24 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Opinião

Quando evidências não bastam: O que fazer com quem atrapalha durante a pandemia

As consequências para os que dificultam as ações contra o novo coronavírus não podem ser leves

Apesar de todas as evidências, como alguns sinais mais próximos não aconteceram para todos de forma geral, ainda há quem não leve a sério a gravidade do novo coronavírus.

Compreendo que há até alguns que devem estar irritados com o tanto que isso dominou nossa rotina diária e noticiários, ainda mais para aqueles que seguem negando as consequências e efeitos.

Afinal, nenhuma celebridade mundialmente famosa sucumbiu à doença. E mesmo com a infecção confirmada em Tom Hanks, o descrédito se mantem: o ator poderia ter perfeitamente mentido.

Se fazem isso com um borracheiro, “primo do porteiro”, que teve um pneu explodido em seu rosto e a causa da morte foi Covid-19, não importaria se um ator, jogador ou líder mundial tivesse seu óbito confirmado: ainda assim, seria mentira.

Tudo não passa de uma conspiração chinesa. Mesmo o gigante asiático tendo parado por quase três meses para conter o vírus e não conseguido voltar à normalidade, pois o mundo também demorou a agir e novos casos estão chegando por lá.

Ninguém se importa com uma gripe que mata só idoso hipertenso e diabético, sem histórico de atleta. É apenas uma gripezinha, dizem. Pura negação.

Negacionistas

A falta de empatia ou mesmo capacidade intelectual em conjecturar que não é preciso acontecer com uma pessoa próxima ou conhecida, para que algo se torne real, é algo frustrante em ter que lidar.

Enquanto médicos, cientistas e profissionais que se capacitaram durante anos oferecerem seu parecer técnico, eles acabam ignorados pelo velho empresário bilionário, o influenciador desbocado ou o Jair de Brasília. E tudo desmorona.

Há países com centenas de mortes diárias. Nos EUA, onde houve um completo relaxamento nas ações, ainda há estados sem restrições e até mesmo em Nova Iorque os voos acontecem normalmente, a própria Casa Branca estima que de 1,5 milhão a 2,2 milhões de pessoas morram. Só nos EUA.

Até Donald Trump, bufão que institucionalizou a fake news, teve que voltar atrás. O presidente dos EUA era um que negava a gravidade da situação. Hoje, o país é o epicentro da pandemia e pode ter uma escalada de mortes dramática.

Aqui no Brasil, Jair de Brasília ainda não chegou lá: segue negando a importância. Coube aos governadores e prefeitos a colocação do Estado de Emergência e a importância do isolamento social.

Isso pode ter ajudado a “achatar a curva”, retardar ou mesmo impedir o afogamento e colapso do sistema de saúde nacional. Afinal, o Covid-19 quando atinge, atinge forte. Debilita a respiração, exige tratamento com ventilação na UTI e nosso país possui um número limitado de leitos.

Até mesmo nossos profissionais de saúde estão caindo diante da luta. São centenas já infectados, precisando se afastar do trabalho. Muitos estão lutando pela própria vida.

Mas e a Economia?

As vezes dá vontade de gritar, dar um murro na mesa e mostrar a razão dos fatos: isso é grave, o mundo precisa reagir e milhões vão morrer se não for feito de forma diferente.

Infelizmente, é assim que se perde a razão. No deslize do grito, ganham os negadores e incapacitados intelectuais, os idiotas confiantes que se acham melhores e mais sapientes que os profissionais do ramo.

Tudo não passa de uma conspiração mundial esquerdista chinesa para impedir “manifestações de apoio” ao presidente.

As Olimpíadas, o Mundial de Formula 1, torneios de futebol em todo o mundo, cassinos de Las Vegas, produções cinematográficas e estreias de filmes, toda uma indústria bilionária de diversos eventos e países inteiros pararam, só pra atrapalhar a vida do presidente do Brasil e a economia nacional?

Qual cidadão, que não seja uma ameba, consegue manter um pensamento desses?

Que se dane a saúde, dizem, afinal brasileiro gosta, adora nadar na merda, e nada acontece. Aqui é quente. Depois da quebradeira no País, o que precisamos é crescer, dizem. Mas e a Economia?

Revoltante

Como médico, deve ser muito frustrante um líder da nação e outros formadores de opinião fazendo pouco caso de seus esforços. Gente que trabalha na linha de frente e está vendo a seriedade da situação.

Como jornalista, deve ser irritante você coletar a informação correta, o dado relevante, divulgá-lo e tudo para um iludido, corrompido ou irresponsável dizer que não acredita no que está acontecendo.

O que diabos aconteceria se o césio-137 acontece hoje? Teria gente disposta a lamber material radioativo para comprovar a gravidade da situação?

É preciso que [inserir nome de celebridade adorada aqui] morra e que um negador como Bolsonaro comprove que a causa da morte tenha sido mesmo pelo Covid-19? É preciso perder alguém mais próximo, como um pai ou filho?

De qualquer forma, depois que tudo isso passar, é preciso que o mundo, em especial que o brasileiro, se lembre muito bem dessa fase.

Que se lembre daqueles que tiveram outras prioridades, divulgaram mentiras e remédios não comprovados, que fizeram pouco caso dos mortos, pois ninguém liga para quem tem mais de 65 anos.

É preciso fazer uma reparação histórica: as consequências para os que dificultam as ações de uma pandemia não podem ser leves.

Assim como levamos a sério a gravidade da situação hoje, amanhã precisamos levar a sério as consequências impostas aos que fizeram de tudo para sabotar nossas vidas.