25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Alagoas

Visibilidade negra: Subindo a serra no processo de conscientização étnico-racial

Evento leva discussão para o meio da sociedade visando a impulsionar a escalada na luta pela promoção da igualdade racial

 

Emicida
Presença de Emicida – Foto Helciane Angélica

Na semana em que se celebra o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) vale destacar o sucesso e a importância de um evento que vem crescendo e se consolidando a cada ano, ocupando o lugar de maior destaque como espaço de debate, reflexão, conscientização e reafirmação do povo negro, na valorização da sua cultura e na luta pela verdadeira liberdade – que só se concretiza por meio de políticas públicas consistentes, capazes de promover, de fato e de direito, a igualdade racial.

Em sua terceira edição anual, o projeto ‘Vamos Subir a Serra’ demonstra que, muito mais que uma data para celebrar e evidenciar a valorização de um povo historicamente minimizado no contexto social, o Dia da Consciência Negra é apenas a culminância de toda uma reflexão que deve ocorrer persistentemente: todos os dias de todos os meses, de todos os anos. Até que a liberdade – foco de uma luta secular que antecede à saga de Zumbi dos Palmares, e que consagra nele seu maior símbolo de resistência – revele-se incontestável num universo de igualdade social; de valorização humana; de promoção da cidadania; de respeito aos credos e às manifestações culturais de um povo.

Que deve persistir até quando o povo negro não mais precisar de reserva de cotas de acesso ao ensino de qualidade e ao trabalho digno para ascender socialmente; nem prescindir de um dia no ano para celebrar a consciência sobre a sua existência enquanto raça, a sua valorização enquanto gente, e a riqueza de sua herança cultural; porque serão iguais todos os dias, em todas as oportunidades, em todas as escalas da estratificação social.

Consciência

Fotos de Bruno Reis

Realizado pelo Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, o projeto ‘Vamos Subir a Serra’ mostra que não basta uma programação segregada à população negra, e um dia apenas de celebração da ‘consciência negra’ na agenda de luta. Pelo contrário: se é para promover a consciência sobre as desigualdades que ainda afetam a população negra, e abrir a discussão sobre o que ainda é preciso fazer para consolidar a liberdade de uma raça, é preciso atrair para o debate toda a sociedade, em toda a sua pluralidade racial.

E nisso o ‘Vamos Subir a Serra’ tem sido primoroso, a partir da sua concepção, agregando no entorno de si, parcerias de instituições públicas federais, estaduais e municipais, autarquias, fundações, setores da iniciativa privada e organizações da sociedade civil, para oferecer uma programação diversificada e atrativa, com mais de 30 ações, entre palestras, shows, oficinas, empreendedorismo, todas evidenciando a temática étnico-racial de forma ampla e abrangente, para todos os públicos.

Durante uma semana inteira – iniciada na quinta-feira passada (14) e até o próximo dia 22 (sexta-feira) – a programação vai bem mais além da reflexão sobre a importância de Zumbi e do Quilombo dos Palmares no contexto histórico da luta pela liberdade do povo negro, saindo para uma abordagem múltipla de caráter educativo, cultural, político, afirmativo e gerador de renda.

Dividida em dois cenários – nos municípios de Maceió e União dos Palmares – a programação começou na Praça Multieventos (Pajuçara), transformada, desde a quinta-feira (14) até este domingo (17), no Espaço Cultural Zumbi dos Palmares, ambiente de reflexão e projeção dos amargores, das lutas e da resistência do povo negro; mas também um local de congraçamento, disseminação de ideias, compartilhamento de saberes e visibilidade da cultura afro-brasileira.

Teve samba, capoeira, batuque, afoxé, maracatu, coco de roda, desfile de moda e de estilos afros, e o Festival Quilombola, destinado à promoção e comercialização da culinária de origem africana no Brasil. Teve o Saurê Palmares, com a participação de 19 grupos culturais alagoanos, selecionados por meio de chamada pública, e teve também o 5º Encontro das Crescheadas, movimento de mulheres negras de Alagoas pensado e criado para defender a valorização dos cabelos crespos e cacheados.

Fotos de Helciane e Bruno Reis

Teve a Feira do Empreendedor Negro e Quilombola, com a participação de expositores de Maceió e de comunidades remanescentes de quilombos de Alagoas e de outros estados; e teve também o Seminário Quilombola e o Encontro de Saberes, com a participação de cinco comunidades quilombolas referênciadas em empreendedorismo.

União dos Palmares

Nesta terça-feira (19), a programação acontece em União dos Palmares; na Serra da Barriga, patrimônio histórico nacional, onde se estabeleceu a nação de Zumbi; o Quilombo dos Palmares, maior símbolo de resistência e luta pela liberdade do povo negro em todo o território nacional.

É a parte culminante da programação, com visita guiada ao Parque Memorial Quilombo dos Palmares, realização do Seminário Palmares in loco, e o evento “Tambor Falante: memórias da Humanidade”, considerado um importante momento de diálogos e trocas de saberes, além de diversas outras ações que movimentam, até o dia 20, as comemorações ao Dia da Consciência Negra, em União dos Palmares.

Nos dias 20, 21 e 22, o evento retorna para a capital alagoana, para a terceira etapa da programação, que acontecerá no Centro Cultural Arte Pajuçara, tendo como foco a Mostra Quilombo de Cinema Negro, fechando uma semana de programação.

Um verdadeiro passo a passo, ‘subindo a serra’ no processo de conscientização e visibilidade da população negra e sua luta por justiça e igualdade social, independente de raça ou etnia.

Então, vamos  subir a serra!

*Confira aqui a programação completa do evento.