19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

“Meu pai é um monstro”: Filha de João de Deus era abusada desde os 10 anos

Ela contou ter sido coagida, molestada e espancada por ele; Mais de 300 mulheres já o denunciaram

O Ministério Público já registrou relato de mais de 300 vítimas médium goiano João Teixeira de Faria, João de Deus, de 77 anos. Elas foram abusadas dentro de uma sala da Casa de Dom Inácio de Loyola, o centro de atendimento de João de Deus na pequena cidade de Abadiânia, no interior de Goiás, local onde o guru diz curar os males de mais de 300 000 peregrinos anuais.

Ele pedia que tocassem em seu pênis, tocava-as, abordava-as pelas costas, e, de acordo com pelo menos uma acusação, teria cometido estupro com penetração. Dada a quantidade de queixas, criou-se uma força-tarefa com cinco promotores e duas psicólogas para estimular as denúncias.

Nesta quarta, foi a primeira aparição pública de João de Deus desde que vieram a público as denúncias de que ele teria abusado sexualmente de frequentadoras do centro espírita. Já nesta quinta, ele, que disse estar à disposição da Justiça, não compareceu, para desapontamento de seus fiéis.

“Vocês terão câncer” e “vão se arrepender”, gritavam aos jornalistas os pacientes que não foram atendidos. Simpatizantes do médium, vestidos de branco, fizeram manifestação na rua da Casa Dom Inácio de Loyola. Com cartazes, nos quais se lia “Espalhe o amor” e “Unidos pela Casa”, os manifestantes rezaram e defenderam a inocência de João de Deus.

Fé cega essa que ainda não entendeu a complexidade da situação. Corroborada agora pela própria filha do médium. Em entrevista à revista Veja, Dalva Teixeira, de 49 anos, afirma que seu pai é um monstro. Ela contou ter sido coagida, molestada e espancada por ele. A violência começou quando ela tinha apenas 10 anos de idade.

Num determinado dia, diz, João de Deus chegou em casa e pediu que a menina segurasse uma vela branca. Começava ali um ritual macabro. O médium mandou que ela fizesse uma marcação na vela para delimitar o tempo que duraria o “trabalho espiritual” que ele preparava para a filha.

“O pai vai ter de ficar com você até o fogo chegar nessa marca”, disse ele, segundo Dalva. Naquele momento, João de Deus a levou para dentro do quarto e se despiu. “Ele começou a passar o pênis no meu corpo todo. Eu falei: ‘Ai, tá me machucando’. E ele continuou em cima de mim.” Foi o primeiro de uma série de abusos que se estenderiam por anos.

Que trabalhar

Mesmo com o pedido de prisão preventiva, o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, quer continuar seus trabalhos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, Goiás. O advogado Alberto Toron, que defende o médium, apresentou petição nesse sentido nesta tarde, não em Abadiânia, mas em uma cidadezinha vizinha, chamada Alexânia.

O advogado defende que o médium mantenha sua rotina de atividades sob supervisão policial e de câmeras. Toron afirmou que, assim, João de Deus, que se diz inocente, continuará fazendo o bem às pessoas e à cidade, cuja atividade econômica é garantida pela movimentação de milhares de visitantes, do Brasil e do exterior, à Casa Dom Inácio de Loyola.

Ele não obteve, porém, resposta imediata sobre a petição. Toron disse que aproveitou a ida ao fórum para se apresentar ao magistrado. Ele acrescentou que ainda não teve tido acesso ao pedido de prisão preventiva.