29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Governadores e secretários de Saúde criticam discurso radical de Bolsonaro

Consenso é de que presidente está fora da realidade e que a população não deve ouví-lo

O presidente Jair Bolsonaro foi muito criticado pelos governadores, após seu discurso radical, na noite desta terça (24), em que chamou novamente o Covid-19 de ‘gripezinha’ e focar mais uma vez no aspecto econômico da situação, e não na saúde dos brasileiros.

Eles também acreditam que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, até então referência de boas ações durante a pandemia, perdeu legitimidade no governo. Oficialmente, 46 pessoas morreram vítimas da doença e mais de 2.000 foram infectadas.

“Desconectado da realidade, desconectado da ação do Ministério da Saúde, atrapalha o trabalho dos governadores e menospreza os efeitos da pandemia. Os governadores precisam se reunir, estamos sem coordenação. O ministro e os governadores de um lado e o presidente menosprezando a pandemia de outro”. Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo.

“Ele mesmo deflagrou o seu próprio processo de impeachment. Está completamente fora da realidade”. Flávio Dino (PC do B), governador do Maranhão.

“É de uma perplexidade sem tamanho, é inaceitável e lamentável. Confesso que depois da iniciativa do presidente, de ter atendido os governadores, achei que fosse mudar. E aí hoje ele vem com essa postura e com esse conteúdo, totalmente na contramão de todas as medidas que, com tanto esforço e responsabilidade, os governadores e prefeitos vêm enfrentando a pandemia”? Fátima Bezerra (PT), governadora do Rio Grande do Norte.

“No Piauí tive que tomar medidas duras, de suspender cirurgias marcadas, de casos importantes, seguindo orientação do ministro da Saúde do seu governo para garantir vagas para quem pudesse precisar, por conta do coronavírus. ​Não se faz isso por uma gripezinha”. Wellington Dias (PT), do Piauí.

“Sei que as pessoas terão prejuízo mas há algo em primeiro lugar agora, é a vida humana […] Vamos seguir com o isolamento social onde for necessário, com a ciência e com Deus. Todo o nosso objetivo é aliviar o sistema de saúde para que as pessoas que eventualmente fiquem doentes possam ser tratadas. Por isso, suspendemos temporiariamente as aulas, festas, o comércio e os bares. Com menos gente circulando, o vírus circula menos e a gente não tem uma multidão batendo nas portas dos hospitais ao mesmo tempo”. Hélder Barbalho (MDB), governador do Pará.

“Todas as medidas tomadas foram recomendadas por profissionais da saúde e têm sido a melhor forma de enfrentamento ao coronavírus. Tenho apenas um comentário a fazer: vamos continuar trabalhando fortemente as ações que visam evitar o avanço do coronavírus em nosso estado, como temos feito até aqui”. Camilo Santana (PT), governador do Ceará.

Renan Filho

Secretários de Saúde do Nordeste

Secretários de Saúde do Nordeste disseram estar estarrecidos com o pronunciamento de Jair Bolsonaro, nesta terça-feira (24). Em nota, eles afirmam que o presidente “desfaz todo o esforço e nega todas as recomendações para combate à pandemia do coronavírus”.

Confira a nota:

“Assistimos estarrecidos ao pronunciamento em cadeia nacional do Presidente Jair Bolsonaro, onde desfaz todo o esforço e nega todas as recomendações para combate à pandemia do coronavírus.

Não é nosso desejo politizar esse problema. Já temos dificuldades demais pra enfrentar. Não podemos cometer esse erro. Vamos continuar fazendo nosso trabalho. Não nos parece que a posição exposta pelo Presidente seja a do Ministério da Saúde, que tem se conduzido tecnicamente.

Percebemos, com espanto, os graves desencontros entre o pronunciamento do Presidente e as diretrizes cotidianas do Ministério da Saúde. Esta fala atrapalha não só o ministro, mas todos nós!

Sabemos que iremos enfrentar uma grave recessão econômica, mas o que nos cabe lidar diretamente é a grave crise sanitária.

Vamos seguir tocando nossas vidas com decisões baseadas em evidências científicas, seguindo exemplos bem sucedidos ao redor do mundo.

A grande maioria dos países do mundo, ocidentais e orientais, já firmaram seu curso no combate ao vírus e é este curso que o Nordeste Brasileiro seguirá.

Que Deus abençoe cada um de nós que pouco temos dormido. Que Deus nos abençoe!”