25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Policia

Polícia já apreendeu 7t de maconha e mais de 2t de cocaína neste ano

Jovens são os alvos e principais vítimas dos traficantes, que não estão apenas nas favelas do entorno da capital

O ano ainda não terminou e já chega a 7 toneladas a quantidade de maconha apreendida em Alagoas, pelas polícias Militar e Civil. Dados oficiais, da Delegacia de Narcóticos (Dnarc), a antiga Delegacia de Repressão ao Narcotráfico (DRN), mostram ainda que, nesse período, foram apreendidas 2 toneladas de cocaína e meio quilo de LSD*.

Delegado Vinicius Ferrari alerta que drogas são vendidas sob vários “disfarces”

Os números são estarrecedores e mostram que, a cada ano, Alagoas, e sua capital, Maceió, se consolidam como rota do tráfico, com aumento das áreas de consumo. Os jovens são os alvos e principais vítimas dos traficantes, que não estão apenas nas favelas do entorno da capital. A morte de um rapaz, nesse domingo, 18, durante uma festa, num bairro de classe média alta, é um alerta aos pais, e às autoridades de segurança pública.

Embora a família do jovem que morreu em casa, comemorando com amigos o aniversário de 22 anos, negue a informação, amigos afirmam que ele já havia feito uso de “doce”, como é chamado o LSD, uma droga sintética. Na festa, segundo relato num áudio que está circulando em grupos de whatsapp (transcrito no final dessa reportagem), o rapaz consumira um comprimido inteiro, quando o habitual entre eles era ¼ ou, “como fazem os mais acostumados”, metade. Além do ácido, o rapaz estaria bebendo uísque.

O efeito teria sido devastador. No áudio, a pessoa relata que o rapaz ficou incontrolável, agressivo, transtornado a ponto de agredir os amigos que procuravam acalmá-lo. Cansados de tentar contê-lo, os amigos o deixaram, e ele teria entrado na piscina, enquanto todos se afastaram.

Depois de algum tempo, teriam percebido que o aniversariante mergulhara, mas estava quieto demais. Ao se aproximar, viram que ele estava desmaiado e o corpo escuro (roxo). O jovem foi levado ainda vivo para um hospital localizado ao lado de sua residência, no bairro de Ponta Verde, mas morreu momentos depois, de parada cardíaca.

O laudo do médico que prestou o socorro já está pronto e será solicitado pela Polícia Civil, no inquérito que apura as causas da morte. A família, entretanto, prefere acreditar em morte súbita, negando-se a admitir o uso de entorpecentes.

“A família nunca acredita, mas o uso dessas drogas é muito grande”, afirma Josival (nome fictício), um taxista que prefere não se identificar, acostumado a levar jovens dos bairros de Ponta Verde e Jatiúca, na chamada área nobre de Maceió, para shows, baladas e raves. Na conversa, ele faz uma revelação também grave.

Segundo Josival, há taxistas, que define como “maus profissionais”, e motoristas de transporte por aplicativo (Uber, 99) que estão atuando como traficantes. Além de atender a quem procura, eles oferecem droga aos adolescentes e jovens que transportam.

Esses motoristas e taxistas conhecem a rota dos traficantes, sabendo onde comprar para repassar a usuários. O delegado Vinicius Ferrari, titular da Delegacia de Narcóticos, revela que a Polícia Civil está atenta à ação dos criminosos. “Tem chegado informações sobre essa prática. Além disso, tem crescido o número de apreensões de drogas em táxis e carros que transportam por aplicativo”, revela o delegado.

Segundo ele, o volume de drogas apreendidas em Alagoas, este ano, bateu recordes em relação aos anos anteriores.

“Maconha é o recorde absoluto em apreensão. Este ano a gente já vai em quase sete toneladas. Cocaína, este ano, vai em pouco mais de duas toneladas. Aí, quando você vem para as drogas sintéticas, tem 20 quilos de loló, 100 gramas de ecstasy e meio quilo de LSD”, revela Vinicius Ferrari.

O delegado da Narcóticos explica a diferença entre o volume apreendido de maconha e cocaína, e as drogas sintéticas.

