26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Esportes

Rafael Tenório: CSA não é um balão que sobe e desce; temos que pensar uma sulamericana

Empresário que levou CSA ao sucesso planeja o futuro nas empresas, no futebol e na política

Empresário de sucesso no Estado e fora dele, Rafael Tenório (RT), 64 anos, tem vários sonhos pela frente. Na vida empresarial, na condição de presidente do Centro Sportivo Alagoano (CSA) e até na nova empreitada que abraçou: a política. Em conversa exclusiva com a reportagem do eassim.net, ele abriu jogo sobre seus passos futuros no cenário alagoano.

Falou que está preparando a sua saída das 11 empresas que tem em Alagoas, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, para entregar o comando aos 4 filhos. “Todos estão se preparando”, diz. Quer em 5 anos colocar o CSA entre os 10 principais clubes de futebol do País e construir a “Arena do Azulão” com recursos próprios do clube. “Tudo que faço tem planejamento estratégico e metas. O CSA cumpriu suas metas”, disse, destacando que o CRB criou uma obsessão contra o time do Mutange e perdeu o foco.

Na seara política ainda não tem planejamento. Mas, quer ser útil ao Estado aproximando os empresários do governo para protegê-los da concorrência desleal, sobretudo para os que atuam na área do comércio. Também não se furtou em falar sobre a sucessão municipal em Maceió, quando seu nome começou a circular nos bastidores da política alagoana. Para ele, Maceió está abandonada, sem gestor e vive a síndrome da Gabriela.

Rafael: ‘case’ de sucesso

Veja agora íntegra da entrevista de Rafael Tenório:

 

eassim.net – Como é ser um empresário no Brasil com a cumulativa carga tributária?

RT – Eu diria que ser empresário no Brasil é uma missão muito árdua. A classe empresarial brasileira é tratada como delinquente. Eu te confesso que com 64 anos de idade hoje, eu não abriria mais nenhuma empresa, por que a carga tributária é muito alta. Não há incentivos e o setor produtivo no País é discriminado. Dizem, os empresários são os ricos e os pobres são os trabalhadores. Então, eu te confesso: hoje eu tenho 11 CNPJs, mas agora não tenho mais nenhuma aptidão para abrir outra empresa no Brasil.

eassim.net – Considerando os 11 CNPJs, quantos empregos diretos as suas empresas mantêm em Alagoas e no País?

RT – Aqui em Alagoas as nossas empresas mantém 1.250 funcionários. São empregos diretos. Fora daqui temos negócios em Mato Grosso e Minas Gerais e empregamos mais 900 funcionários.

eassim.net – Você revela um certo desencanto com o mundo empresarial, em função da carga tributária. O que te motiva então continuar operando como um grande empresário?

RT – Eu pago muito dinheiro de carga tributária. Eu te asseguro que são mais de 2 dígitos de milhão gastos com tributos. Mas, o que me motiva é que olho para trás e vejo hoje mais de 2 mil famílias dependendo das nossas atividades enquanto empresário. O que me motiva é o relacionamento das minhas empresas, há mais de três décadas, com grandes corporações, inclusive, multinacionais, assim como com os próprios funcionários. Então, isso é motivador. Mas, sabe, eu hoje já estou preparando meus sucessores para tocar os nossos negócios. Você sabe que aqui no Brasil e, principalmente, em Alagoas um jovem se forma e não tem oportunidade de emprego. Eu, portanto, estou preparando meus 4 filhos para assumirem os nossos negócios. Aliás, eles já estão preparados para dar continuidade as atividades das nossas empresas.

eassim.net – Todos estão atuando dentro da área de administração?

RT – Sempre estiveram por aqui. Dois já estão formados em administração. A Bárbara é formado em Direito, também, com especialização em tributos. O Diogo é formado em administração pela Universidade Federal e está nos Estados Unidos fazendo novos cursos preparatórios. Está lá há 5 meses se especializando na área de comércio. Uma outra filha é arquiteta, mas atua dentro das empresas e a mais nova, com 17 anos, que fez opção pela administração na Ufal e deve cursar a partir do próximo ano.

eassim.net – Significa dizer que Rafael Tenório vai colocar o pijama, ou há outros projetos em mente?

