16 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Covid-19: Conselho de Medicina autoriza hidroxicloroquina mesmo sem ‘nenhuma evidência científica’

Presidente da entidade insiste que não há evidência científica forte que sustente o uso da droga, endossada por Bolsonaro

O CFM (Conselho Federal de Medicina) ressaltou que não existe comprovação científica de que a hidroxicloroquina seja eficaz para o tratamento do novo coronavírus, mas mesmo assim liberou o uso do medicamento em três situações, incluindo no início de sintomas sugestivos de Covid-19 e em ambiente domiciliar.

O anúncio foi feito por Mauro Luiz Britto Ribeiro, presidente do CFM, após reunião com o presidente Jair Bolsonaro e com o ministro da Saúde, Nelson Teich. Ribeiro entregou às autoridades um parecer do conselho sobre a administração da substância em pessoas com Covid-19.

Bolsonaro é avido defensor da hidroxicloroquina e da cloroquina para o tratamento da doença, que ele já chamou de gripezinha e que até hoje tenta minimizar as consequências da mesma.

A defesa das medicações foi um dos pontos centrais do conflito com o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que era contrário à ampla recomendação do remédio para o coronavírus.

“Não existe nenhuma evidência científica forte que sustente o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid. É uma droga utilizada para outras doenças já há 70 anos, mas em relação ao tratamento da Covid não existe nenhum ensaio clínico prospectivo e randomizado, feito por grupos de pesquisadores de respeito, publicados revistas de ponto, que aponte qualquer tipo de benefício do uso da hidroxicloroquina no tratamento”. Mauro Luiz Britto Ribeiro, presidente do CFM.

Ribeiro ressaltou que não se trata de uma recomendação da entidade, mas de uma autorização. E também destacou que o CFM não autoriza o uso preventivo da hidroxicloroquina.

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Histórico

No dia 21 de abril, o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês), dos EUA, divulgou um documento no qual contraindica o uso de hidroxicloroquina e azitromicina para tratamento da Covid-19 por causa de sua potencial toxicidade. A entidade também não indica o uso de lopinavir/ritonavir, drogas que também estão em estudo para tratar a doença.

A recomendação foi elaborada por um painel de especialistas com representantes de pelos menos 13 entidades, como agências governamentais (entre elas a agência que regula remédios, a FDA ,e o Centro de Controle de Doenças, o CDC) e associações médicas americanas.Segundo o documento, o uso das drogas citadas só deve ser feita em ensaios clínicos.

Com relação somente à hidroxicloroquina e à cloroquina, o Niaid afirma que ainda não há dados suficientes para uma indicação a favor ou contra as drogas no tratamento da Covid-19. O documento alerta, contudo, que o uso deve ser acompanhado de monitoramento dos efeitos adversos, considerando o risco de alterações cardíacas e mal súbito.

Nos últimos dias, estudos feitos nos EUA, na França e no Brasil não mostraram benefícios da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19.

Um estudo brasileiro feito pela Prevent Senior, inclusive, começou sem aval da comissão de ética, o que pode ser fraude científica, segundo o CNS (Conselho Nacional de Saúde), órgão que integra o Ministério da Saúde.