29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Globo se esquiva e STF questiona: Em 2017, Deltan ganhou R$ 400 mil com palestras

Coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato montou um plano de negócios para lucrar com a fama; Jornal Nacional, maior do país, em nenhum momento citou os vazamentos

Em suas palestras, Deltan falava de Ética…

O procurador Deltan Dallagnol pediu passagem e hospedagem no parque aquático Beach Park para ele, a mulher e os dois filhos como condição para dar palestra sobre combate à corrupção na Fiec (Federação das Indústrias do Ceará), em julho de 2017. E cobrou cachê. Só neste ano, ele afirmou ter lucrado mais de R$ 400 mil reais com sua empresa de palestras.

Tudo isso é resultado de mais uma divulgação da Vaza Jato, com os diálogos de procuradores e o juiz Sergio Moro, negociando ações da Lava Jato. No caso do Ceará, por exemplo, ele discutiu o assunto num diálogo com a mulher obtido pelo The Intercept Brasil e analisado pelo site e pela Folha.

“Posso pegar a data de 20/7 e condicionar ao pagamento de hotel e de passagens pra todos nós”. Deltan Dallagnol, procurador em conversa com a mulher.

Um mês depois, o procurador fez propaganda da Fiec para convencer o então juiz Sergio Moro a aceitar um convite da entidade.

“Eu pedi pra pagarem passagens pra mim e família e estadia no Beach Park. As crianças adoraram. Além disso, eles pagaram um valor significativo, perto de uns R$ 30 mil. Fica para você avaliar.” Deltan Dallagnol, conversando com Sergio Moro.

Como se não fosse o bastante, Dallagnol festejou o fato de não ter sofrido punição de órgãos de fiscalização por dar palestras. As duas corregedorias (MPF [Ministério Público Federal] e CNMP [Conselho Nacional do Ministério Público]) arquivaram os questionamentos sobre as palestras dizendo, que são plenamente regulares.

O procurador da e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato montou um plano de negócios de eventos e palestras para lucrar com a fama e contatos obtidos durante as investigações do caso de corrupção.

Em um chat sobre o tema criado no fim de 2018, Deltan e um colega da Lava Jato discutiram a constituição de uma empresa na qual eles não apareceriam formalmente como sócios, para evitar questionamentos legais e críticas.

A justificativa da iniciativa foi apresentada por Deltan em um diálogo com a mulher dele. “Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”, escreveu.

STF

A nova leva de mensagens da Lava Jato fez integrantes do STF ironizarem membros do Conselho Nacional do Ministério Público que avalizaram as palestras de Deltan como legais e filantrópicas.

Parte do colegiado foi questionada por ministros se o material não deixa claro que o procurador é mesmo um exemplo de “abnegação” e “espírito público”. Os diálogos mostram planos para obter lucros.

Integrantes do CNMP que já planejavam reabrir investigação sobre Dallagnol por suposta dobradinha com o ex-juiz Sergio Moro agora dizem que é inevitável levar também o tema das palestras à reavaliação do órgão.

Globo

Apesar disso tudo, o novo documento de identidade, taxas ambientais em Fernando de Noronha e perigos causados por aquecedores à gás foram mais relevante na edição desta segunda-feira (15) do Jornal Nacional, da Rede Globo, do que as novas mensagens divulgadas pelo The Intercept Brasil.

As novas matérias do site mostram que o procurador federal da República, Deltan Dallagnol, pediu dinheiro para Sérgio Moro, então juiz da Lava Jato, com o objetivo de fazer um comercial para divulgar as dez medidas contra a corrupção, elaboradas pelos procuradores de Curitiba. O roteiro do vídeo é voltado para a classe média e tem uma mensagem forte.

Em nenhum momento durante os mais de trinta minutos de jornal as novas revelações foram relatadas pelos apresentadores Flávio Fachel e Renata Vasconcellos. O telejornal foi encerrado com uma matéria sobre tentativas de empresas privadas de levar o homem à lua.