RT- Não. Eu tenho outra atividade que gosto muito que é o agronegócios. Gosto demais desse segmento e assim terei mais tempo para me dedicar ao setor, com o plantio de grãos e a pecuária. Dedicarei um dia para as empresas e os demais ficarei na atividade do agronegócios.

eassim.net – Qual é a sua expectativa com relação ao novo governo que assume a partir de janeiro os destinos do País?

RT – Olha na minha ótica o Brasil precisa de duas reformas urgentes. Uma reforma política e uma reforma tributária. É preciso criar um imposto único que aglutine todos os impostos e penduricalhos que afetam as empresas brasileiras. A legislação é muito complexa e até a interpretação do contador acaba resultando em multas para as empresas. Isso deixa todo mundo pisando em ovos e requer muito cuidado com tudo, além de permanente atualização com as leis que regem a carga tributária brasileira.

eassim.net – Mudando o foco, falemos dos feitos que tem marcado a sua trajetória empresarial, principalmente a experiência que você levou das empresas para dentro do Centro Sportivo Alagoano (CSA), cujo feito se transformou em um “case” de sucesso. Como você analisa essas conquistas?

RT – Olha, eu sou um cara que sempre fui determinado e trabalho muito com metas. Eu me recordo que, quando comecei a minha vida empresarial em 1981, tinha o sonho e estabeleci a meta de atingir US$ 1 milhão naquela época que a economia era dolarizada. O Brasil vivia uma inflação de 90 a 90% ao mês e as pessoas perdiam completamente a referência com a moeda do País. Então eu dolarizava os negócios: açúcar, leite, enfim, dentro do meu segmento tudo era dolarizado. Quando eu atingi a minha meta inicial eu comemorei muito sozinho. Depois disso foi muita luta para acrescentar mais alguns zeros e saí buscando mais. Mas, trabalhando 14 horas por dia como se estivesse namorando. Ou seja, com prazer. Sigo o slogan da Nestlé: ‘Amor pelo que faz’. No CSA foi assim. Estabeleci metas.

eassim.net – Você é um homem de muitos amigos?

RT – Não. Amigos, não. Eu tenho muito poucos. Acredito que devo ter aí 5 amigos verdadeiros. Não mais que isso. São velhos amigos a quem você pode dar o ombro. São amigos que vêm lá de trás. Quando você chega a uma determinada situação na vida tem que saber separar quem são os seus verdadeiros amigos e os amigos da ocasião.

eassim.net – Isso é uma lição de vida?

RT – Eu tiro isso como um aprendizado. Tem uma frase que diz assim: Quando você está em ascensão, em crescimento você faz amigos, mas os verdadeiros você só encontra quando está na adversidade. Eu sei bem que chega perto por respeito e quem chega para se aproveitar. Eu tenho uma percepção muito boa. Vejo, convivo, mas percebo que há relacionamentos que remetem ao gato com a onça e por isso é preciso muito cuidado e saber dar o pulo do gato. (Risos).

eassim.net – Como você identifica isso? O olhar já diz tudo?

RT – A experiência de vida leva a isso, os interesses… Eu tenho formação em gestão de pessoas e isso facilita muito. Eu observo sempre…

eassim.net – Você assumiu o CSA, traçou metas e o sucesso veio a partir daí. Caiu a ficha disso tudo ou nada importa, você já sabia… É isso?

RT – Para mim não foi nenhuma surpresa. Basta ver tudo que falei antes. Está em áudio, em vídeo. Quando assumi o CSA em junho de 2015, quando toda diretoria renunciou, o time tinha sido eliminado do campeonato alagoano, nem sequer foi para as semifinais, peguei um time falido, sem dinheiro para nada e eu dizia, em 7 de setembro de 2015, que o CSA em dois anos seria um “case” de sucesso no Brasil. Em 2016 nós conseguimos fomos vice-campeão alagoano e era a meta do momento, por que o CSA enfrentava o CRB, time de série B, e o CSA nada tinha só dívidas. A partir daí conquistamos o direito da série D, fomos vice campeão e ascendemos à série C. Em 2017, quando fizemos o planejamento estratégico eu dizia que iriamos disputar a final do alagoano com o CRB, iríamos a série C e subiríamos para a B e aconteceu. Fomos a série C e graças a Deus saímos campeões brasileiros, quando todo mundo achava que era impossível. Veio então 2018 e foi o ano da coração. Campeão alagoano e vice-campeão da série B, com a conquista do acesso a série A, elite do futebol brasileiro.

