29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Com crescimento de 29,5% no ano, desmatamento na Amazônia bate recorde

Aumento percentual desse ano é o terceiro maior da história, só superado pelos anos de 1995 e 1998

Entre agosto de 2018 e julho de 2019 o Brasil bateu o recorde do desmatamento na Amazônia desta década. Segundo o sistema de monitoramento Prodes, que oferece o dado mais preciso, consolidado e com nível de confiança superior a 95%, foram destruídos 9762 km², um aumento de 29,5% em comparação com o ano anterior.

Juntos, os estados de Pará, Rondônia, Mato Grosso e Amazonas foram responsáveis por 84% do total desmatado no período, cerca de 8.213 km².

O aumento percentual desse ano é o terceiro maior da história. Aumentos tão acentuados só foram vistos nos anos de 1995 e 1998. No primeiro, o crescimento foi de 95% e a taxa alcançou o pico histórico: 29.100 km² de área devastada. Já em 1998 o aumento do desmate foi de 31%.

Os dados anuais consolidados do desmatamento da Amazônia foram divulgados na manhã desta segunda (18), em São José dos Campos, na sede do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A divulgação teve a presença dos ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Marcos Pontes (Ciência), além de Darcton Damião, diretor interino do Inpe.

Para Salles, o aumento ocorreu devido à “economia ilegal” na Amazônia. O ministro anunciou que na próxima quarta (20) fará uma reunião em Brasília para tratar ações e medidas contra o desmatamento, entre as quais está a volta do TerraClass (que qualifica o desmatamento na Amazônia Legal) e o repasse de recursos do Fundo Petrobras para sua reativação.

Cientistas acuados

Para piorar tudo, com receio de represálias, pesquisadores de instituições federais brasileiras decidiram não assinar um estudo recentemente publicado sobre o aumento das queimadas sob o governo Jair Bolsonaro.

Os autores da pesquisa pretendiam trazer esclarecimentos sobre os diferentes tipos de queimadas que ocorrem na Amazônia. Mas assim que o trabalho começou, os pesquisadores perceberam que a pesquisa ia de encontro ao discurso do governo para aquele momento.

Membros do governo Bolsonaro inicialmente minimizaram as queimadas no país. Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, chegou a dizer, em uma reunião fechada com investidores e empresários em Washington, em setembro, que os satélites usados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) não conseguiam distinguir “grandes incêndios” de “fogueiras de acampamento”.

O caso mais notório foi após o presidente Bolsonaro questionar a veracidade dos dados produzidos pelo Inpe e a idoneidade de Ricardo Galvão, o ex-diretor, que defendeu a ciência produzida no instituto e respondeu aos ataques pessoais. Poucas semanas depois, foi exonerado por Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia.

Apesar disso, o pesquisador Lucas Ferrante, doutorando do programa de Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), formalizou uma denúncia por crime de lesa-pátria no Ministério Público Federal no Amazonas (MPF-AM) contra o presidente Jair Bolsonaro e os ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Agricultura, Tereza Cristina.

O crime de lesa-pátria é aquele que atenta contra a integridade territorial e a soberania nacional. Na opinião do pesquisador do Inpa, Lucas Ferrante, a revogação do decreto de 2009 afeta duramente os serviços ecossistêmicos prestados pela Amazônia.