29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Paulo Guedes quis abandonar o navio, mas Bolsonaro o convenceu a ficar

Ministro acha que tem perdido dinheiro por ter se afastado dos seus negócios e que tem sido criticado por tudo o que faz ou fala

Após encontro a portas fechadas com o presidente Jair Bolsonaro, Paulo Guedes deixou o Palácio do Planalto ainda ministro. Ele ouviu apelos de Bolsonaro e dos ministros Augusto Heleno (GSI) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), que também participaram da reunião, para continuar no governo.

Inclinado a entregar o cargo, ele resolveu continuar para tocar sua agenda liberal, mas não se sabe mais por quanto tempo. Para que continuasse com seu Posto Ipiranga no cargo, Bolsonaro argumentou sua saída do ministério poderia representar o fim precoce do governo.

Considerado o grande trunfo de Bolsonaro com o mercado, o ministro se vê encurralado pela repercussão de suas próprias declarações e pelos cálculos políticos e eleitorais do presidente. Para Bolsonaro, perdê-lo agora seria desastroso para a continuidade de seu governo.

Enquanto isso, Guedes acha que tem perdido dinheiro por ter se afastado dos seus negócios e que tem sido criticado por tudo o que faz ou fala.

Leia mais:
Guedes detesta pobre e Renan condena preconceito do ministro
Dólar supera R$ 4,35 e Guedes critica período que até ‘empregada ia à Disney’
Guedes chama servidores de parasitas e delegados da PF protestam
Guedes em Davos: ‘O grande inimigo do meio ambiente é a pobreza’

Além disso, ele vê no entorno de Bolsonaro críticas a ele e à sua forma de conduzir a Economia. “Eles só pensam em eleição”, desabafou o ministro com amigos. Antes mesmo da reunião, o presidente defendeu o ministro:

“Se o Paulo Guedes tem alguns problemas pontuais, como todos nós temos, e ele sofre ataques, é muito mais pela sua competência do que por possíveis pequenos deslizes. E eu já cometi muitos, muitos no passado. O Paulo não pediu para sair. Aliás, eu tenho certeza de que, assim como um dos poucos que eu conheci antes das eleições, ele vai ficar conosco até o nosso último dia”. Jair Bolsonaro, presidente.

Empregadas na Disney e servidores parasitas

Desde que assumiu o comando da Economia, com status de superministro, Paulo Guedes já ameaçou diversas vezes entregar o cargo. Sem nunca ter ocupado uma função pública, e com conhecido pavio curto, Guedes dá sinais de que sua insatisfação está atingindo o ponto máximo. Nos últimos meses, o ministro tem se aborrecido com o presidente Jair Bolsonaro e o núcleo bolsonarista.

Recentemente, seu pior momento foi quando criticou a época em que o real estava mais equivalente ao dólar, já que naquele período até ‘empregada doméstica ia para Disney, uma festa danada’.

O ministro tem comentado com pessoas próximas que, se resolver deixar o governo, pretende expor os seus verdadeiros motivos. O principal motivo hoje da irritação está na reforma administrativa.

Guedes pretende fazer mudanças profundas nas regras para o funcionalismo público, que abertamente já chamou de parasitas. Mas Bolsonaro tem dito, inclusive publicamente, que não pretende mexer com os atuais servidores, o que desagrada ao ministro.