“O LSD é difícil de apreender porque ele é feito de várias formas. Pode ser um cristalzinho minúsculo, pode ser injetado em bala, em jujuba. Por isso, chamam ele de docinho. Ou em qualquer outra bala ou qualquer outra coisa que a pessoa coloque na boca e fique esperando derreter. E também ele vem em folhas. Uma folha daquelas que tinha antigamente em impressora, papel cartão. Já vem todo fragmentado. Numa folha daquelas são 100 comprimidos. Quem vai saber que uma folha é LSD, entendeu? Então, é bem difícil. Bem difícil mesmo. Ecstasy é difícil achar também. Também se disfarça de outras formas sem ser o comprimido. Então, a quantidade de droga sintética apreendida é pouca”, explica Ferrari.

Sobre a morte do jovem de 22 anos, supostamente provocada por LSD, o delegado é cauteloso. “A família nega a overdose, então, eu também não tenho como saber se é ou não, até que o IML ou o médico que atendeu ele liberem o laudo”, disse Vinicius Ferrari.

A reportagem do eassim.net procurou informações junto à assessoria da Perícia Oficial, que informou ter sido afogamento a causa da morte do rapaz. “O corpo deu entrada no IML. A causa principal da morte foi afogamento. O que ocasionou o afogamento só a investigação policial poderá afirmar”, respondeu a assessoria. A morte será investigada pelo 2º Distrito Policial.

Áudio relata momentos que antecederam morte do jovem que teria usado LSD

O caso do jovem supostamente morto por overdose de “doce” (LSD) pode ser o fio condutor que pode ajudar a polícia na investigação dessas quadrilhas. Para investigar se de fato foi overdose, a polícia dependerá de informações da família e dos amigos. O áudio que circulou em rede de whatsapp, momentos depois da morte, é claro em relação ao consumo de LSD. Veja a transcrição:

Notícia sobre morte de jovem se espalhou pelas redes sociais

“Eu estou aqui em Guaxuma. Eu liguei pra Brenda porque ela ia vir pra cá. Aí ela fez – véi não tem como eu ir agora porque o Bagre tá aqui muito doido. Aí eu, eita, o que foi que ele tomou? O Bagre sempre fica doido nas festas, né? Aniversário dele que ele tava comemorando lá no prédio dele. Aí ela fez -ele tomou um doce todo e tomou muito whisky. Aí tá aqui muito doido, muito bêbado, muito transtornado. (Tomou um doce inteiro. Geralmente a galera toma ¼, quem já é acostumado toma meio, ele tomou inteiro de uma vez.) Aí ela: mas quando ele melhorar aqui a gente vai aí pra Guaxuma. Nisso ela demorando e eu ligo de novo. Na verdade eu liguei para o Bruno. A galera lá no aniversário dele. Eu não fui porque eu tinha combinado já com uns amigos de ficar aqui em Guaxuma. Aí o Bruno: Véi o Bagre tá aqui dentro da piscina, tá aqui muito doido. Já bateu aqui no Luan, tá doido doido doido de doce. Tá vendo coisa e ninguém tá conseguindo tirar ele de dentro da piscina. (bêbado em piscina, bêbado em mar, dá merda, né?) Aí nisso ninguém conseguia tirar ele de dentro da piscina. A galera viu ele se aquietou na piscina tipo ficou apoiado lá na borda da piscina. Os meninos não iam entrar e não estavam conseguindo tirar. Ele estava muito agressivo, então, se afastaram dele. Aí, quando se afastaram, ficou conversando: véi o Bagre tá doido. Falando coisa. Aí ele se afogou. Engoliu água. Não ficou boiando. Se afogou. Quando viram, tiraram ele da piscina. Quando tiraram ele já estava roxo. A sorte é que tinha um hospital do lado da casa dele, aquele Vida. Levaram pra lá, arrastado. Era do lado mesmo, colado. Levaram pra lá, fizeram respiração boca boca lá na porta porque foram chamar o médico. Só que ele teve uma parada cardíaca já chegou no hospital roxo, desfalecido. Fizeram reanimação, ele voltou, mas parou de novo o coração e foi isso vei. Faleceu. A mãe dele e ligou aqui pra Brenda porque a Brenda tem que ir depor lá porque a Brenda já é de maior. Ele faleceu, ligaram pra gente avisando. A galera fala demais, aí se for contar a história conte a certa, né?”.

* Em quantidades médias causa alteração da percepção visual, alucinações e até pânico. Em maiores quantidades, podem levar o usuário a exaustão, tremores e vômito. Em longo prazo pode causar psicose.