20 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Artigo

Fascismo: o espelho-retrovisor, segundo o professor Pife

“Ninguém se livra da própria face no espelho. Os gestos, as caretas e o olhar estão lá, incorrigíveis”.

Por Pife*

 

Ao rever recentemente a história do fascismo (como e por que surgiu), percebi que a história não é apenas um retrovisor, mas um espelho. A seguir, entre parênteses, uma pouca objetiva incidência: (Certamente o leitor desconfie de que eu esteja criando uma tensão semântica entre “retrovisor” e “espelho”. Entendo isso e você tem toda a razão. São significados aproximados, realmente, mas não são iguais. Pelo óbvio, o retrovisor, retro: elemento de formação antepositivo, que exprime um recurso circunstancial de segurança e observação, e o espelho, um milenar acessório de auto-observação. Se me permitem a ousadia de conceito, são essencialmente distantes em seus significados).

Feito isso, vejo que o espelho é a mais autêntica reprodução da realidade. Ninguém se livra da própria face no espelho. Os gestos, as caretas e o olhar estão lá, incorrigíveis. Você muda, ele percebe; você se vira, ele te segue.

Sei de sua pergunta: o que tem a ver o fascismo com o espelho?
Respondo, não pela retórica, mas pela certeza da tristeza d’alma: “O espelho refleti certo; só não erra porque não pensa”(Fernando Pessoa).

TOMO 1:
Algumas ocorrências romperam a cerca da decência nestes dias obscuros no Brasil: ameaças de golpe, a fala do ministro da educação, comparando a ação da PF sobre o processo das Fake News à terrível “Noite dos Cristais” – marco zero do genocídio praticado contra os judeus; o presidente defendendo os suspeitos de crime de um processo investigativo; o elogio de um dos filhos do presidente a um pária da legalidade.

TOMO 2:
O jornalista italiano Carlo Cauti fez uma pergunta fulminante na revista “Aventuras na História” (ed. 203, Perfil, abril 2020):
“Como um homem como Mussolini, jornalista quase falido, ex-militar sem rumo, ex-revolucionário socialista expulso do próprio partido e líder de um movimento desamparado e mal armado como os Fasci, conseguiu chegar ao governo e instaurar 20 anos de ditadura na Itália, levando o país para a infame aliança com a Alemanha nazista e ao desastre da Segunda Guerra Mundial?”.

TOMO 3:
Pergunto: Como um homem como Bolsonaro, um capitão do exército que elaborou um plano para explodir quartéis no Rio de Janeiro, um parlamentar medíocre que passou incólume na Câmara Federal dos deputados entre 1991 e 2018 foi eleito presidente do Brasil em 2019?

Quero sua resposta sobre o presidente do Brasil. Sobre Mussolini, tenho conhecimento.

Aguardo-a, quando tiveres tempo.

 

 

Professor Osvaldo Epifânio, o Pife.

One Comment

  • Avatar Taco

    Prezado professor, gostaria de partir essa indagação com o que, para mim, define o fascismo:

    “Tudo no estado, nada contra o estado e nada fora do estado.”

    As falas, tanto do Presidente da República, como de seu filho e do ministro da educação, são falas de indivíduos e se colocam sempre como indivíduos, não se vê ali, e desafio para que me apresente o contrário, qualquer uso da força do estado, ou das suas posições para mitigar direitos individuais.

    O mesmo não pode se dizer da atual conduta de alguns ministros da Suprema Corte, estes agem por meio do estado, não sem ele.

    Convido o professor a apontar um ato do PR, seu filho, ou ministro da educação, que no uso de suas atribuições, suprimiu diretos individuais.

    De Mussolini e do STF não precisa, já conheço.

    Peço que reflita.

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