19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Artigo

E lá se foi Vavá, nosso mestre das 4 linhas

A morte lhe encontrou sentado ao sofá, onde ficou durante três dias

Por Pedro Rocha*

Vavá: o paulojacintense que nos ensinou o futebol e cidadania

Já era noite, por volta das 18:45h, uma quarta-feira, 23-Out-19, preparando-me para o terço dos homens, Paróquia Divino Espírito Santo, Jatiúca, quando li uma mensagem pelo WhatsApp, enviada pelo Ivan Feitosa, informando, que Valdemir Pereira Bezerra (Vavá), fora encontrado sem vida em seu apto no Conjunto Castelo Branco, Jatiuca.

Fiquei atônito, diante da notícia revelada pelo amigo, que fora seu vizinho no Conjunto residencial. E cobrei caso tivesse notícias da causa da morte dele e a hora do sepultamento, retornasse para mim. De pronto, mandei uma mensagem para os amigos do Grupo Confraria EPJ (Encontro dos Paulojacintenses), informando da triste notícia! Caso alguém soubesse a respeito do velório, retornasse.

Segui em direção à Paróquia Divino Espírito Santo, próxima da minha residência e alguns metros do Conjunto Castelo Branco. Rezei o terço e pedi a Deus, o conforto da sua alma à casa do Pai eterno. E que a luz perpétua o iluminasse!

Ao chegar em casa recorri as redes sociais, mas não encontrei o retorno das indagações enviadas aos amigos. Enveredei pelas recordações de algumas passagens vivenciadas com o mestre Vavá, na adolescência e na fase adulta.

Lembro-me da sua maneira alegre, divertida de levar a vida como um eterno menino. Mesmo com a diferença de idade – uma década – e sua estatura baixa, entre a garotada não diferenciava quando estava envolto entre nós, com suas piadas contadas – às vezes simplórias – mas pela característica da narração, levava-nos as risadas.

A nossa geração – galera dos 10 aos 13 anos – foi privilegiada pela sua presença e os ensinamentos na área esportiva, na modalidade do Futebol. O início da década de 1970, após o Tri Campeonato da Seleção do Brasil, motivou a garotada a participar dos jogos de futebol. Sua dedicação e a experiência partilhada com a equipe de futebol principal da cidade de Paulo Jacinto (Vitória), nos alimentou mais ainda a prática esportiva!

O seu jeito peculiar e o tempo disponível de limpar e delimitar a área do espaço físico do campo. Fazer o contorno das áreas e círculos do campo – com a enxada e depois fazer a marcação com cal – com o auxílio da garotada, nos preparativos que antecediam aos jogos com as equipes visitantes, era motivação de solidariedade partilhada.

Além das dicas recebidas nos rachas : desarme, antecipação das tomadas de bolas dos adversários, saber se defender numa jogada mais ríspida ou mesmo na hora do posicionamento no recebimento ou entrega da bola em uma jogada. Enfim, era nosso marqueteiro nos encontros de bate papo, e dizia: – fulano é bom de bola! Ou quando estava nos eventos de outra cidade, ao encontrar com os amigos da pelota!

Vem à memória também das idas com ele a Viçosa, no dia 13 de outubro – Emancipação Política – para vê a equipe do Comercial jogar. Dos carnavais animados, onde ele com uma caixa tocava pelas ruas – ou numa garagem ao lado dos armazéns da Lagense – e levava uma multidão ao seu bloco improvisado.

Vez em quando o encontrava no Bar do Gordo, Sto Eduardo, com uma bicicleta – vindo de uma atividade de serviços gerais – ou após o seu trabalho na Secretaria de Saúde do Estado, no entorno da feirinha da Jatiuca.

O último contato com Vavá se deu quando eu e Neto Barros o levamos ao Haras de Herasto Vilela, Marechal Deodoro. Contou suas piadas, cantou sob a batuta do violão do João Ribeiro, tomou umas, riu bastante e depois se refugiou no balançar de uma rede. A noite caia quando retornamos e o deixei nas proximidades do Conjunto Castelo Branco.

A vida tem lá as suas façanhas e ele passou por nós – mesmo um pouco equidistante nos últimos anos – mas ficará na lembrança de uma pessoa que fez parte da adolescência de uma geração de amigos Paulojacintenses.

Tive que partilhar dos informes para aqui divulgar através da sua prima Roseli Alves, que depois das informações colhidas pelos seus familiares a causa morte : diabetes acompanhada de infarto do miocárdio.

Foi encontrado sem vida sentado no sofá do seu apto no dia 23-out-19, mas Deus o tinha levado no dia 21/Out/19, para alguma atividade especial. Foi sepultado no dia 27-Out-2019, na cidade de Santa Luzia do Norte, por volta das 17:30h.

Uma tarde de domingo, com certeza no horário em que algumas partidas de futebol – estavam chegando ao final. Um silvo longo e os braços estirados de um árbitro anunciava o final de uma partida de futebol pelo mundo afora! Umas lembranças invadiram de saudades algumas áreas do meu coração! Descanse em paz, mestre Vavá!

Valdemir Pereira Bezerra (Vavá)
22-Set-1947
21-Out-2019

*Pedro Rocha é administrador e cronista paulojacintense.