestão e mecanismos de governança nos órgãos.
  • Arthur Lira, por exemplo, novo melhor amigo de Jair Bolsonaro, já disse que o ministro da Economia, Paulo Guedes, está mais preocupado com “bancos, com mercado financeiro e bolsa de valores” do que com a reconstrução do país. E diante de tantas frituras ministeriais, não seria surpresa nenhuma que até Paulo Guedes saia nos próximos dias.