eassim.net – O roteiro de metas não falhou…

RT – Em 2018 das três metas estabelecidas nós conquistamos duas. A primeira foi ser campeão alagoano, a segunda o acesso a série A e a primeira era o título de campeão. Ficamos com o vice campeonato. Mas, saibam que já preparei o planejamento estratégico para 2019 e vou apresentar no começo do novo ano para o presidente do Conselho, Raimundo Tavares e a diretoria. Lá estão as metas que temos para 2019.

Rafael: trabalho com prazer

“O CSA não é um balão que sobe e desce.

Temos que pensar uma sul americana”

eassim.net – Você disse na mídia que o CSA ficará entre os 10 do futebol brasileiro…

RT – Vou dizer para você. O CSA não é um balão que sobe e desce. Não é nenhuma sanfona que vai e vem. O primeiro objetivo é a nossa permanência na série A. Depois tem mais dois e sonhar é possível. E não se paga para sonhar. Temos que pensar em uma sul americana e tocar e pra frente. Eu sou um cara que pensa muito alto e não tenho nenhum receio de dizer as coisas por que eu corro atrás. Vamos brigar pelo título da Copa do Nordeste e para ser bicampeão alagoano, sem se descuidar da Copa do Brasil. Dentro do que eu planejei, daqui a 5 anos o CSA estará entre os 10 maiores clubes brasileiros. Em organização, patrimônio. Agora mesmo acabo de liquidar o débito de IPTU do clube em 30 de agosto de 2019 liquido os passivos trabalhistas do CSA. Isso é compromisso assumido no Tribunal do Trabalho. O passivo quando assumi era mais de R$ 10 milhões.

eassim.net – Na relação que você tem com o conselho, torcedores e dirigentes houve algum momento que você pensou em largar tudo e dizer tomem conta?

RT – Como eu já tinha renunciado em 2008, agora eu tinha que agir com mão de ferro. E disso não abro mão. Embora discuta muito com o Raimundo Tavares – e a gente se dá muito bem – mas a decisão de trazer o gestor principal é minha. Foi assim com todos que passaram e com o Marcelo Cabo por que eu queria um profissional que não fosse só um coaching, mas um gestor de pessoas também. Ele é. Quando a torcida se rebelou com aquele monte de comentários eu bati forte e o resultado está aí. Já estamos recebendo pancada com muita gente dizendo que esse time não é série A, etc. E eu digo: nem começou a série A por que estão se preocupando agora? Então eu ignoro. Se for me preocupar não trabalho. Preciso tocar o projeto, mas bato de frente.

eassim.net – A tua paixão pelo CSA vem de quando? Você chegou a jogar no time?

RT – Ah, a minha paixão é de mais de 50 anos. Cheguei no Mutange com 9 anos de idade e joguei nas categorias de base e quando pronto para me profissionalizar, em 73, fiquei no dilema de trabalhar ou jogar futebol. Fui embora para São Paulo, inclusive para jogar lá. Mas, tive a felicidade de conhecer um pessoa que me levou para um teste em um banco e aí larguei o futebol para ser bancário na época.

eassim.net – Como será o CSA do futuro? O Mutange comporta os sonhos?

RT – Nós estamos repaginando o Mutange. Vamos dar uma melhorada. Mas eu tenho o sonho de construir a Arena do Azulão. Isso está encaminhado para a construção ser em Rio Largo. O prefeito Gilberto Gonçalves e na próxima semana eu vou olhar uma área e a Prefeitura poderá cedes para a construção da nossa Arena. A gente permanecendo na série A, após o terceiro ano eu começo a construir a Arena. A meta, nesse cenário, é começar a construir em 2021 com recursos próprios, sem pedir um centavo a banco, nem a ninguém. Dinheiro do CSA.

eassim.net – Nesse momento como você situaria o êxito do CSA nas competições e em ralação ao CRB?

