25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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‘Síndrome da imunidade’: Você também pensa que não pega vírus?

Apesar do avanço dos números e das tragédias causadas pelo Coronavírus, tem muita gente baixando a guarda e levando o inimigo para dentro de casa

“Não vai acontecer comigo. Tenho fé em Deus!”. Por mais que se esclareçam os fatos e que se escancare a realidade dolorosa de tantas vidas perdidas – quase 150 mil mortos no mundo, nos últimos três meses, pelo Coronavírus  – há sempre alguém com essa frase na ponta da língua para tentar justificar a falta de cuidado e de engajamento no que precisa ser feito para conter o avanço dessa estatística mórbida.

Não sei por que carga de merecimento, muitos de nós temos uma tendência a nos julgarmos imunes aos males que assolam o mundo ao nosso redor; que aquilo não vai acontecer conosco. E é nesse vacilo que o perigo avança, vai rondando, encostando…  Foi assim no advento da AIDS, que se espalhou, décadas atrás, fazendo vítimas entre os que menosprezaram a necessidade de prevenção. Foi assim com outras pandemias que avançaram pelas brechas da imprudência e fizeram estragos, assim como está sendo com a Covid-19.

De repente, os casos que antes eram apenas números, em lugares remotos, passam a ter nomes e endereços conhecidos, revelando proximidade. O amigo de um parente, o vizinho de bairro, o dono da venda…

Ontem morreu um rapaz que até poucos dias atendia os fregueses em sua banca de carne, no mercado da Produção, no centro de Maceió. Quantos de vocês conhecíamos o Claudio? Quantos passaram por aquele espaço nos últimos dias, imprensados no fuzuê imprudente das compras da Semana Santa?!

Mercado da Produção, semana passada

A região do Mercado tem sido uma porta escancarada à circulação do vírus, devido ao número de pessoas no vai e vem das compras e vendas, e à grande quantidade de estabelecimentos de portas abertas – alguns, em desobediência ao bom senso e às regras estabelecidas em decreto. De uma maneira geral, as pessoas parecem mais afoitas em sair de casa, uns por necessidade, outros por fazer pouco caso da situação e até por deboche. Isso mesmo!

Enquanto as organizações de saúde reafirmam a reclusão social como a medida disponível no momento, para conter o avanço do vírus; enquanto muitos arriscam a vida para evitar as consequências que ele pode causar na nossa vida, no sistema de saúde e na economia, alguns transloucados que bem poderiam estar em casa, acreditam que podem sair por aí driblando o tal Covid-19 e trapaceando a sorte, colocando em risco todo um esquema de prevenção.

Burrice ou alienação, alimentada pela sensação de ‘bem estar’ de quem vai e volta da farmácia, do supermercado, da feira, do banco, sem a consciência firme de que o perigo mora lá fora, nas ruas calmas da cidade, por onde passam algumas pessoas, ainda sem máscaras – e sem medo. Juntem-se a isso, os tons das bravatas que vez por outra se elevam na voz de incautos governantes (e seus governados) gerando em muitos o malefício da dúvida: “Será que estou exagerando em ficar em casa?”.

Aí os cuidados começam a afrouxar, no indivíduo e no meio, estimulados pela quebra da isonomia. Estabelecimentos abrem, outros permanecem fechados; uns trabalham, outros não; uns ficam em casa, outros se aglomeram pra comprar peixe e ovos de páscoa; uns cumprem o isolamento, outros debocham, numa briga irracional de ideias que só fortalece o vírus e enfraquece a todos nós.

Já vi gente alegando que em Alagoas não se justifica o isolamento imposto por decreto, porque os números do Coronavírus “são baixos”. Não percebe que isso é efeito das medidas adotadas e que, se o isolamento sair do eixo, todo o esforço feito até agora terá sido em vão.

Precisa, sim, reforçar a vigilância em relação à circulação de pessoas; incentivar que as compras dos itens essenciais sejam feitas mais perto de casa, no mercadinho do bairro, na padaria da esquina, no carrinho de fruta, evitando esse vai e vem que tem gerado aglomeração nas feiras, nos supermercados, no transporte público. É preciso deixar a área livre para quem, inevitavelmente, tem que sair de casa para trabalhar.

Ficar em casa continua sendo a ordem universal. Quebrar a quarentena é dar asas à pandemia. Portanto, #Ficaemcasa! E se você tem fé – e eu tenho – vamos pedir a Deus por todos nós, mas lembre: é preciso cada um fazer a sua parte.