27 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Ex-senador alerta garimpeiros sobre ações do Ibama: “tirem ou vão queimar”

Ernandes Amorim está em grupos de atividades com garimpeiros ilegais

Ernandes Amorim, pecuarista e vereador por Ariquemes (RO), que já representou Rondônia no Congresso como senador, entre 1995 e 2000, e também como deputado federal, de 2007 a 2011, está em grupos de Whatsapp aletando garimpeiros de diversos estados contra ações do Ibama.

“Vocês podem retirar as PCs [retroescavadeiras hidráulicas] de vocês aí, senão eles vão terminar é queimando, viu? Uma semana, três dias, não vai matar ninguém; pior é o prejuízo de perder tudo.”. Ernandes Amorim, vereador por Ariquemes (RO).

Em um grupo de WhatsApp formado por garimpeiros de diversos estados, ele orienta uma pausa na atividade de garimpo. As mensagens, checadas pela Folha, foram trocadas entre os dias 19 de setembro e 6 de outubro em um grupo de WhatsApp intitulado “Garimpo a luta continua”. A foto do grupo traz a frase “garimpeiro não é bandido, é trabalhador”.

“Até o dia 2, como diz bem aí o Vilela, vamos esperar”. Ernandes Amorim.

No dia 2 de outubro, os garimpeiros teriam uma reunião com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, mas esta foi remarcada para o dia de hoje, terça-feira (8). E diante do reforço da fiscalização ambiental por parte do governo federal no mês de setembro, em uma resposta à crise das queimadas na Amazônia, ele é uma das vozes ativas contrária:

“Vocês estão vendo a merda como tá, querem trabalhar num período desse? Aí acontece o quê? Pessoas nossas aí ficam pagando pra ver, foram duas pro pau. Você entendeu? Então vocês tenham atenção”. Ernandes Amorim.

O Grupo Especializado de Fiscalização (GEF) do Ibama, considerado a “tropa de elite” da fiscalização ambiental, estava praticamente inativo ao longo deste ano. Desde 2008, um decreto autoriza os agentes de fiscalização a destruírem equipamentos utilizados em atividades ilegais. Amorim admite, em outro áudio, que a medida é eficaz para combater o garimpo ilegal.

“Essa queimação de máquina aí, isso surte efeito. Acovarda o pessoal. Desarma o pessoal. Desmotiva o pessoal. Só essa ousadia que deram a esses ambientalistas para estarem queimando bens”. Você não vê o Exército botando fogo em máquina, você não vê o Exército se prestando a esse serviço”. Ernandes Amorim.

Evandro Cunha, ex-superintendente regional do Ibama, se recusava a queimar equipamentos ilegais

Queima

A convocação das Forças Armadas para atuar contras as queimadas na Amazônia tem gerado atritos com o Ibama. Um ofício da coordenação de fiscalização ambiental do Ibama com a data de 23 de setembro informa que em três situações os comandos militares se recusaram a participar de ações do Ibama que envolviam destruição de bens.

Vale lembrar que 20 dias antes disso, o superintendente regional do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) no Estado, o coronel da Polícia Militar Evandro Cunha dos Santos, foi demitido.

A demissão foi após Evandro Cunha ter dito, em audiência pública realizada em Altamira (PA), que iria parar de danificar equipamentos apreendidos em garimpos ilegais no Pará. A declaração teria sido dada sem respaldo do governo do presidente Jair Bolsonaro.

“Fiquem certos que a destruição de equipamentos vai cessar, entendam que nós somos únicos, mas vamos trabalhar diuturnamente para acabar com essa problemática de estarem danificando patrimônio alheio. O trabalhador merece respeito, e terá o respeito do governo federal. Eu sou soldado e eu sei cumprir ordem, a ordem que recebi foi para parar com isso daí”. Evandro Cunha dos Santos, ex-superintendente regional do Ibama no Pará.

Evandro Cunha dos Santos disse que é “um homem de Deus e que homem de Deus não gosta de fogo”. Ele afirmou que “quem gosta de fogo é satanás”. Santos foi nomeado para a chefia do Ibama paraense no último dia 2 pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Figura polêmica

Por repetidas vezes, Amorim destaca sua experiência na articulação política em Brasília e feitos de seus mandatos parlamentares, quando buscou autorizar a atividade garimpeira em Serra Pelada (PA).

No entando, suas passagens por cargos públicos, no entanto, são marcadas por escândalos de corrupção, prisões e até mesmo agressões físicas contra um radialista e, anos depois, contra um policial militar.

Além de ter o mandato de senador cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Amorim já foi acusado de participar de uma rede de tráfico de cocaína (que levou à prisão sua ex-mulher) e também já foi preso por um esquema de corrupção na prefeitura de Ariquemes, onde foi prefeito por duas vezes.