28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Endêmico: Após a Receita, Lava Jato apura propina para agentes do MP e da PF

“Doleiro dos doleiros” está preso desde o final de julho acusado de comandar uma lavagem de US$ 1,65 bilhão

Messer, o doleiro dos doleiros

Em mais um desdobramento da Lava Jato do Rio de Janeiro, os procuradores querem esclarecer as suspeitas de corrupção envolvendo órgãos públicos que integram a própria operação.

Depois de prender membros da Receita Federal, a força-tarefa voltou-se à investigação de uma suposta proteção dada pela PF (Polícia Federal) e também pelo MP (Ministério Público) a um denunciado na operação, o doleiro Dario Messer.

Considerado o ‘doleiro dos doleiros’, Messer está preso desde o final de julho e é acusado de comandar uma rede de operadores financeiros responsável pela lavagem de US$ 1,65 bilhão (cerca de R$ 6,4 bilhões) para corruptos investigados na Lava Jato.

Em busca de informações sobre o caso, o MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio de Janeiro) convocou o próprio Messer a depor na sede do órgão no último dia 8.

Mesadas

Dois operadores que já trabalharam para Messer, conhecido como o “doleiro dos doleiros”, afirmaram em delação premiada feita ao próprio MPF-RJ que pagaram US$ 50 mil por mês (mais de R$ 200 mil, na cotação atual) entre 2005 e 2013 para que ele fosse protegido de operações da PF e do MP.

As delações não especificam que delegacias da PF ou órgãos do MP teriam protegido o doleiro. Também não citam casos em que a proteção ocorreu.

Segundo os delatores, os pagamentos da suposta taxa de proteção foram feitos ao advogado Antonio Figueiredo Basto, que já defendeu Messer. Basto, entretanto, nega veementemente ter recebido qualquer valor para negociar uma suposta proteção ao seu ex-cliente.

O depoimento de Messer foi gravado, mas seu conteúdo é sigiloso. O advogado do doleiro, Átila Machado, disse que seu cliente ficou calado enquanto ouvia as perguntas dos procuradores.

Auditores e até mesmo agentes da PF estão sendo investigados

Auditores presos

O procurador Sanches, que questionou Messer sobre a proteção, também participou da investigação que culminou na prisão de funcionários da Receita Federal no último dia 2.

Entre os presos, estava Marco Aurélio Canal, supervisor de programação da Receita Federal para a Lava Jato. Ele é suspeito de cobrar propinas de investigados em troca da suspensão de multas do órgão federal de arrecadação.

Canal passou a ser investigado depois que Lelis Teixeira, ex-presidente da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio), fechou um acordo de delação premiada. Ele disse ter negociado o cancelamento de uma multa à federação em troca de R$ 4 milhões em propina.

O advogado de Canal, Fernando Martins, contesta a prisão de seu cliente. Ele declarou que ela é ilegal, tem “viés exclusivamente político” e é “pautada exclusivamente em informações de ‘ouvi dizer’ de delatores”.