28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Opinião

Em defesa de Bolsonaro

Laranjas, laços milicianos, uso da velha política, fake news e inúmeras polêmicas: para ele, qualquer defesa seria bem vinda

Jair Bolsonaro precisa que alguém fale em defesa dele.

Com pouco menos de 11 meses no cargo, o presidente da República pare precisar de mais tempo para trabalhar. Entre 1991 e o ano passado, por exemplo, ele foi deputado e conseguiu a aprovação de apenas 2 projetos. Dois projetos em 27 anos! Como cobrar nesses 11 meses?

Há quem diga ser injusto dizer que ele não trabalha. Apesar de ser autor apenas da extensão da isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) e do uso da fosfoetanolamina sintética, a “pílula do câncer” (que não funciona), ele tentou quase 170 outros projetos.

O maior problema foi a falta de qualidade destes, que foram de homenagem ao ex-deputado federal Enéas Carneiro à autorização para aplaudir a bandeira nacional após a execução do hino. Mesmo com total interesse na pauta de segurança, foi ineficaz nisso, sem conseguir aprovar nada. Ou seja, foi um completo inútil.

Logo, Bolsonaro precisa que alguém o defenda.

Há quem diga que falar de política é uma coisa e de Bolsonaro é outra. Todos sabem que ele não é um político comum e que quer se afastar completamente da nova política. Ele não gosta de se ver como um político. Apesar disso parecer meio contraditório, já que para aprovar suas reformas, garantiu bilhões em emendas para deputados – que venderam seus votos.

Há quem diga que isso de comprar votos com emendas, e não ter dinheiro pra cumprir isso, seja coisa da velha política. Mas Bolsonaro precisa de defesa, já que não quer ser associado com isso. Os laranjas de seu partido, por exemplo: para se afastar dos crimes, já criou até um novo partido, o Aliança pelo Brasil. Um partido político bolsonarista, feito por alguém que não quer saber da velha política.

Mas está brigando pela verba eleitoral de R$ 700 milhões do PSL.

Política a parte, afinal, a imprensa quer persegui-lo a todo momento, pois falar do presidente do Brasil é sinônimo de perseguição, ele precisa de alguém para ir além e defendê-lo.

Tem quem o acuse de laços com milicianos. Sua gana em isentar agentes da lei que matem inocentes, até mesmo aqueles metralhados com mais de 80 tiros ou crianças baleadas em van escolar, não ajuda muito. Muito menos seus laços de amizade.

Infelizmente, ele é vizinho do policial miliciano e maior suspeito de matar a vereadora Marielle e seu motorista no ano passado. Infelizmente, esse era pai da namorada de Jair Bolsonaro Jr, filho com o mesmo nome de seu Jair. Infelizmente, seu filho Carlos, que mora no mesmo condomínio, tinha brigas e discussões ideológicas com Marielle.

Falando em Carlos, vereador problemático que sumiu das redes sociais, onde é uma figura com discurso virulento e ajudou o pai nas redes sociais, o presidente ainda tem outros filhos na política. Tem o Flávio, enrolado até o pescoço com o miliciano Queiroz, e o Eduardo, um despreparado que queria ser diplomata e não passa um dia sem agir como surtado.

Mas estes são os filhos. Não é possível culpar o pai pelas falhas do filhos. Mesmo que o pai passe a mão na cabeça e concorde com as ações desses…?

Incrível como ao se falar em milícia, o foco muda para os filhos de Bolsonaro, que precisa sim de defesa, pois seu discurso não ajuda.

Literalmente, no ano passado, ele disse “tem gente que é favorável à milícia, que é a maneira que eles têm de se ver livres da violência. Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência” e há quem leve isso literalmente ao pé da letra.

Isso porque há anos ele fala em uma guerra popular, mesmo com a morte de 30 mil mortes de inocentes e até fuzilamento presidencial (do então FHC na época), e um retorno da ditadura, que segundo ele não existiu. Até Ustra, monstro torturador, para ele é um herói nacional.

Tem também quem possa interpretar seu novo partido, com uma placa crivada de balas, e discurso que impõe religião cristã, supremacia nacional e imposição destas normas, com um contexto muito próximo do fascismo.

Por isso, ele precisa de defesa.

Sem falar muitas verdades em sua plataforma preferida, a internet, onde confunde Dinamarca com Noruega, não vê florestas na Europa, diz que Amazônia não pega fogo por ser úmida ou que peixe é inteligente e sabe desviar de óleo, ele precisa de ajuda, entre outros, sobre falar de meio ambiente.

Aquele meio que, não sei se é notório, fazemos parte.

Mas isso, dizem, é uma besteira de esquerda. França e Alemanha viraram sinônimo de Cuba, quem diria. O importante é a Economia, e nisso Bolsonaro precisa que alguém aja em sua defesa. Ele precisa que defendam o fraco leilão da sessão onerosa do pré-sal, a defesa das empresas com prejuízo do trabalhador e, quem diria, um dólar muito acima dos R$ 4,20.

Bolsonaro precisa com urgência que alguém o defenda, pois presidentes aliados de outros países estão com problemas. O do Chile passa por uma revolução popular inacreditável, o de Israel perdeu as eleições e está sendo acusado de corrupção e até mesmo Trump, quem (não) diria, está passando por um processo de Impeachment.

São tantas coisas a se falar em defesa de Bolsonaro. São muitas hienas querendo pegar esse leão ferido e ele precisa da ajuda do patriota conservador.

Sabe aqueles perfis estranhos na internet, com a foto sendo uma selfie de uma pessoa ao volante de um carro e usando óculos escuros? Há quem diga ser bote ou fake, mas tem muita gente que apoia isso. E são desses que Bolsonaro precisa de defesa.

É preciso falar em defesa de Bolsonaro, pois esse tem contra si coisas horríveis em seu histórico. E seu primeiro ano de governo vem sendo o pior possível. Muito mesmo, até por culpa dele mesmo.

É preciso falar em defesa de Bolsonaro, porque ele não se ajuda. Complicado é entender quem ainda queira falar em defender ele.