28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro reage e vai acionar Sergio Moro para o caso Marielle

Em live, presidente ataca Witzel, a Rede Globo, afirma que estava em Brasília no dia e, mesmo sem serem mencionados na matéria, defende os filhos

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que conversará com o ministro da Justiça, Sergio Moro, para que o porteiro de condomínio onde mantém residência no Rio de Janeiro possa ser ouvido novamente em depoimento na investigação que apura a morte da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL). Agora, pela Polícia Federal.

“O porteiro ou se equivocou, ou não leu o que assinou. Pode o delegado da Polícia Civil ter escrito o que bem entendeu e o porteiro, uma pessoa humilde, né, acabou assinando embaixo. Isso pode ter acontecido. Estou conversando com o ministro da Justiça, o que pode ser feito para a gente tomar, para a polícia pegar o depoimento novamente. O depoimento agora desse porteiro pela PF”. Jair Bolsonaro, presidente.

Bolsonaro disse ainda estar “aguardando a TV Globo ter a dignidade” de o convidar para uma entrevista ao vivo no Jornal Nacional, principal telejornal da emissora, a fim de esclarecer menção a seu nome na investigação que apura a morte de Marielle em março de 2018.

“Aguardo a TV Globo me convidar para o horário nobre do Jornal Nacional falar sobre o caso Marielle no conjunto onde eu moro”. Jair Bolsonaro.

A matéria do JN relata que o porteiro do condomínio onde Bolsonaro mantém residência no Rio de Janeiro afirmou que o suspeito de matar a vereadora Marielle Franco pediu para ir à casa do presidente no dia do crime.

O condomínio Vivendas da Barra, onde Bolsonaro tem casa, é o mesmo onde vivia o policial militar reformado Ronnie Lessa, apontado pelo Ministério Público e pela Polícia Civil como o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson.

O porteiro do condomínio onde morava Bolsonaro à época disse em depoimento que alguém com a voz dele autorizou a entrada de um dos suspeitos da morte da vereadora no dia do crime. Bolsonaro, no entanto, neste dia estava na Câmara dos Deputados, segundo registro de presença da Casa.

Live

Minutos depois, o presidente, que estava na Arabia Saudita, fez uma live acalorada, criticando a matéria:

Ele mostrou grande indignação com o conteúdo da reportagem, atacou a imprensa e disse que está disponível para ser ouvido no processo. O presidente afirmou que conseguiu dormir apenas uma hora nesta noite.

Hoje chamou a reportagem de mentirosa e disse que foi produzida com o objetivo de “prejudicar os negócios do Brasil” enquanto viaja pela Ásia e pelo Oriente Médio. E defendeu que estava na Câmara dos Deputados, em Brasília, no dia do crime e voltou a criticar o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSL), por supostamente vazar o processo que corria em segredo de Justiça.

“Witzel sabia que esse processo corria em segredo de Justiça. Isso quem vazou para a Globo foi você, como sempre a Globo vazando”. Jair Bolsonaro, presidente.

Witzel negou interferência na investigação e nega as acusações de que teria vazado informações à imprensa.

Para Bolsonaro, o porteiro está sendo usado pelo delegado da Polícia Civil por ser uma pessoa pobre. O presidente voltou a falar que Witzel só se elegeu por ter se colado à imagem dele e de um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), e agora quer prejudicar a família Bolsonaro para se eleger à Presidência da República em 2022.

Ele disse que não conhecia Marielle e que não tinha nenhum motivo para querer matar alguém. O presidente afirmou ainda que o porteiro pode ter assinado o depoimento sem ler.

“O que cheira isso aqui, o que parece é que ou o porteiro mentiu, ou induziram o porteiro a cometer um falso testemunho, ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu e assinou embaixo em confiança ao delegado, ou a quem que foi ouvir na portaria. Qual intenção disso tudo? A intenção é sempre a mesma. O tempo todo ficam em cima da minha vida, dos meus filhos”. Jair Bolsonaro.

Investigações

Marielle e Anderson foram alvejados dentro do carro na noite de 14 de fevereiro. Foto: Divulgação

A Polícia Civil do Rio de Janeiro classificou os assassinatos como um “crime que foge à regra”. O delegado Giniton Lages, da Delegacia de Homicídios, disse que as prisões dos suspeitos de serem o atirador e o motorista do veículo são apenas a “primeira fase” das investigações. Segundo ele, a motivação ainda não foi elucidada. “Nada está encerrado”, disse o delegado.

De acordo com as investigações, o sargento reformado Ronnie Lessa foi o autor dos disparos e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, expulso da corporação, conduzia o veículo. Os investigadores tentam descobrir quem foi o mandante da execução.

Lessa foi preso por volta das 4h30 no condomínio onde mora, na Barra da Tijuca, o mesmo onde vivia o presidente Jair Bolsonaro antes de ser empossado. Também são cumpridos mandados de busca e apreensão de armas, computadores, celulares e munição, entre outros objetos, em 34 endereços.

O delegado, no entanto, afastou, neste momento, ligação entre a família do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o policial militar reformado Ronnie Lessa. Mas o link seria feito no momento oportuno:

“O fato de ele morar no condomínio do Bolsonaro não diz muita coisa, não, para a investigação da Marielle. Isso nós imaginávamos que esse link fosse feito, mas ele não tem uma relação direta com a família Bolsonaro”. Giniton Lages, delegado do caso Marielle.

Em matéria, a CNN Chile declarou em março que todas as pistas da morte ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (Psol), apontam para o presidente Jair Bolsonaro.

Em sua versão original, a emissora chilena atualizou o título da matéria empregando um “que” no meio da frase. Agora, quem acessa o link enxerga a seguinte manchete: “Todas as pistas que levam a Bolsonaro: Justiça brasileira ainda não esclarece quem mandou matar Marielle Franco“