20 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Com 7 divórcios desde o PDC em 1989, Bolsonaro vai de Aliança em seu novo casamento político

Se você troca de partido tantas vezes, o problema não é são partidos; Briga agora são pelos milhões do fundo partidário do PSL

O presidente Jair Bolsonaro, como notado em suas entrevistas coletivas e principalmente naquelas rápidas que oferece na entrada do Palácio do Planalto, costuma usar analogias com relacionamentos. Crises são sempre comparadas a brigas de namoro e uniões podem acabar em casamento.

As reuniões com Moro no Dia dos Namorados tem beijo hétero, ao alertar Alexandre Frota para que este pare de perguntar por Queiroz, diz que quer continuar transando com o ex-ator pornô. Enquanto cogitava exonerar o primeiro ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, disse que estava com a aliança no bolso, pensando em casar ou não usar e acabar o relacionamento.

Não fosse o bastante, ele ainda faz estas analogias com orgulho, rindo como se estivesse na A Praça é Nossa, e feliz quando seu público ri das falas. Por mais absurdas que elas sejam:

E diante de tantas comparações de relacionamento, não é difícil relacionar o mesmo com seu novo partido, que tem o sugestivo nome de Aliança pelo Brasil. Além do desejo de união, ele agora quer mais um casamento pelo Brasil. Só que união, ao menos partidária, não é o forte dele. Basta ver seu histórico:

  1. 1989 – se filia ao Partido Democrático Cristão
  2. 1993 – participa da fusão e criação do Partido Progressista Reformador
  3. 1995 – participa da fusão e criação do Partido Progressista Brasileiro
  4. 2003 – se filia ao Partido Trabalhista Brasileiro
  5. 2005 – se filia ao Partido da Frente Liberal
  6. 2005 – se filia ao Partido Progressista
  7. 2016 – se filia ao Partido Social Cristão
  8. 2018 – se filia ao Partido Social Liberal
  9. 2019 – pode se filiar à Aliança Pelo Brasil (em criação)

Em 30 anos de carreira partidária (inocentes o que acham que ele não seja da velha política), Bolsonaro pode partir para seu 9º partido. Em pelo menos duas vezes esteve em partidos que se fundiram, tecnicamente ficando no mesmo entre 1989 e 2003. Mas após se filhar ao PTB, fez trocas constantes. Em 2005 mesmo, foram duas novas filiações: PFL e PP.

E convenhamos: se você troca de partido 7 vezes, o problema não são os partidos. O PSL mesmo, já tem uma das maiores bancadas, e apesar disso ele não conseguia uma união de seus correligionários e conta hoje com 53 dos 513 deputados federais, segunda maior bancada atrás apenas do PT, e três dos 81 senadores.

Também vislumbrado com a verba para as eleições do próximo ano e querer o controle do mesmo, a solução foi, novamente, largar o barraco e tentar de novo. Desta vez, ele novamente não se importou em escancarar que quem mais importa é ele e ele mesmo, visto que no próprio manisfesto do partido, seu nome é mencionado:

“Muito mais que um partido, é o sonho e a inspiração de pessoas leais ao presidente Jair Bolsonaro, de unirmos o país com aliados em ideais e intenções patrióticas. Aliança é união e é força. E a Aliança pelo Brasil é o caminho que escolhemos e queremos para o futuro e para o resgate de um país massacrado pela corrupção e pela degradação moral contra as boas práticas e os bons costumes”. Trecho do manifesto do Aliança pelo Brasil.

Aliança pelo Brasil

A identidade do novo partido foi concebida para mesclar temas do militarismo com os de religião. O termo “aliança”, de Aliança pelo Brasil, remete não só a acordos estratégicos e aos casamentos de sempre, mas também à união com Deus. Verde, amarelo e azul vão predominar nas plataformas de divulgação da legenda. A ideia é abrir portas a dissidentes de outras siglas.

Para o líder do PSL na Câmara, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), é uma questão de justiça os dissidentes da legenda de Luciano Bivar (PE) levarem sua parte do fundo partidário para a Aliança pelo Brasil, sigla que o presidente Jair Bolsonaro quer criar.

Ao se tornar o segundo maior partido da Câmara, o PSL aumentou sua participação no fundo partidário: saltou de R$ 9,7 milhões em 2018 para R$ 110 milhões em 2019 – e a expectativa é que, em 2020, o valor fique entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões.

Já com relação ao fundo eleitoral, a previsão para o pleito do próximo ano é que a legenda receba quantia superior a R$ 200 milhões – graças aos mais de 10% de representação na Câmara dos Deputados.

Agora, o presidente e seus aliados precisam colher 500 mil assinaturas e entregá-las ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até março de 2020 para que o Aliança pelo Brasil possa lançar candidatos nas eleições municipais do ano que vem.

A vontade dos pesselistas dissidentes é que a coleta de assinaturas para a criação do novo partido seja feita por meio de aplicativo com certificação digital a fim de acelerar o processo. O desenvolvimento da ferramenta é supervisionado por advogados para que esteja adequada a todas as exigências do tribunal.

Questionado sobre a viabilidade do aplicativo, Silveira disse que a coleta eletrônica é “bem segura, rápida e aceita”. Os pesselistas dissidentes vão promover a primeira convenção nacional do Aliança pelo Brasil em 21 de novembro, em Brasília, segundo deputados. O estatuto e mais detalhes devem ser revelados na ocasião.

Agora é esperar para ver se, depois disso tudo, mesmo com um manifesto levando seu nome, Jair Bolsonaro ficaria mesmo neste partido para valer. Ou se, novamente, vai abusar do desapego.