20 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Justiça rejeita habeas corpus para soltura de João de Deus

Estratégia da defesa será entrar com um novo pedido que reverta trocar a prisão preventiva por outra medida cautelar

A Justiça de Goiás rejeitou no final da tarde desta terça-feira (18), um pedido de habeas corpus em favor do médium João Teixeira de Faria, o João de Deus. A revogação da prisão preventiva havia sido pedido pela defesa do líder espiritual mas foi indeferida pela desembargador Jairo Ferreira Júnior.

Como o pedido foi negado, a estratégia da defesa será entrar com um novo pedido que reverta trocar a prisão preventiva por outra medida cautelar, como a prisão domiciliar.

Estupros

O médium João de Deus, 76, se entregou à polícia neste domingo e foi levado para o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, denominado Núcleo de Custódia. Ele ficará em uma cela individual e isolado dos demais detentos, cumprindo prisão preventiva, que não tem prazo para terminar.

A negociação para que o João de Deus tivesse tratamento diferenciado foi feita pelos advogados de defesa do médium, que argumentaram com a idade e o estado de saúde dele João de Deus e com o fato de ter passado por um câncer de estômago.

Segundo o delegado-geral de Goiás, André Fernandes, após a coleta de 15 depoimentos há fortes indícios de culpa por parte do médium. Os crimes em apuração são os de estupro e posse sexual mediante fraude, que é usar a fé para obter sexo. O Ministério Público já registrou relato de mais de 300 vítimas médium goiano.

Elas foram abusadas dentro de uma sala da Casa de Dom Inácio de Loyola, o centro de atendimento de João de Deus na pequena cidade de Abadiânia, no interior de Goiás, local onde o guru diz curar os males de mais de 300 000 peregrinos anuais.

Em entrevista à revista Veja, a própria filha do médium, Dalva Teixeira, de 49 anos, afirma que seu pai é um monstro. Ela contou ter sido coagida, molestada e espancada por ele. A violência começou quando ela tinha apenas 10 anos de idade.

Num determinado dia, diz, João de Deus chegou em casa e pediu que a menina segurasse uma vela branca. Começava ali um ritual macabro. O médium mandou que ela fizesse uma marcação na vela para delimitar o tempo que duraria o “trabalho espiritual” que ele preparava para a filha.

“O pai vai ter de ficar com você até o fogo chegar nessa marca”, disse ele, segundo Dalva. Naquele momento, João de Deus a levou para dentro do quarto e se despiu. Ele começou a passar o pênis no meu corpo todo. Eu falei: ‘Ai, tá me machucando’. E ele continuou em cima de mim.” Foi o primeiro de uma série de abusos que se estenderiam por anos.

Defesa

O médium João de Deus negou em depoimento neste domingo (16) qualquer tipo de culpa nos abusos sexuais dos quais é acusado e sua defesa tentou desqualificar as denunciantes. “Ele não admite. Apresenta suas versões e cabe à polícia provar”, afirmou o delegado-geral.

O médium falou por mais de duas horas a duas delegadas. Segundo Fernandes, ele respondeu a todas as perguntas e se recordou de alguns atendimentos feitos a mulheres que o denunciaram. O suspeito disse que a regra era recebê-las coletivamente, e não em recintos individuais, como consta dos relatos de supostas vítimas.