RT – Não entendam isso como deboche. Mas, eu acho que o grande erro do CRB foi ter o CSA como seu principal alvo de destruição. O CRB focou demais no CSA. A gente percebia claramente que a intenção do rival era rebaixar o CSA no campeonato alagoano. Só que quando você foca num alvo para destruição, você cria obsessão e esquece do que precisa ser feito para você próprio. Acho que o CRB pecou nisso aí. Tanto é verdade que jamais eles imaginariam que nós saíssemos de série D. O CRB dominou todas as competições em Alagoas de 2010 para cá. Era para ter sido hexacampeão. Mas eles perderam o foco.

eassim.net – Quem faz o CSA de hoje com você?

RT – Raimundo Tavares, Fabiano Melo, Valmar Coelho, Hugo, Valmar Peixoto, Pedrinho Massaguerinha… Nós temos uma diretoria que se respeita. Sozinho eu não faria nada. Eu tenho uma equipe que se comunica bem e traz o CSA como primeiro plano. Não há vaidades nem interesses individuais acima do clube. Todos seguem o planejamento e cumprem metas.

Rafael e a “Sindrome da Gabriela”.

“Maceió está muito abandonada

e vive a Síndrome da Gabriela”

eassim.net – O feito no CSA trouxe o nome Rafael Tenório para o meio político de forma mais engajada. Há quem fale até em candidatura a prefeito de Maceió. Isso é uma possibilidade real?

RT – Pela minha experiência como empresário há mais de três décadas, eu sempre digo que se o empresário se envolvesse mais na política as coisas poderiam melhorar e se o político pensasse como empresário as coisas funcionariam com mais eficiência. Eu nunca disputei nenhum cargo, nunca fui candidato a nada na política, mas aceitei participar de um projeto com o senador Renan Calheiros (MDB) e com o governador Renan Filho (MDB) e estou muito satisfeito. Há amigos comentam que poderei disputar as eleições futuras, inclusive como candidato a prefeito, mas eu não discuto isso por que não é prioridade e nem posso tratar do dia de amanhã no campo político. Meu planejamento está nas empresas e no CSA. Tenho apenas a consciência de que há momentos em sua vida que você já não se pertence mais.

eassim.net – O momento que vive o País seria um fator motivador para você, enquanto empresário, se lançar na política?

RT – Você sabe que o Brasil vem vivendo ultimamente uma crise moral e ética, principalmente dentro da política, muito grande. O certo é que nós brasileiros, em grande parte, já estamos cansados da velha política. Precisamos renovar e isso é natural. Eu mesmo quantas vezes não disse que gostaria de um dia ser governado por um empresário? Quando Silvio Santos e Antônio Ermírio de Moraes ensaiaram candidaturas na década de 90 eu torci por elas. O pensar diferente nesse meio é arejar as ideias. Agora mesmo estou muito otimista em relação ao novo governo. Acredito que o Brasil tem tudo para melhorar e Alagoas também. O Renanzinho vem fazendo um governo de encher os olhos.

eassim.net – E Maceió hoje na sua opinião, qual a avaliação?

RT – Olha quando você pega gestores sem experiência… Vamos falar do atual gestor: não tem experiência, não tino administrativo e deixa muito a desejar. Eu diria que Maceió está muito abandonada. Temos uma orla marítima linda sem um banheiro público sequer, que é uma coisa simples de fazer. Falta visão. Vivemos na mesmice. É só arrecadar mais, fiscalizar e pagar os servidores. Não há metas nem objetivos. O governo municipal vive a Síndrome da Gabriela: eu nasci assim, eu cresci, vou morrer assim e vai ser sempre assim…

eassim.net – Qual o teu sonho hoje em relação a Alagoas?

RT – Olha como primeiro suplente de senador, a partir de 2019 quero ter uma aproximação com o governo Renan Filho, para encurtar a distância entre governo e empresários, atrair empresas para o Estado e promover a interação, de modo que possamos fortalecer o setor produtivo, blindando e protegendo os empresários locais, submetidos a concorrência desleal. Eu quero ser útil ao meu Estado.